A parceria entre a artista plástica Luciana Brito e o escritório Piratininga Arquitetos Associados resultou no restauro da antiga Residência Castor Delgado Perez – uma verdadeira obra de arte arquitetônica assinada em 1958 por Rino Levi. O projeto original da Galeria Luciana Brito foi feito em 2001 na rua Gomez de Carvalho. Lá, nós transformamos uma antiga oficina em um espaço para exposições. Em 2015, a Luciana decidiu se mudar e encontrou essa casa na Nove de Julho José Armênio de Brito CruzLocalizada na Avenida Nove de Julho, no bairro da Bela Vista, em São Paulo, a construção agora é palco para as exposições da Galeria Luciana Brito.
A história começou, na verdade, há alguns anos, quando a artista convidou o Piratininga para desenvolver o seu primeiro centro de exposições em um bairro próximo, na Vila Olímpia.
“O projeto original da Galeria Luciana Brito foi feito em 2001 na rua Gomez de Carvalho. Lá, nós transformamos uma antiga oficina em um espaço para exposições. Em 2015, a Luciana decidiu se mudar e encontrou essa casa na Nove de Julho”, revela o arquiteto José Armênio de Brito Cruz, responsável pelo restauro do projeto.
Mesmo com a reformulação, a galeria manteve sua essência, que é o contato do público com as obras de arte.
O processo de intervenção foi dividido em dois vetores. O primeiro foi o restauro do corpo da residência, tombado pelos órgãos CONPRESP (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico) e CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo). E o segundo foi do anexo, hoje um salão, que foi erguido onde havia uma edícula.
Foi feito um trabalho minucioso em alguns pontos para identificar os sistemas construtivos e para receber aprovação dos órgãos. Por exemplo, a antiga cobertura com amianto foi substituída por um telhado de vidrotil, mas no mesmo formato.
Segundo Brito Cruz, esse sistema do telhado foi o mais complexo. Na época, o artista plástico Francisco Rebolo foi o responsável pela paleta cromática do projeto. “Tivemos cuidado com o cromático do Rebolo. Por isso, procurei colocar todas essas intervenções em uma cor neutra, e o cinza foi escolhido justamente para essa valorização”, explica.
Resolvemos tirar o muro da residência, assim como as lanças e pontas. Retiramos tudo e recuperamos todo o jardim da frente. Ficou lindo! Acho que a casa foi novamente entregue à cidade como o Rino pensou na época José Armênio de Brito CruzNenhum pré-fabricado de concreto foi danificado, apenas consertado. O mesmo aconteceu com uma das soluções que Rino Levi usou no pátio de serviço, um tijolo de oito furos em posição horizontal que estava com os alvéolos de cerâmica quebrados, que foram refeitos apenas para reconstruir a forma original do tijolo, sem deteriorar os que estavam assentados.
Os ladrilhos hidráulicos foram feitos especialmente para a antiga residência. São de cimento com uma pintura de pó de mármore, moldados por uma forma metálica que permitiu o desenho da época.
Tanto na entrada da Galeria Luciana Brito quanto na área de exposições esses elementos vazados receberam a cor cinza. “Pesquisamos uma técnica para recuperar o contraste, que com o tempo havia sido perdido. Depois do processo é possível enxergar o desenho original”, comenta o arquiteto.
Ao fim, com o minucioso trabalho de restauro, o projeto foi totalmente aprovado pelos órgãos competentes.
Para o processo de intervenção do projeto de paisagismo, foram chamados os paisagistas Klara Kaiser e Koiti Mori, que trabalharam no escritório do arquiteto-paisagista Roberto Burle Marx por muito tempo, e fizeram a investigação de toda a sua autoria na antiga casa para identificar as espécies e desenhos utilizados na época.
Esse restauro foi guiado pela documentação original da residência, cortes e desenhos, encontrada na biblioteca da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo).
A nova execução paisagística foi realizada por Andre Paoliello com a consultoria de patrimônio de Silvio Oksman na parte de prospecção e de estratégia de recuperação. Todo o trabalho foi liderado pela própria Luciana Brito.
“Resolvemos tirar o muro da residência, assim como as lanças e pontas. Retiramos tudo e recuperamos todo o jardim da frente. Ficou lindo! Acho que a casa foi novamente entregue à cidade como o Rino pensou na época”, menciona Brito Cruz.
Já naquela época, Levi entendeu que a Avenida Nove de Julho era o eixo norte-sul da cidade de São Paulo, então, teria muito fluxo no futuro. Analisando, decidiu fechar a entrada da casa e abri-la para o norte, que é o fundo. Para resolver essa questão, ele interrompeu a estrutura com paios, os dois jardins oclusos, onde estão os antigos dormitórios, separados por um armário, que agora viabilizaram um pequeno acervo.
Todo o programa foi organizado para ser um espaço expositivo e servir de suporte para as obras de arte. Uma das salas de exposições está localizada em um dos dormitórios e o escritório da galeria está na área onde originalmente era o closet do casal. Até a antiga adega também se tornou um lugar para receber acervos.
Uma das circulações de entrada é feita pela esquerda e outra pela direita. O anexo também funciona com duas entradas e cria a possibilidade de uma movimentação do conjunto inteiro, transformando o que era o quintal em um terceiro pátio, também ocluso.
Esse pátio é de iluminação. Sua arquitetura mais neutra o transforma em um espaço funcional, que, com o pé-direito maior do que o restante do projeto, consegue receber obras maiores.
Por fim, a Galeria Luciana Brito não conta com ventilação mecânica ou ar-condicionado, as grandes aberturas e circulações permitem ambientes confortáveis e ventilados naturalmente.
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