Em meio às colinas irregulares da região de San Casciano Val di Pesa, Firenze, Itália, um desenho arquitetônico acompanha o relevo natural de forma amigável, sem criar impacto visual na exuberante paisagem toscana do Chianti. A Cantina Antinori, uma sutil construção – indústria de vinhos diferenciada dos habituais galpões ou prédios projetados para a mesma finalidade –, parece escondida no contexto.
Os Antinori pediram-nos que criássemos uma vinícola monumental, mas ao mesmo tempo discreta e integrada ao entorno Marco Casamonti“Os Antinori pediram-nos que criássemos uma vinícola monumental, mas ao mesmo tempo discreta e integrada ao entorno”, relembra Marco Casamonti, arquiteto e autor da obra em parceria com Laura Andreini, Giovanni Polazzi e Silvia Fabi, do escritório Archea Brasil. Com a diretriz, eles executaram um desenho sinuoso, tanto externa quanto internamente. O partido suave remete a dois cortes ondulados horizontais em forma de onda, que riscam a colina e criam duas fendas, nas quais estão localizadas as janelas e portas.
Dessas aberturas é possível admirar toda a paisagem, em frente e ao redor, de vinhedos, palácios, vegetação e montes. Marco explica que a ideia era interligar elementos como a terra, a história, o vinho e a família. “Respeitando e sabendo escutar o lugar, conseguimos fazer uma reinterpretação contemporânea. Afinal, este é o nosso modo de fazer arquitetura”.
A intervenção estrutural do projeto começou com a escavação de uma grande porção do terreno, que respeita o tempo necessário para o assentamento do mesmo. Após a realização das fundações, os arquitetos criaram uma estrutura de aço em forma de ondas, posteriormente revestida com cerâmica. Materiais locais e comuns como esse fazem parte da construção. Trata-se de uma preocupação recorrente dos autores. A cerâmica, por exemplo, foi produzida com a mesma terra da escavação e utilizada no revestimento da estrutura.
Concreto armado pigmentado com óxido de ferro, aço corten, terracota, cerâmica e madeira estão presentes na edificação. A escolha dos materiais remete, antes de tudo, à funcionalidade. O concreto pigmentado tem a missão de assemelhar-se à terra da região toscana, transmitindo a sensação de calor, uma vez que a temperatura da vinícola não é alta. Já o aço corten conquista pela praticidade e, ao contrário do concreto, dispensa manutenção periódica.
Respeitando e sabendo escutar o lugar, conseguimos fazer uma reinterpretação contemporânea. Afinal, este é o nosso modo de fazer arquitetura Marco CasamontiA cobertura verde do teto da Cantina Antinori confunde-se com as colinas, sendo que todo o teto da intervenção é composto por um vinhedo. Sem fachadas tradicionais, o que existem são grandes espelhos de vidro integradores e responsáveis pela relação direta e transparente entre o espaço interior e a natureza.
Seguindo os passos do projeto arquitetônico, o interior cultiva peças de design com formas limpas e cores que fazem referência ao vinhedo. “Valorizamos produtos de madeira, assim como aço corten e elementos iconográficos do mundo do vinho”, revela Marco Casamonti.
O projeto da Cantina Antinori conquista também pela forte característica de construção bioclimática. Pensada nos mínimos detalhes desde o primeiro traço, ela combina o melhor posicionamento da construção no terreno, a eficiência energética – com iluminação e climatização que aproveitam a gravidade e iluminação zenital –, à utilização de materiais locais, básicos e econômicos, à cobertura verde e ao reflorestamento. Todas são medidas que conduzem ao baixo impacto visual e ambiental.
Mesmo com a instalação e disponibilidade do sistema de climatização, sua utilização é desnecessária, por causa da localização na vinícola. Submersa na colina, o interior cultiva os 17ºC – temperatura natural e perfeita para a maturação dos vinhos. Mesmo enterrada, a cantina é favorecida pela luz natural, que entra pelas aberturas circulares do teto. A iluminação LED também é utilizada. De efeito suave, remete a um lugar sagrado e silencioso.
Com a intenção de minimizar os custos operacionais e de manutenção, foram implantados sistemas automáticos. São sensores de movimento para ativar a iluminação e outras tecnologias usadas em sistemas vinícolas, como a movimentação da uva por gravidade – o processo inicia-se do ponto mais alto, onde a fruta é descarregada, e atinge sucessivamente as outras fases da produção.
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