Texto: Naíza Ximenes
Em parceria com a construtora You, Inc, o escritório de arquitetura Perkins&Will projetou o complexo ARQ Vila Mariana, ocupando um terreno de esquina de 3.023 metros quadrados em São Paulo. Ao explorar conexões horizontais e verticais, os arquitetos idealizaram um prédio marcado pela integração e permeabilidade.
Composto por dois volumes, interligados por um térreo permeável que foi concebido para a circulação de pedestre, o complexo de uso misto de 130.144 metros quadrados foi projetado para maximizar a experiência do transeunte, aproveitando as fachadas ativas e proporcionando um percurso interno integrado ao passeio público.
Essa integração entre interior e exterior de uma obra é uma característica dos complexos de uso misto — também conhecidos como empreendimento ou projeto de uso diversificado. Trata-se de áreas e edificações que combinam diferentes usos, como residencial, comercial, e muitas vezes, espaços para entretenimento, escritórios e áreas de lazer. Essa abordagem visa criar comunidades mais integradas e sustentáveis, onde as pessoas podem viver, trabalhar e realizar atividades de lazer em um único local.
Um dos destaques do projeto, o térreo do ARQ Vila Mariana foi pensado como uma releitura contemporânea de uma praça pública. Equipado com fachadas ativas, bancos, canteiros e ampla ventilação natural, esse espaço oferece uma atmosfera agradável, além de servir como abrigo contra a chuva em grande parte de sua extensão. A área resguardada por esse térreo permeável contribui para a criação de uma praça mais acolhedora e funcional.
Ainda no andar térreo, o desnível acentuado do terreno ganhou destaque, devido à presença de uma escada e uma arquibancada que funcionam não apenas como passagem vertical, mas também como espaços de permanência, rodeados por canteiros verdes. Verticalmente, a edificação revela um recorte transversal no volume menor, criando um charmoso pátio interno conectado às escadas e à arquibancada.
“O edifício tem essa pretensão de dialogar com a cidade de diversas formas”, explica Douglas Tolaine, designer principal da Perkins&Will São Paulo. “Há o nível do pedestre, o nível do embasamento e o nível da torre — e cada um deles se relaciona com a cidade de uma forma diferente, tamanha multidisciplinaridade”, explica.
Tolaine ainda descreve o ARQ Vila Mariana como um empreendimento dinâmico e convidativo, agregando valor ao entorno. Segundo ele, a sensação de movimento é complementada pela fachada, que se adapta às diversas configurações das plantas, proporcionando um visual único em cada face do edifício. Esse dinamismo é estendido aos espaços de acesso residencial e aos mobiliários.
A organização dos usos no ARQ Vila Mariana é alcançada através da distribuição de diferentes tipologias residenciais, em uma torre que se divide em duas. Estúdios e apartamentos de um, dois e três dormitórios possuem acessos distintos, garantindo privacidade personalizada aos moradores.
Do térreo ao quinto pavimento, ficam as lajes não residenciais, com acesso independente. No topo desse bloco — ou seja, no quinto pavimento —, fica o rooftop de lazer para as residências, oferecendo vistas panorâmicas, áreas esportivas e piscina com raia. Nos pavimentos restantes, ficam as unidades residenciais de maior metragem.
“Nós temos os estúdios, de 70 a 90 metros quadrados, sendo que quase todos são baseados em 28 metros quadrados e quase quatro metros de pé direito. Nas esquinas do edifício, ficam as unidades de 90 metros quadrados, e, nos espaços centrais, ficam as unidades de 70 metros quadrados”, explica Tolaine.
O design dos pavimentos destaca-se pelas molduras retangulares em tons claros, que não apenas funcionam como divisórias entre as unidades, mas também criam ritmo e identidade. A inspiração para essa abordagem derivou da amarração de tijolos, buscando gerar um conjunto coeso, estável e dinâmico.
“Há uma divisória pra garantir que os acessos sejam independentes, e, acima disso, a gente tem o pavimento de lazer residencial, ou seja, o pavimento intermediário entre a torre do embasamento de estúdios e a torre residencial”, conta a arquiteta Gabriela Viotti. “Esse pavimento é bastante interessante porque a gente traz, de novo, essa releitura de praça aberta, que conversa com o vazio. O local ganhou uma arquibancada (que pode ser tanto de passagem, quanto um espaço de permanência), piscina, academia e o rooftop”, completa.
Localizado estrategicamente entre as ruas Afonso Celso e Jorge Tibiriçá, o ARQ Vila Mariana revela como a subtração cuidadosa de volumes construídos pode proporcionar diálogos cruzados entre diferentes elementos arquitetônicos.
“Eu acho muito interessante que a gente tomou partido de uma leitura simples e fácil de ser percebida por todos, que é uma amarração de tijolos”, diz Viotti, acerca do design. “Quando você bate o olho nesses tijolinhos das construções antigas, a primeira leitura é de uma amarração, algo que a gente trouxe para o projeto, apesar da nova abordagem. Além disso, esses tijolos não estão exatamente na mesma posição de cada apartamento, então, do lado de fora, não dá para ver onde começa e onde termina cada unidade”, complementa.
A arquiteta ainda afirma que a utilização dos brises metálicos com pintura marrom foi importante para proporcionar mais aquecimento e aconchego ao projeto. Segundo ela, ao mesmo tempo que garante a privacidade para o morador, integra visões internas e externas.
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