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Galeria Leme

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Um cubo de concreto armado totalmente fechado guarda a complexidade de uma construção aparentemente simples. Imagens: Leonardo Finotti
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Caixa de surpresas

Texto: Tais Mello

Vista de fora, a nova Galeria Leme, no bairro do Butantã, São Paulo (SP), é uma caixa totalmente cega, construída em concreto armado aparente, sem aberturas ou vista panorâmica. O projeto estrutural aparentemente simples esconde em seu interior uma galeria de arte com infraestrutura milimetricamente planejada. “Vista de fora, a edificação suprime grandes indagações, mas ao entrar revelam-se os planos inclinados, a distribuição da infraestrutura e do que é expositivo, e uma interessante luz natural que ilumina todo o interior. Trata-se de uma obra extremamente simples e ao mesmo tempo refinada, complexa, com mil sutilezas”, reflete Gustavo Cedroni, um dos sócios do escritório Metro Arquitetos, formado também por Anna Ferrari e Martin Corullon. “É preciso entrar para descobrir o que a construção tem, porque ela não se mostra”, complementa Gustavo.

Trata-se de uma obra extremamente simples e ao mesmo tempo refinada, complexa, com mil sutilezasGustavo Cedroni Projetada originalmente em 2004, pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha com a colaboração do Metro Arquitetura, a Galeria Leme localizava-se na Rua Agostinho Cantua, Butantã, São Paulo, há duas quadras do atual endereço. A mudança aconteceu a partir do rápido crescimento urbano da área e da negociação entre o proprietário da galeria, Eduardo Leme, e uma grande construtora, que comprou toda a quadra para edificar um empreendimento comercial. O local atual, além de ter 100 m² a mais, oferece maior flexibilidade à nova construção.

A nova galeria, praticamente idêntica à original, é uma releitura do projeto ímpar de Paulo Mendes da Rocha feito com a colaboração do Metro Arquitetos. “Optamos por fazer algo pouco usual: em vez de aumentar a área do edifício, criando uma construção diferente, reproduzimos a existente, adaptada ao terreno atual”, explica Martin Corullon. A razão? “Era preciso manter a identidade da antiga construção, já estabelecida como uma marca na região”, responde o arquiteto.

Processo construtivo

O concreto armado aparente foi usado em 90% da obra. “O restante é vidro, com exceção da escada em aspiral, uma pequena estrutura metálica”, informa Martin. Como no projeto original, para definir a edificação de 500 m² de área era preciso conciliar grandes alturas, áreas de parede e luz natural para um espaço voltado a abrigar exposições de arte contemporânea. A infraestrutura – circulação e serviços – foi concentrada em uma faixa lateral que serve à área de exposições e às duas salas administrativas, sobrepostas de forma a permitir o acesso de luz zenital aos ambientes.

Todos os planos que conformam os espaços – paredes, pisos, lajes e planos inclinados – têm geometria simples, com a mesma espessura: 15 cm. Anna Ferrari detalha que um dos motivos para a escolha do sistema construtivo de formas metálicas pré-fabricadas é a rapidez e eficiência. Para se ter uma ideia, a cortina de concreto armado exigiu cerca de três meses e meio de construção. “Infinitamente mais rápido do que o tradicional sistema de pilar, viga e alvenaria”, garante Martin.

Abreviar o tempo da obra era importante para que a mudança de uma galeria para a outra acontecesse sem a necessidade de fechar a instalação durante um período. “A conveniência gerou um efeito curioso: durante alguns meses, as duas galerias idênticas conviveram a dois quarteirões uma da outra, até a original ser demolida. Havia certo estranhamento, porque ambas são idênticas”, reflete Martin.


O cubo de concreto aparente impossibilita a visão do interiorImagem: Divulgação

Paredes flexíveis

Para uma galeria, o uso do concreto aparente é pouco usual, pois teoricamente a cada exposição é necessário perfurar a parede para pendurar os quadros da mostra seguinte. Nesse caso, a flexibilidade necessária à edificação foi dada por uma grelha de perfurações inerente à própria forma, por meio de parafusos passantes que conectam uma forma na outra. “Quando você tira os parafusos, as placas de concreto ficam furadas e, consequentemente, a parede também”, detalha Anna. “Apenas ajustamos a altura ideal dos furos, 80 cm distantes um do outro. Isso permite várias montagens, com a vantagem de não serem notados, uma vez que fazem parte do sistema construtivo, embutidos dentro das marcas das formas”, explica Martin.

O sistema revelou-se mais útil do que o tradicional, cuja parede amaciada branca exigiria manutenção a cada montagem de exposição. Já os furos fixos dispensam a manutenção, visto que as montagens são feitas usando as perfurações existentes nas paredes. “Outro diferencial do projeto é que esta é a única construção em São Paulo projetada do zero para ser uma galeria de arte”, revela Anna.

O anexo

O ganho de área foi usado na construção de um anexo, um cubo de 9 x 9 metros, que repete o Ao transitar pela estrutura, desdobra-se uma vista interessante do entornoMartin Corullon sistema construtivo em concreto armado aparente, para manter a mesma identidade do edifício original. Ele é conectado ao prédio principal por uma ponte também de concreto, com 9 metros, localizada no pavimento superior. Martin observa que, diferentemente das duas construções, a passarela tem a face transparente voltada para a rua. “Ao transitar pela estrutura, desdobra-se uma vista interessante do entorno”, reflete.

O andar superior é uma área de depósito para armazenar as obras do acervo e um complemento à galeria principal, pois organiza mostras de artistas que não estão expostas no edifício principal. A solução deu origem a um pátio externo que separa e une – ao mesmo tempo – as duas construções, sendo uma área muito usada pelos frequentadores da galeria.

Iluminação

Para iluminar o cubo de concreto, foi criada uma abertura amigável, um rasgo localizado no meio da galeria sem ferir a estrutura. “O efeito é o de uma luz – talvez dramática –, que não se sabe de onde vem, e é exatamente isso que acontece. A partir do rasgo fechado com vidro e película entra uma luz extremamente difusa que ilumina a galeria inteira de forma extremamente agradável e na medida certa”, descreve Gustavo Cedroni.

Escritório

  • Local: SP, Brasil
  • Início do projeto: 2010
  • Conclusão da obra: 2012
  • Área do terreno: 592 m²
  • Área construída: 555 m²

Ficha Técnica

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