Em meio às galerias e ambulantes da região central de São Paulo é possível enxergar uma imponente estrutura de vidro que envolve o Sesc 24 de Maio. Projetada pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha, em parceria com o escritório MMBB Arquitetos Associados, a nova unidade paulistana da rede está no coração cultural da cidade, junto ao Theatro Municipal, Praça das Artes, Galeria do Rock, Praça da República, Biblioteca Mário de Andrade e outros.
O que interessa mesmo na arquitetura é amparar a imprevisibilidade da vida. Eu vejo, por exemplo, uma criança pulando dentro da água de um lugar que não era para pular, mas tudo isso tem sua graça Paulo Mendes da RochaO novo centro cultural, esportivo e de convivência está localizado na esquina da rua 24 de Maio com a rua Dom José de Barros. Ao tomar conta de um edifício que ficou famoso nos anos 1970 por abrigar a loja de departamentos Mesbla, a instituição trouxe à tona a ideia de ocupação, ao invés de demolir algo de tamanha proporção e importância para a região.
“Ao longo da rua Dom José de Barros havia um pequeno prédio, vizinho da edificação, e então eu disse imediatamente ‘se vocês comprarem o terreno do lado nem precisa pensar em demolir, dá uma boa reforma’. Em três dias depois o Sesc me telefonou dizendo ‘já compramos’”, revela o arquiteto Paulo Mendes da Rocha.
Desde o início do projeto (2002 a 2008) até o começo e término das obras (2012 a 2017) foram 15 anos de espera para que o Sesc 24 de Maio abrisse suas portas e proporcionasse ao público um universo arquitetônico cheio de novas experiências, atividades e valores.
A estrutura do antigo estabelecimento não era recomendável para comportar o público, por isso foram realizadas algumas intervenções para melhoria e segurança. Porém, tinha como virtude inicial um vazio interno de 14 m² x 14 m², chamado de poço de ventilação ou de iluminação.
Quatro pilares de concreto atravessam esse vazio e se encaixam em cada vértice do quadrado, formando um grande apoio e integração a todos os andares do prédio – de forma intercalada – além de ampliar os pés-direitos e proporcionar conforto térmico adequado ao interior.
Os pilares percorrem desde o térreo até a cobertura, onde está a piscina. A menina dos olhos do Sesc 24 de Maio tem 500 m² e foi construída no topo do edifício principal, com vista panorâmica para a cidade.
Mendes da Rocha explica que a água da piscina é uma carga grande para qualquer edifício. Por isso, o volume foi apoiado nos quatros pilares a partir de uma estrutura forte e alta.
Além disso, foi criado um espelho d’água no andar debaixo da piscina, para que as pessoas possam se debruçar quando estiverem molhadas, sem que caia água na rua ou em quem transita pelo local. Apesar dos seus poucos 15 cm de água, as crianças o usam como piscina infantil.
Após uns 5 ou 6 anos eu vim saber que o Sesc costuma sugerir que o arquiteto desenhe alguns tipos de mobília, principalmente para o restaurante. E nós nos divertimos muito, porque eu inventei uma série de coisas Paulo Mendes da Rocha“O que interessa mesmo na arquitetura é amparar a imprevisibilidade da vida. Eu vejo, por exemplo, uma criança pulando dentro da água de um lugar que não era para pular, mas tudo isso tem sua graça”, menciona o arquiteto.
Piso arenito foi usado nas áreas molhadas para evitar que as pessoas escorreguem.
Para receber a estimativa do público diário de 5 mil pessoas, o Sesc 24 de Maio foi organizado em dois programas.
O prédio principal recebeu todos os espaços onde são realizadas as atividades recreativas disponibilizadas pela instituição – a começar pelo teatro, no antigo subsolo de garagem, que está logo na entrada do edifício.
Foi feito um rebaixamento da área da atual garagem no subsolo para completar o volume do teatro e seus anexos, respeitando cuidadosamente os limites de proximidade e área de influência das fundações existentes e das construções vizinhas. “A graça é que o teatro tem ligação direta com a rua, sendo servido por um café anexo”, menciona Mendes da Rocha.
A edificação principal abriga, ainda, espaços para convivência, comedoria, cafeteria, biblioteca, área de exposição, clínica odontológica – com 14 consultórios e salas de raio-X –, área para prática esportiva e atividades corporais, área de tecnologia e arte e solário.
O pequeno edifício da rua Dom José de Barros, anexo ao volume principal, ficou reservado para os espaços não recreativos, como o complexo auxiliar de serviços e máquinas – Torre de Serviços –, banheiros, depósitos, instalações para os funcionários e outros.
O sistema de circulação vertical atende às exigências de segurança previstas no Código de Obras através do conjunto de rampas que foi proposto para acessar todos os andares. Devido aos vidros que foram aplicados nas fachadas, o circuito ficou claro e contínuo, proporcionando ao visitante um lúdico passeio em contato com o exterior.
Descer da piscina até o térreo é como descer a rua Augusta Paulo Mendes da RochaEsse conjunto de rampas surgiu da intenção de fazer com que a pessoa tivesse a sensação de caminhar pelo centro de São Paulo, por isso ele percorre toda a extensão da estrutura. “Descer da piscina até o térreo é como descer a rua Augusta”, compara o arquiteto.
O revestimento em vidro nas fachadas foi o fator mais importante para despertar todas essas sensações. Quem está de fora não consegue enxergar as atividades que estão sendo executadas, pessoas caminhando pelos corredores ou se vestindo nos vestiários, mas quem está dentro se sente livre para ‘caminhar sem ser visto pela cidade’.
Depois de alguns anos de obra, Mendes da Rocha teve uma agradável surpresa. “Após uns 5 ou 6 anos eu vim saber que o Sesc costuma sugerir que o arquiteto desenhe alguns tipos de mobília, principalmente para o restaurante. E nós nos divertimos muito, porque eu inventei uma série de coisas”, revela.
O arquiteto desenhou artefatos, cadeiras, mesas e outros itens de mobiliário em chapa metálica. Esse material foi escolhido pela sua resistência, além de permitir o uso com formas exuberantes de coloração. “Com tudo isso nós fizemos uma coleção divertida de mobílias novas que o Sesc aprovou, usou e está aqui”, conclui.
Sesc Jundiaí, por Teuba Arquitetura e Urbanismo
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