Três volumes, um vazio e diferentes tipos de revestimentos marcam o projeto arquitetônico da Residência Guaicá. Desde a entrada da casa, localizada em Campinas (SP), cada um desses elementos se apresenta com muita personalidade, ao mesmo tempo que, juntos, dão unidade ao conjunto. Nessa amarração arquitetônica, pensada pelo escritório Padovani Arquitetos + Associados, a morada é uma metáfora das preferências do próprio morador, um admirador das artes plásticas. Assim, tal como uma imponente escultura, o projeto arquitetônico se exibe sobre o terreno.
Estávamos falando a mesma língua. A casa é resultado dessa sintonia entre nós e o morador Lucas PadovaniO arquiteto Lucas Padovani conta que a participação do cliente foi fundamental para o desenvolvimento do projeto da Residência Guaicá. Além das obras de arte, o proprietário aprecia o design e a própria arquitetura, o que resultou numa relação excepcionalmente produtiva entre as partes. “Estávamos falando a mesma língua. A casa é resultado dessa sintonia entre nós e o morador”, introduz.
Um dos principais desejos do cliente, portanto, era abrigar as obras de arte. Com 750 m², a residência segue um programa tradicional (térreo social e pavimento superior íntimo), que abraça as peças artísticas espalhadas por cada perímetro, principalmente no térreo.
É no térreo que se desenrolam as principas funções da morada, as quais seguem setorizadas em três blocos. No sentido longitudinal do terreno surgem dois deles: à direita encontra-se a ala de serviço, com garagem, cozinha e churrasqueira; à esquerda estão a suíte térrea, a sala de estar/TV e o escritório. Sob esses volumes acomoda-se um terceiro conjunto, onde fica a área mais íntima, preparada com mais quatro suítes.
Nessa intersecção entre os blocos se forma um vazio, que organiza toda a área social da residência. Ela se abre totalmente para a varanda e para a mata preservada, que se avista na parte posterior do sítio. Segundo Padovani, esse vazio está, aproximadamente, nove metros recuado da cota frontal do lote, e o trajeto até a entrada da casa é marcado por um leve aclive.
Toda a face frontal da residência é revestida por um grande pano de vidro, que cria perspectivas horizontais e verticais. À medida que o visitante se aproxima, a fachada revela uma longa escada metálica em balanço, porém, presa a uma estrutura de concreto armado bruto. Por sua vez, esse elemento – mantido aparente com as marcações da fôrma metálica – funciona como uma empena estrutural para ser utilizada nos dois lados. Além de ancorar a escada no lado externo, na sala de estar ela recebe algumas obras de arte, como os quadros.
Ao fundo do terreno, encontra-se a piscina que foi assentada numa cota mais alta, com a borda infinita pensada de maneira invertida. Em vez de se voltar para a paisagem, ela se faz no caminho contrário, de modo que quem está na sala de estar contempla um pano de fundo com a borda infinita da piscina.
De acordo com Padovani, os materiais empregados na Residência Guaicá indicam as funções de cada bloco. O volume da esquerda (área íntima), por exemplo, é marcado por um revestimento cimentício, enquanto no volume da direita (ala de serviço) a madeira de cumaru cria uma espécie de brise que esconde os carros da garagem e as janelas dos banheiros. “Pensando na estética da casa, colocamos as ripas no sentido vertical para quebrar um pouco a horizontalidade e dar equiílibrio ao conjunto”, complementa o arquiteto. Além disso, esse material também aparece nos painéis dos dormitórios, que se tornam uma grande varanda.
Por conta das esculturas e dos quadros dispostos na residência, foi necessário priorizar a questão da iluminação. Além de preservar as obras de arte, a luz – sobretudo natural –, deveria criar efeitos cênicos que pudessem valorizar as peças.
A opção do escritório foi trabalhar a técnica de luz e sombra a partir de diferentes tipos de vidro, que ora têm transparência total, ora são opacos. Com boa luminosidade, o vidro U-Glass, utilizado no projeto, é autoportante e também possui coeficientes termoacústicos satisfatórios. Por isso, o material reveste o piso superior, para dar privacidade aos dormitórios e dosar a entrada de luz.
Feita em concreto armado, a casa ainda recebe outros materiais, como a pintura sobre massa na parte externa e os diferentes revestimentos de piso. A madeira cobre o pavimento superior, enquanto toda a área térrea possui um piso frio – o mármore travertino. “Isso dá continuidade e amplitude à casa”, afirma.
Segundo Padovani, o próprio posicionamento da Residência Guaicá leva conforto térmico aos ambientes. “O fato de protegermos a fachada oeste do sol da tarde e abrirmos a face norte, protegendo-a um pouco da insolação da manhã, traz naturalmente esse desempenho”, explica, complementando que a alvenaria da casa, executada com tijolos de barro maciço, também contribui para o controle da temperatura.
Outro elemento estratégico é o pé-direito duplo, pelo qual o ar quente sobe e sai através de algumas aberturas posicionadas na parte superior. Para Padovani, isso cria um fluxo de circulação de ar contínuo.
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