Após vencer o concurso de arquitetura para a concepção e a reconstrução da creche de Guastalla – comuna italiana da região da Emília-Romanha, província de Reggio Emilia –, o escritório Mario Cucinella Architects projetou um espaço que se propõe a estimular a interação entre as crianças e facilitar o processo educativo.
Esse projeto é um bom exemplo para mostrar como a sustentabilidade de uma obra pode ir além da eficiência térmica ou energética. Ela também pode ser sustentável no âmbito social, com o envolvimento das pessoas na construção e no uso Michele OlivieriDe acordo com Michele Olivieri, um dos arquitetos responsáveis pelo projeto arquitetônico da Nursery in Guastalla, a obra prezou, devido ao baixo orçamento, pelo mínimo desperdício de material. “Isso foi bem trabalhado nos elementos da estrutura principal, que foram montados em fatias justamente para simplificar e desperdiçar o mínimo possível de madeira”, conta.
A Nursery in Guastalla, que acolhe cerca de 120 meninos e meninas entre 0 e 3 anos de idade, substitui duas escolas existentes que foram danificadas pelo terremoto que atingiu a Itália em maio de 2012. “Foi uma oportunidade de oferecer à cidade, após a destruição de tantos prédios públicos, um edifício de estrutura mais moderna. Como a comunidade viveu uma tragédia, queríamos que as pessoas se sentissem à vontade lá dentro. Por isso, nossa intenção foi criar um espaço que não parecesse um prédio, e sim um grande brinquedo. A forma do edifício mostra o quanto ele é diferente; é uma estrutura para brincar”, ressalta o arquiteto.
Os elementos arquitetônicos, como as divisórias interiores em forma de fatias ou camadas – inspiradas no interior da barriga da baleia, na famosa história de Pinóquio –, sua organização, a escolha de materiais, as sugestões táteis e todas as percepções sensoriais relacionadas à luz, às cores e aos sons foram concebidas com base em estudos pedagógicos e educativos do universo infantil.
A obra emprega materiais naturais, com baixo impacto ambiental. A estrutura de suporte é de madeira, um material considerado seguro e ideal para manter o isolamento térmico do edifício. “Nós pesquisamos e conversamos com a comunidade para entender como implementar a obra, de modo a atender às reais necessidades. Além da creche, eles também estavam precisando de um espaço público. A partir daí, implantamos uma espécie de jardim botânico no entorno, que conta com diversas espécies de plantas e flores”, explica.
As soluções de isolamento, a distribuição ideal de superfícies transparentes, a utilização de sistemas avançados de reuso de águas pluviais e a inserção de um sistema fotovoltaico no telhado permitiram que a construção minimizasse o uso de equipamentos mecânicos para atender às necessidades operacionais da escola.
As áreas de ligação entre as salas de aula e os laboratórios também foram projetados para proporcionar uma vivência de curiosidade e prazer: ao explorar esses espaços, as crianças encontram nichos e elementos transparentes que incentivam o lúdico. Assim, elas desenvolvem suas habilidades por meio da descoberta de lugares que são complexos e, ao mesmo tempo, familiares.
Além disso, as áreas internas articulam viagens sensoriais para fora do edifício, integrando as árvores existentes às estruturas protegidas para as atividades das crianças, dos professores e dos pais. “Esse projeto é um bom exemplo para mostrar como a sustentabilidade de uma obra pode ir além da eficiência térmica ou energética. Ela também pode ser sustentável no âmbito social, com o envolvimento das pessoas na construção e no uso”, complementa Olivieri.
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