Ao projetar o edifício residencial Huma Klabin, no bairro de Vila Mariana, em São Paulo, o escritório Una Arquitetos buscou estabelecer uma singela ligação com os empreendimentos ao redor e com o entorno. De acordo com o arquiteto Fernando Felippe Viégas, o prédio em concreto armado aparente construiu uma relação bastante sensível com a cidade, não só por sua materialidade, como também pelo respeito à topografia original e às construções vizinhas.Achamos que seria bonito ter um desenho que revelasse a identidade do edifício na cidade. Incorporando esses vazios na cobertura, o céu fica dentro deles Fernando Felippe Viégas
Altos edifícios rodeiam o Huma Klabin e formam frestas livres que proporcionam aos moradores contato visual com diversos ângulos, além de gerarem aeração e insolação adequadas aos apartamentos. Garantir a privacidade dos vizinhos foi outra preocupação dos arquitetos, que estudaram as distâncias mais apropriadas para o posicionamento do edifício no terreno.
Para conhecer todas essas frestas e usá-las a favor da construção, o escritório de arquitetura se baseou nas fotografias tiradas por um drone. A planta dos apartamentos, por exemplo, surgiu a partir dos caminhos visualizados entre as edificações, direcionando a visão para os espaços vazios. “Assim, se um vizinho de rua tem um grande recuo, o apartamento é aberto justamente para essa vista, que será garantida para sempre”, explica Viégas.
Com a intenção de relacionar gentilmente o projeto do Huma Klabin com o entorno, os arquitetos criaram um jardim público, com bancos e árvores, que ampliou a calçada da entrada. Essa medida ajudou a diluir os limites entre o terreno e a cidade, entre a área privada e a pública. A portaria foi incorporada no próprio volume do projeto, ampliando a calçada e colaborando com o espaço externo.
A declividade da rua permite um desdobramento de níveis. Em sua parte mais alta está o acesso ao hall de entrada e um dos níveis de garagem. À medida em que a avenida desce, encontra-se a entrada ao segundo pavimento do estacionamento.
Ao avançar pelo andar do pátio e do hall, encontram-se todas as áreas sociais, como o salão de festas, uma área de ginástica e uma lavanderia coletiva. Ao subir mais um nível, quase escalando o terreno, chega-se ao deck com a piscina. “E a partir daí nascem os apartamentos, que também têm uma relação muito forte e franca com a cidade”, comenta Viégas.
As duas torres que estruturam o projeto são conectadas por um espaço aberto, semelhante a uma varanda, que também é o local de espera do elevador. Esse hall permite ao morador um maior contato com o exterior, por mais alto que seja seu andar – dali ele consegue, por exemplo, saber como está o clima na rua.
“Achamos que seria bonito ter um desenho que revelasse a identidade do edifício na cidade. Incorporando esses vazios na cobertura, o céu fica dentro deles”, menciona Viégas.
Foi muito bacana fazer um edifício em que a própria construção de concreto armado fosse a sua expressão plástica Fernando Felippe ViégasUm dos volumes possui 12 andares, todos de apartamentos. O outro – que conforma a volumetria final – tem um nível a menos e está um pouco recuado em relação à rua.
O prédio não tem nem frente nem fundo. Cada uma das fachadas – abertas para os quatro cantos da cidade – têm formas e funções diferentes. Nas varandas, um pano de vidro do chão ao teto permite ventilação total com as portas abertas.
Cada andar possui cinco apartamentos. Quatro deles, com 44 m², contam com um quarto, uma sala, uma cozinha e um banheiro. O quinto, com 67 m², pode comportar mais um dormitório. Há também a possibilidade de juntar duas ou até três plantas de 44 m², ganhando um apartamento mais amplo.
De acordo com o arquiteto, a intenção do projeto do Huma Klabin foi revelar exatamente o seu sistema construtivo. "Foi muito bacana fazer um edifício em que a própria construção de concreto armado fosse a sua expressão plástica”, revela.
Uma placa seca de painel faz com que o ar fique enclausurado entre as paredes de concreto, gerando o controle termoacústico interno dos apartamentos. O teto foi tratado na concretagem para que os moradores tenham a opção de forrar da forma que desejarem. E os pisos receberam ladrilho hidráulico.
"Assinada pelo escritório Nitsche Arquitetos, a comunicação visual do prédio e das garagens tem um desenho superinteressante que revela a nossa tradição concretista paulista”, conclui Viégas.
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