O projeto arquitetônico do Natura Ecoparque Ver-a-Vida, desenvolvido pelo escritório Gesto Arquitetura, tem como elemento principal a ‘simbiose’. “Esse conceito foi aplicado desde a relação das indústrias que seriam instaladas nesse terreno. O resíduo de uma indústria seria a matéria-prima de outra, em uma relação de cumplicidade – com o objetivo da preservação ambiental”, conta a arquiteta Tânia Regina Parma.
Implantado em uma área de 172,8 hectares, no município de Benevides, na Região Metropolitana de Belém (PA), o projeto precisou adaptar-se a um terreno antropizado, com leve declividade e pequenos cursos d’água intermitentes. O parque, tido como área de preservação ambiental, desafiava os arquitetos a manterem o ecossistema local.
Os espaços propostos abrigam atividades compartilhadas, feitas para colaborar na dinâmica das relações sociais dos usuários. “Nos limites da área a regeneração da vegetação acelera devido à proximidade com as bordas das áreas vizinhas mais preservadas. Em contrapartida, as edificações concentram-se nas áreas centrais”, explica Tânia.
Ao longo dos circuitos são oferecidas atividades como restaurante, creche, posto de saúde, banco, correio, academia e biblioteca. São espaços de integração sociocultural que estabelecem, ao mesmo tempo, uma ordem na circulação e distribuição dos fluxos.
O resíduo de uma indústria seria a matéria-prima de outra, em uma relação de cumplicidade – com o objetivo da preservação ambiental Tânia Regina ParmaO ícone do ecoparque foi distribuído em pontos estratégicos de todo o lote. “Lá é muito sol, é muito quente, todo mundo quer ficar embaixo de uma árvore, então ele é o abrigo. Ao mesmo tempo é um lugar onde você capta água de chuva e vê a água passando por entre os pilares. Ele capta a energia solar com placas fotovoltaicas para transformá-la em iluminação”, conta Tânia.
O empreendimento também dispõe de um sistema de tratamento de efluentes natural em uma sequência de três lagos. São as lagoas filtrantes, dotadas de critérios e etapas específicas de purificação da água, deixando-a pronta para ser utilizada nas edificações.
Há, ainda, um sistema de mobilidade eficiente. Para chegar ao parque são utilizados meios de transporte comuns: ônibus, carros, motos ou helicópteros, mas dentro da área de estacionamento do Ecoparque há a necessidade de um sistema de mobilidade alternativo. “Por isso projetamos vias exclusivas para carros elétricos, pedestres e bicicletas”, explica o arquiteto Newton Massafumi Yamato.
As condições climáticas da região norte e o uso da energia natural foram considerados para o desenvolvimento das atividades industriais. Exemplo disso é a proteção térmica existente nas edificações. Newton revela que foram especificadas duas camadas de fechamentos verticais com ventilação natural entre elas. “Para proporcionar maior conforto climático e economia às áreas operacionais, ainda optamos por luminárias de alta eficiência”, complementa.
Outra solução que garante uma ambiência ainda mais fresca e confortável é o sistema de resfriamento do ar pelo processo de Geotermia. Os edifícios industriais também são projetados com paredes duplas e ventiladas, efeito ‘chaminé’, coberturas metálicas com proteção termoacústica e brises. Esses recursos resguardam a edificação da incidência direta dos raios solares, atuando em conjunto com o sistema de ventilação natural previsto. Os sheds são responsáveis pela circulação do ar interno e pela iluminação natural, transmitindo a sensação de conforto térmico e bem-estar aos usuários.
“Procuramos desenvolver minimamente o que se poderia chamar de 'desenho ambiental’”, reflete Tânia. Partindo disso, o design reflete um conjunto de fatores: desde os aspectos de sustentabilidade, a exemplo do uso de componentes industrializados escolhidos para minimizar processos construtivos no canteiro de obras e a redução de resíduos, até a utilização de recursos naturais.
Ao priorizar o conforto e a eficiência energética por meio da iluminação e ventilação natural, as edificações receberam aberturas para captar o ar de acordo com a direção predominante dos ventos e o posicionamento das construções. Na transição entre áreas internas e externas, as marquises protegem das intempéries. A cobertura autônoma recebe placas fotovoltaicas e energia solar, gerando energia elétrica própria, usada para a iluminação de determinadas áreas.
O teto também está preparado para recolher e reutilizar a água de chuva, a exemplo do que acontece nas coberturas dos edifícios industriais. A captação, armazenamento e reúso ocorrem em um reservatório de 600 mil litros.
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