A história da nova Sede da Localiza começou lá atrás. Em 2007, o escritório Gisele Borges Arquitetura foi convidado pelos sócios da locadora de veículos a desenvolver, incialmente, um programa de necessidades. Após um concurso realizado pela empresa, os arquitetos paulistas do Botti Rubin Arquitetos Associados também passaram a ser responsáveis pelo projeto arquitetônico. Dessa forma, tomaram a frente do Projeto Executivo, enquanto os colegas mineiros conduziram o gerenciamento dos projetos. O resultado dessa parceria refletiu num prisma de vidro entremeado por jardins e agraciado por uma ampla praça de convivência.
A Localiza estava espalhada por Belo Horizonte em sete edifícios diferentes. “Apesar de os prédios ficarem num raio de 100 metros, os colaboradores perdiam muito tempo caminhando pelo quarteirão até chegar à matriz, por exemplo”, conta Borges. Para proporcionar maior sinergia entre os funcionários, os proprietários decidiram mudar e concentrar todas atividades num único lugar: um terreno triangular de quase 30 mil m², no bairro Lagoinha.
O verde não foi pensado somente para atender a um parâmetro da legislação, mas sempre o consideramos como um dos pilares do empreendimento Gisele BorgesNaquela época, a Lei de Uso e Ocupação do Solo de BH seria alterada e o lote escolhido pela Localiza perderia coeficiente, então era preciso correr contra o tempo. “Isso implicava diretamente no desejo deles de abrir um concurso para a execução do projeto arquitetônico. Para garantir as propriedades do terreno, acordamos em realizar o Projeto Legal e, após a aprovação, retomaríamos a ideia concurso”, explica a arquiteta.
A partir daí a Localiza e a equipe de Gisele Borges começaram a visitar alguns escritórios de arquitetura, até selecionarem três para a disputa. Os vencedores foram os paulistas do Botti Rubin Arquitetos Associados, que possuem vasta experiência na área corporativa.
Ainda antes do concurso, definiu-se o que seria a principal demanda da Localiza: construir não apenas o edifício-sede (com amplo espaço para garagem), como também um pequeno hotel e duas lojas destinadas à venda e ao aluguel de veículos. Assim, o bairro Lagoinha (tipicamente unifamiliar e horizontalizado) ganharia um verdadeiro complexo empresarial.
No entanto, com o advento da Copa do Mundo no Brasil, em 2014, muitos estabelecimentos hoteleiros foram inaugurados na capital mineira, o que inviabilizou a apropriação da sede da Localiza para outros usos. “Ao retiramos isso do escopo inicial, vimos a necessidade de revisar esse trabalho e refazer o estudo de implantação junto com o time do Alberto Botti”, comenta Borges.
Manteve-se, assim, a alma do projeto: a construção de um edifício de 26 andares que teria acesso em nível através da Avenida Bernardo Vasconcelos; sem escadas, grades ou muros. Dois enormes espelhos d’água, posicionados às laterais do edifício, oferecem um “oxigênio” nessa transição entre espaço público e privado. Para a arquiteta, “eles refletem a real gentileza urbana do empreendimento”.
Duas características do terreno criaram dificuldades aos arquitetos. A primeira dizia respeito aos desníveis da gleba que ultrapassavam 30 metros; a segunda era em relação a uma exigência da prefeitura em preservar, pelo menos, 20% da área como uma área permeável.
Os autores foram mais longe. De acordo com Gisele Borges, “o verde não foi pensado somente para atender a um parâmetro da legislação, mas sempre o consideramos como um dos pilares do empreendimento”. Traduzindo isso em números, 60% da área livre do terreno da Localiza configurou-se como um grande parque, ou seja, 40% a mais em relação ao percentual determinado pela lei. São 18 mil m² de uma praça envolvida por uma vegetação diversificada feita de árvores do cerrado, além de outras espécies nativas e exóticas.
Um edifício-garagem teve papel primordial nisso. Segundo o arquiteto Alberto Botti, esse prédio complementar surgiu da impossibilidade de inserir o estacionamento no subsolo da edificação principal. Restava, então, colocá-lo na parte posterior da sede, onde existia um montante de terra íngreme.
Disposto em cinco andares, o prédio do estacionamento ofereceu sua cobertura ao edifício-sede, conformando um terraço de convivência a céu aberto. Essa área, que possui 3,5 mil m², promove um espaço de respiro e reuniões informais, favorável à integração e conexão entre os colaboradores. “É um espaço completamente aberto, com pequenas coberturas que dão sombra”, afirma Borges, referindo-se, sobretudo, ao pergolado da lanchonete.
Para Alberto Botti, não bastava apenas explorar a área verde do terreno; era necessário levá-la para dentro do prédio. Ao recuar três andares do edifício-sede, o arquiteto criou anéis simbólicos que funcionam como terraços-jardins rodeados pela vegetação. “As pessoas que estão por ali participam diretamente desse cenário vivo”, ressalta.
Os sócios da Localiza se reuniram com seus colaboradores para saber o que eles desejavam nesta nova sede. Esmalteria, academia de ginástica, heliponto... Mas outro pedido foi quase unânime: iluminação natural. Nos antigos escritórios, “não sabíamos se era dia ou noite; se fazia chuva ou sol”, queixaram-se.
As pessoas que estão por ali participam diretamente desse cenário vivo Alberto BottiPara banhar o edifício principal com muita luz natural, os arquitetos optaram por revestir as fachadas de um vidro especial. Mais que conforto termoacústico, começaram a discutir a questão estética baseada na cor desse material. “Optamos pelo verde, pois ele está presente nas cores e no DNA da Localiza. Com ele, conseguimos certa transparência, reflexão e espelhamento, mas nada exagerado”, aponta Borges.
À medida que o sol chega às amplas janelas, persianas “inteligentes” são acionadas automaticamente através de um sistema que segue interligado aos aparelhos de ar-condicionado e à iluminação artificial. “Essa solução otimiza o consumo energético da edificação”, enfatiza a arquiteta.
O projeto de interiores e os acabamentos finos da nova sede da Localiza foram concebidos pelo escritório Morence Arquitetura + Design. “Nosso trabalho foi feito para andar junto com o desenvolvimento da nova marca, fortalecendo a imagem corporativa da empresa a partir de conceitos como liberdade, conforto e tecnologia”, salienta o arquiteto João Carlos Moreira Filho.
O pavimento-tipo apresenta um layout open space, reforçando os ideais flexíveis da locadora de veículos. O destaque dos ambientes internos fica por conta, novamente, da cor verde que realça o mobiliário e, sobretudo, o carpete.
“Escolhemos esse matiz não apenas para fazer uma referência à Localiza, mas também porque queríamos levar um pouco dos elementos da natureza para dentro do prédio. Até por isso, o contorno de algumas cadeiras assemelha-se às folhas de árvores e o tracejado do piso lembra um gramado”, descreve Moreira Filho.
De acordo com o arquiteto, além do carpete, outros elementos inusitados contribuem ainda para a acústica do projeto, como os gaveteiros com pequenos orifícios que absorvem o som.
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