Um bosque com mata nativa ao fundo do terreno foi o que primeiro chamou a atenção dos proprietários da Casa Thomé Beira da Silva, situada em Curitiba (PR). Eles desejavam uma residência integrada com a natureza, que se estendesse para os jardins e que conseguisse abolir os limites entre interior e exterior.
O arquiteto escolhido para idealizar o projeto foi Marcos Bertoldi. “Desde o primeiro momento havia uma preferência por esse lote, por ser quadrado e plano e por apresentar uma mata nativa aos fundos. Uma parte é do próprio terreno e outra parte é de vizinhos, e isso era muito favorável para o que pretendíamos instalar”, recorda o profissional.
Com uma linguagem contemporânea, a casa também se destaca pelos muxarabis em zigue-zague da fachada, que criam interiores cheios de luz. A trama fechada de cestaria japonesa foi apresentada pelos clientes, e a ela foram acrescentados os vazios e as frestas. “O resultado é um incessante jogo de luz e sombra que se projeta em imagens variadas nos espaços internos ao longo do dia e das estações do ano, sobre todas as paredes, pisos e elementos do projeto”, descreve Bertoldi.
Segundo ele, a iluminação natural, cuidadosamente controlada e elaborada, faz desta residência um experimento sob a luz. “A noite a iluminação se inverte, transformando a casa numa grande luminária, tramando luz e madeira”, acrescenta.
O resultado é um incessante jogo de luz e sombra que se projeta em imagens variadas nos espaços internos ao longo do dia e das estações do ano, sobre todas as paredes, pisos e elementos do projeto Marcos Bertoldi
Com 1800 m2 de área total, o terreno, localizado em um condomínio fechado, apresenta-se como um grande plateau com pouco caimento na sua parte não vegetada, o que permitiu organizar a casa da rua aos fundos em um amplo plano contínuo, sem um único degrau, tal como queriam os moradores.
As laterais do terreno foram escavadas para instalar, no subsolo, a garagem e as áreas secundárias da residência. Com isso, o térreo ficou totalmente liberado para as áreas nobres e inteiramente comunicável.
Dois muros de pedra moledo configuram os subsolos e fazem um contraponto à leveza da caixa aérea em madeira e vidro, que parece flutuar.
A fachada frontal está voltada para o leste e a fachada da piscina para oeste, o que garante à residência um giro solar adequado ao cumprimento de outras demandas plásticas e funcionais pretendidas pelo projeto.
Em cidades de baixas temperaturas como Curitiba – considerada a capital mais fria do Brasil –, a entrada de sol é sempre uma preocupação arquitetônica. O grande desafio neste projeto foi conciliar esta questão com um pedido dos proprietários: a criação de um extenso beiral, cuja função seria ampliar os espaços de vivência do lado externo das salas.
O problema é que esse elemento poderia causar uma barreira para a entrada de luz e sol, escurecendo os ambientes e impedindo a insolação adequada dos espaços.
“Conseguimos contornar essa dificuldade do projeto quando trouxemos os beirais para o primeiro anda da casa, ou seja, para a primeira laje (e não para a cobertura, como é de costume), criando uma marquise”, explica Bertoldi. A solução em pé-direito duplo admitiu a entrada de luz e insolação ao longo de todo o dia pelas aberturas superiores à marquise. “Sem falar na riqueza que o muxarabi acrescenta, porque a luz vem filtrada e em movimento o tempo todo”, acrescenta.
De acordo com o arquiteto Marcos Bertoldi, a escada é um ponto importante na construção e no pensamento da casa. “Ela é um elemento central na composição, é perspectiva para todos os principais espaços, a partir do seu acesso, das salas principais e da própria circulação superior”, diz.
A madeira que reveste a escada e que está presente nos tetos e em painéis tem a função de trazer aconchego e conforto, contrabalanceando com o piso frio, em mármore travertino.
Este piso, por sua vez, avança para os ambientes externos e reveste a piscina como um todo, criando um prolongamento das salas de estar da casa. “A piscina é uma espécie de sala alagada”, comenta o arquiteto.
De estrutura convencional no subsolo, a casa se eleva para os dois pavimentos superiores em estrutura metálica, com cobertura leve composta por camadas isolantes e impermeabilização totalizando aproximadamente 7 cm de espessura. “É a primeira obra com essas dimensões, infraestrutura complexa e tecnologia, em estrutura metálica, para uso residencial em Curitiba, tendo se constituído num grande desafio para a arquitetura, a engenharia e a construção”, relata Bertoldi.
As modernas esquadrias também merecem destaque. Toda a caixilharia é embutida nas paredes, pisos e forros, num grande esforço projetual e construtivo. Os grandes painéis estruturados pelo próprio vidro, e não pela caixilharia metálica, como de costume, surgem com total transparência e possibilitam a abertura de grandes vãos. Os vidros laminados e compostos em diferentes espessuras, complementados por vedações de última geração, garantem um perfeito isolamento térmico e acústico compatível com as exigências de códigos europeus.
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