O volume da residência ganha forma a partir da soma dos espaços construídos e dos vazios gerados entre eles. Ora abertos, ora fechados, eles oferecem belos visuais e dão permeabilidade ao partido Marcos Bertoldi
À beira mar, uma família de quatro pessoas desfruta de uma casa de praia incomum. Sua estrutura extrapola o interior e, aparente, se sobressai no conjunto logo na fachada principal. Como se fosse um exoesqueleto, a estrutura modulada de concreto aparente comanda o design e organiza os espaços cheios e vazios, gerando a volumetria do projeto.
“O volume da residência ganha forma a partir da soma dos espaços construídos e dos vazios gerados entre eles. Ora abertos, ora fechados, eles oferecem belos visuais e dão permeabilidade ao partido. O revestimento da fachada – uma pedra arenito na cor vermelha, um material durável, de efeito natural e facilmente encontrado na região – integra-se à paisagem facilmente”, explica o arquiteto Marcos Bertoldi.
A casa está localizada no Balneário Atami, no Pontal do Paraná, em Curitiba. Trata-se de uma pequena faixa que percorre, aproximadamente, dois quilômetros de praia tranquila, ainda inexplorada pelo turismo, há cerca de 100 quilômetros de Curitiba. A construção está implantada em uma planície e incorpora naturalmente o espírito do lugar, tomado pela imensidão da natureza, comandada pelo Oceano Atlântico. O balneário existe há cerca de trinta anos e costumava atrair surfistas e estrangeiros, entre outros públicos. O principal atrativo do local é a proximidade da ilha do Mel, um conhecido paraíso ecológico.
No início do balneário havia várias residências, que foram vendidas aos poucos. Por isso, o convite para projetar a Casa Atami pegou o arquiteto de surpresa. Destacado no terreno, o desenho incomum e puro, meio partido e meio moradia, adquire ainda mais relevância no projeto de Bertoldi.
O programa desenvolve-se em três pavimentos, onde a maior parte dos ambientes – sala de jantar, cozinha, quartos, banheiros e área de serviço – concentra-se linearmente, tomando metade da estrutura. Esse layout destaca a sala de estar, que é o espaço principal de convívio da família. Com pé-direito duplo, o living impõe-se por ser o único elemento edificado na porção mais próxima da rua. Consequentemente possui uma integração quase total com a via pública e com os espaços abertos da estrutura.
A grade de concreto é ocupada pelo programa apenas parcialmente. Esta malha destaca-se sobre o lote, sendo constituída por três linhas de pilares e vigas, normalmente responsáveis por suportar o peso da residência, dando estabilidade à edificação. Na obra, a laje distribui a carga suportada por toda a sua extensão, transfere para as vigas e estas, imediatamente, repassam para os pilares e fundações. Aqui, as lajes, vigas e pilares, com seção de 22 x 22 cm, ganham a função estética ao imprimir uma forma diferenciada ao desenho, dando personalidade à casa.
No interior, as aberturas funcionam com grandes molduras da natureza circundante. Elas levam o olhar para a paisagem enquadrada pela própria estrutura de concreto original. “É nesse momento que as visuais complementam os vazios e transformam-se em arquitetura. Uma transição permanente entre presença e ausência, repetida por todo o projeto”, explica Marcos.
Na área exterior, um jardim vertical chama a atenção e encontra-se totalmente interligado à estrutura. A vegetação utilizada cria sombreamento, protege a parede das intempéries, evita a incidência direta da luz solar e da chuva, atuando como um escudo contra calor e frio. O benefício disso é um sistema de refrigeração natural que, dependendo da estação, evita o acúmulo ou perda de calor.
Outra vantagem dessa parede é a valorização estética da casa, que mostra-se ainda mais integrada ao entorno, cuja vegetação no terreno está organizada em blocos. Para favorecer o sombreamento, toldos tensionados deixam as áreas próximas ao deck externo, à piscina e à garagem mais agradáveis termicamente. Eles foram instalados diagonalmente na armação de concreto e complementam a paisagem de forma poética: “Materializam a presença do vento e enfatizam a necessidade da relação entre natureza e arquitetura”, finaliza Bertoldi.
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