O Centro de Engenharia do Google em Belo Horizonte (MG) ganhou uma casa nova. Totalmente revitalizada e ampliada, a nova sede traz referências que aliam os conceitos da despojada empresa global à tradição cultural da região. O espaço é dedicado à pesquisa, desenvolvimento e controle estatístico das buscas dos usuários. Quem assina a reforma do projeto de interiores é um time de peso da arquitetura mineira: BCMF Arquitetos e MACh Arquitetos. Juntos, os profissionais integraram pontos importantes de design gráfico e iluminação, ao explorarem e fundirem as duas linguagens distintas de forma sutil e sofisticada.
A sede foi concebida numa área de 5.000 m², divididos em quatro andares, dentro do complexo de uso misto Boulevard Corporate Tower, com projeto arquitetônico assinado por aflalo/gasperini arquitetos, no boêmio bairro de Santa Efigênia.
A história começou, na verdade, em 2005, quando BH foi escolhida para receber o primeiro escritório do Google no Brasil. Com o passar dos anos, a região se tornou um polo tecnológico e ganhou o nome de São Pedro Valley, uma alusão ao famoso Vale do Silício (EUA), que concentra as maiores e mais importantes empresas de tecnologia do mundo. Hoje, a capital mineira é tida como referência e reúne um conjunto de 200 startups que atuam na região metropolitana, principalmente no bairro de São Pedro.
De acordo com o diretor de engenharia do grupo na América Latina, Berthier Ribeiro-Neto, a construção da sede do Centro de Engenharia do Google na cidade reafirma o compromisso da organização com o país. Além disso, com a ampliação do escritório, foi possível duplicar a quantidade de colaboradores – de 100 para 200 engenheiros.
Durante a projeção, os arquitetos se deparam com algumas dificuldades, visto o alto grau de exigência por qualidade e excelência estabelecido pela empresa global. Segundo o arquiteto Marcelo Fontes (BCMF Arquitetos), esses desafios foram encarados pela equipe como forma de oportunidade de aprendizado, desenvolvimento e inovação para desempenhar um ótimo trabalho.
“Transpor eventuais dificuldades inerentes a este tipo de projeto foi possível graças à capacidade de articulação do cliente e dos times do Google com os escritórios de arquitetura e as diversas empresas responsáveis pelas disciplinas de design, engenharia, paisagismo e demais consultorias especializadas”, revela o profissional.
Os quatro pavimentos que receberam o centro de engenharia estavam com as instalações cruas antes das obras. A organização do programa partiu do princípio que as áreas comuns ocupariam praticamente o mesmo espaço dos staffs. Além de servir para o descanso dos colaboradores e visitantes, o espaço de lazer também pode ser usado para trabalhar, fazendo com que todos os ambientes estejam constantemente conectados.
Um espaço vertical abriga a escada exclusiva de integração entre os andares, que é um elemento de síntese do conceito de temperatura (de cor) aplicado à identidade visual do projeto. Cobrindo as quatro paredes que a envelopam, há o grafismo inspirado num termômetro que representa a gradação de tons frios e quente, associados às diferentes tipologias dos espaços da sede.
A materialidade escolhida para as áreas de trabalho se refere ao domínio virtual, predominando a transparência dos vidros, as telas de privacidade e as superfícies lisas, com o objetivo de tornar o espaço o mais imersivo possível. Já nos setores comuns, os materiais foram associados à cultura e à paisagem de Minas Gerais, como materiais táteis, texturas, tons terrosos, trançados e malhas. “A paleta de cores e as soluções de iluminação também foram escolhidas para reforçar o conceito binário. Tons de azul, considerados frios, são predominantes nos staffs, enquanto vermelhos, que são quentes, dominam as áreas comuns”, conta a arquiteta Mariza Machado Coelho (MACh Arquitetos).
A responsável pelo design gráfico do Centro de Engenharia do Google, a profissional Mariana Hardy (Hardy Design), explica que escolheu padrões gráficos nas superfícies de vidro das salas de reunião, e que foram projetados para atender tanto aos requisitos de transparência quanto os de privacidade.
“Dados climáticos reais foram coletados para gerar, através de design paramétrico, em colaboração com a SUBdv, uma camada de infográficos ampliados, com resultados estéticos inesperados. Os dados relacionados a umidade/precipitação e ventos são de Belo Horizonte, enquanto os de pressão são globais, gerando diferentes ‘nuvens’ em cada andar”, revela.
O café-restaurante é um espaço crucial na cultura do Google, e a forte referência à gastronomia e artes de Minas Gerais foi o ponto de partida. O artista mineiro Máximo Soalheiro – importante referência na arte contemporânea brasileira – ficou responsável pela instalação “Temperos Minerais”.
Foram enfileirados nas estantes do espaço 2.116 potes que englobam todo o espectro de minerais encontrados no estado. “Combinados em diferentes ‘receitas’, eles resultam em 200 tons de uma paleta de cores extraordinariamente local e autoral, montada como uma grande tabela periódica contendo os elementos da paisagem em volta”, conta o arquiteto Fernando Maculan (Mach Arquitetos).
O projeto teve como premissa o conforto individual e coletivo dos funcionários e economia de energia, tendo sido adotadas diversas soluções de tecnologia para atender a esses requisitos, entre eles a utilização de sensores de presença e de luz natural para controle de intensidade de luz, e controle de temperatura por setor.
O design de iluminação, assinado por Atiaia Design e LD Studio, teve o papel de comunicar valores da empresa, assim como evidenciar as qualidades do espaço produzido, contribuindo para a criação de significados e impressões através das experiências visuais de seus colaborares e visitantes. “Para comunicar os conceitos do projeto, muitas vezes a iluminação assumiu um papel gráfico, mais literal, ora desenhando grid, dots, tramas, linhas, ora evidenciando contrastes: quente-frio; digital-analógico e pontual-difuso”, explica a lighting designer Mariana Novaes (Atiaia Design).
O projeto de paisagismo do Centro de Engenharia do Google utiliza espécies dos campos rupestres e foi elaborado pelo biólogo Luiz Gluck, que trabalha num pioneiro e complexo processo tecnológico. As plantas do cerrado, muito encontradas em campos rupestres, foram clonadas e cultivadas in vitro, para então serem instaladas no ambiente do escritório. Por serem sensíveis a mínimas variações da qualidade do ar, são capazes de indicá-las. “A reprodução das espécies locais também é uma iniciativa inovadora no contexto social, envolvendo centenas de famílias anteriormente dedicadas ao extrativismo na cadeia do Espinhaço”, conclui o arquiteto Bruno Campos (BCMF Arquitetos).
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