Em um bairro tradicional e densamente arborizado de Caxias do Sul (RS), a Casa Fortunata foi sutilmente implantada ao redor de uma enorme Araucaria angustifólia (árvore conhecida como pinheiro brasileiro ou simplesmente araucária). Com projeto de Luciano Lerner Basso, a construção é um dos 20 projetos indicados pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) para representar o país na 3ª edição do prêmio Oscar Niemeyer. A residência também já foi premiada no 8º Prêmio Saint-Gobain de Arquitetura; recebeu o título Casa do Ano na premiação do IAB-RS (2021); e Menção Honrosa no IV International Golden Trezzini Awards.
A mínima intervenção na vegetação e na topografia é um dos seus principais diferenciais. De acordo com Basso, a vegetação nativa foi preservada praticamente em sua totalidade. “Se fosse possível um enorme guindaste içar a casa e pousá-la em outro lugar, o terreno original permaneceria praticamente intacto, sem rastros da obra”, diz.
Trata-se de um projeto que expande o campo da própria arquitetura e traz reflexões sobre as relações entre a casa e a cidade, entre o homem e a natureza Luciano Lerner Basso
Em seu projeto, Basso traçou formas harmoniosas, de modo que a geometria apenas repousa sobre o terreno. O volume principal é sustentado por um pilotis que delicadamente toca o solo e adapta-se à conformação natural do terreno. “Trata-se de um projeto que expande o campo da própria arquitetura e traz reflexões sobre as relações entre a casa e a cidade, entre o homem e a natureza. Uma casa onde a técnica é a ferramenta utilizada pelo arquiteto para gerar a forma e ordenar o espaço. Uma arquitetura genuinamente brasileira”, define o arquiteto.
Para acessar a casa, os moradores percorrem um caminho sinuoso de terra batida e brita. A rua adentra o pátio e se estende até a porta de entrada. “A intenção é que o chão da casa seja o mesmo da cidade; o desejo de criar espaços urbanos sem barreiras, de integrar o público ao privado”, comenta Basso.
Projetada para um jovem casal, a morada conta com um programa simples e ambientes integrados. No nível inferior, sob o pilotis, há um abrigo de automóveis. Na entrada da casa, ficam o vestíbulo e a lavanderia. No nível superior, a partir da união geométrica de quatro retângulos, foi projetada uma planta estruturalmente aberta que organiza, através de elementos leves, as funções de estar, dormir e trabalhar.
Completando o programa, três varandas ampliam a sala de estar e a colocam em contato direito com a paisagem. Sem cortinas ou barreiras visuais entre dentro e fora, os moradores têm contato permanente com a natureza. “Ao mesmo tempo que habitam a casa, também habitam a mata”, expõe Basso.
Basta um rápido olhar para a Casa Fortunata para perceber que o concreto armado aparente é um material de destaque. Ele está na estrutura, nos fechamentos, nos degraus da escada e até no mobiliário fixo. Segundo o arquiteto Luciano Lerner Basso, trata-se de um material que envelhece com a mesma beleza da natureza, resiste bem às intempéries e exige baixa manutenção mesmo em meio à umidade da mata.
O projeto também fez uso de esquadrias de alto desempenho com corte térmico, vidros duplos e EPS (poliestireno expandido) nas lajes de piso e de cobertura para promover isolamento térmico, já que a morada está situada numa região serrana.
A preocupação com a sustentabilidade fica evidente no uso de madeiras de reflorestamento nas fôrmas do concreto; reúso desta madeira para construção das varandas; tratamento do concreto aparente com produtos livres de solventes; sistema de aquecimento alimentado por combustível ecológico; aproveitamento da água da chuva para irrigação; iluminação natural em todos os cômodos, inclusive com uso de claraboias; e iluminação artificial realizada apenas com lâmpadas LED, incluindo automação para o controle da iluminação externa.
Casa Palicourea, do BLOCO Arquitetos
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