De forma atípica em uma paisagem urbana, a Casa Bacopari, projetada pelo escritório Una Arquitetos, preserva ilhas de vegetação em meio à estrutura de concreto e aço. Foram seis árvores pau-ferro adultas – de aproximadamente oito metros de altura, ladeadas de verde – transplantadas ainda durante a obra. A arquiteta Cristiane Muniz explica que inventar uma paisagem partiu da necessidade do próprio terreno plano, comprido e desprovido de vegetação. “Não havia árvore nem vista. O terreno era completamente fechado em si mesmo, além de ser mais extenso que o padrão. Então decidimos criar uma continuidade da paisagem do bairro”, expõe. O terreno era completamente fechado em si mesmo. Então decidimos criar uma continuidade da paisagem do bairro Cristiane Muniz As árvores foram plantadas em meio às primeiras paredes, às grandes empenas de concreto – ainda quando a estrutura metálica começava a ser erguida. Após um ano, com o término da obra, a vegetação já estava recuperada, grande, viçosa e integrada a um grande jardim que permeia a casa, constrói uma paisagem própria e, o mais importante: é parte da construção. “Conseguimos diluir os ambientes internos em áreas externas, plantando a ideia de que a casa está permeada por esses jardins”, resume Fernando Viégas.
Dentre as características marcantes, os cheios e vazios se revezam em todo o partido, comandados pela funcionalidade. Pátios são intercalados às áreas fechadas. A circulação se dobra junto à fachada frontal, em painéis de vidro translúcido, dando acesso a dois dormitórios. No final, espaços abertos, fechados e varandas associados a planos de vidro claro e escuro, e espelhos d’água, promovem infinitos reflexos e transparências, diluindo os limites e unindo os ambientes. No pavimento térreo, a transparência se estabelece desde o acesso principal – feito através de uma praça que serve também de estacionamento – até um jardim com espelho d’água, que delimita o final do terreno. “A ideia foi estabelecer um térreo livre, para que as áreas de convívio fossem uma continuidade da rua”, explica Cristiane. Ao chegar, enxerga-se os quase 50 metros do terreno, com fácil acesso a todos os espaços térreos: a sala de jantar com varanda, o estar com pé-direito duplo, a cozinha que se abre, os pátios intercalados, a piscina e, no último bloco, o salão de jogos. Os quartos são localizados no pavimento superior, resguardados da movimentação própria da área social, mas têm face nordeste, tirando partido da melhor insolação. O apartamento dos hóspedes, construído no fundo da casa, tem acesso independente, pois recebe familiares e amigos vindos do exterior. Neste andar, em uma galeria com área de circulação de 25 metros, instala-se de forma privilegiada a biblioteca aberta para o pé-direito duplo da sala, que proporciona a vista de todos os ambientes do térreo, inclusive do espelho d'água no jardim. “A arquitetura com pavimentos integrados permite que, mesmo trabalhando na biblioteca, eles convivam o tempo todo com a casa”, reflete Cristiane.
Tudo começa com a construção de duas paredes de concreto nas divisas laterais, com 10 metros de Você está dentro ou fora da casa? Ao espelhar a vegetação das imediações e até o céu, é como se trouxéssemos a cidade para dentro desse lote Fernando Viégas distância, que definem os apoios dos planos suspensos. Sem apoios intermediários, o vão entre eles foi vencido por vigas de aço, que sustentam as lajes superiores de concreto pré-fabricado. Todo o chão foi liberado, permitindo intercalar áreas de jardins, áreas com água e a casa propriamente dita, cujos ambientes puderam ser diluídos. O vidro usado agrega mais uma função, além da transparência: a da reflexão. “Ele cria uma situação de dubiedade ao refletir os jardins internos e, através dos painéis de fechamento escuros instalados por dentro da casa, refletir também a paisagem externa”, reflete Fernando. Outros elementos como o espelho d'água e a piscina atuam como refletores, criando uma situação interessante e confusa ao mesmo tempo: “Você está dentro ou fora da casa? Ao espelhar a vegetação das imediações e até o céu, é como se trouxéssemos a cidade para dentro desse lote”, finaliza.
A construção é uma montagem cujas lajes superiores se apoiam em vigas metálicas entre empenas. As instalações localizadas em prumadas verticais são acessíveis junto a cada plano de concreto. Os painéis não precisam de sombreamento; os forros são placas de compensado naval; a caixilharia é de alumínio; e os fechamentos, feitos em chapas de ferro. “Trata-se de uma montagem seca. Por se tratar de um sistema construtivo atípico a construções residenciais, durante a obra alguns vizinhos questionaram de que construção se tratava. Muitos pensavam ser um ginásio esportivo”, revela Fernando.
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