Texto: Naíza Ximenes
Buscando se aproximar da identidade local e das técnicas construtivas regionais, o escritório de arquitetura kika camasmie+arq idealizou a Casa da Mata, em Trancoso (BA) — um projeto que reflete não apenas a estética, mas também a funcionalidade das construções baianas.
Marcada pelo esmero na escolha de materiais, a morada de 378 metros quadrados é fruto da aposta na construção em módulos. Kika Camasmie conta que viu, na Bahia, a oportunidade de criar uma residência que dialogasse com a técnica tradicional local e que integrasse arquitetura e natureza circundante.
Em entrevista à Galeria da Arquitetura, a arquiteta contou que o projeto se desenvolveu a partir da necessidade de otimizar tempo e recursos, levando em consideração os desafios logísticos enfrentados na região de Trancoso.
A proposta de construção modular, desenvolvida em parceria com um marceneiro local, surgiu como uma resposta à demanda por agilidade na execução das obras. A flexibilidade dos módulos permitiu uma adaptação harmoniosa ao terreno, garantindo eficiência na implantação e minimizando o impacto ambiental.
“Uma obra seca é muito mais fácil de ser construída, principalmente em relação ao transporte de materiais pré-fabricados”, conta Camasmie. “Isso porque o material necessitava de uma mão de obra simples e a obra seca nos garantiu muita praticidade. A construção em módulos ainda nos proporcionou muita eficiência enquanto o projeto era aprovado pela prefeitura. E, assim, fomos executando o projeto. Após a aprovação, a construção aconteceu super-rápido e a nossa preocupação passou a ser somente a fundação, hidráulica, elétrica etc. Além disso, o projeto praticamente nasceu com o mobiliário, que é feito das sobras da madeira, como a ilha da cozinha e o armário”, explica.
A casa foi concebida como uma extensão natural do ambiente circundante, com um design que se integra à paisagem exuberante da Mata Atlântica. Sua localização, cuidadosamente escolhida, respeita a topografia do terreno de cinco mil metros quadrados e minimiza o impacto ambiental, preservando a vegetação nativa e os cursos d'água próximos. A arquitetura é pensada para se fundir com a natureza, com linhas suaves e orgânicas que se misturam à silhueta das árvores e ao relevo do solo.
“O terreno tem cinco mil metros quadrados e é marcado por um declive imenso. São cerca de 1.500 metros de aproveitamento de um grande platô, seguidos por uma inclinação gigantesca, onde fica a mata”, a arquiteta explica. “A princípio, nós aproveitamos esse platô e elevamos a construção para o nível à frente, criando o aspecto de uma casa nas árvores. Com esse declive todo, nós aproveitamos o máximo desse platô, que é bem comprido”, complementa.
Na entrada da Casa da Mata, a arquiteta criou um grande recuo, quase como uma rotatória de acesso à morada. Uma vez dentro da casa, os módulos ficam evidentes: dois quartos, cozinha, sala de estar e jantar. Toda a casa é contornada por uma varanda, que conduz os moradores à piscina. Além disso, caso eles optem por receber hóspedes, há, ainda, um anexo na lateral da residência, onde ficam outras duas suítes.
“Para não entrar no quarto e perder a privacidade, nós optamos por manter a mata ao redor da construção e jogar a entrada em uma escada lá no deck. Assim, na hora que o hóspede levanta, ele já se vê frente à piscina e à sala”, Camasmie comenta.
No interior da casa, a conexão com a natureza é acentuada por meio de grandes aberturas que permitem vistas panorâmicas da paisagem ao redor. A escolha de materiais naturais, como madeira, pedra e fibras vegetais, cria uma atmosfera acolhedora e serena, convidando os moradores a se reconectar com o meio ambiente.
Os espaços foram cuidadosamente projetados para otimizar o conforto habitacional, com áreas de convívio integradas, iluminação suave e uma paleta de cores inspirada na natureza.
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