Construído e consolidado praticamente nas décadas de 1950 e 1960, o bairro de Higienópolis, em São Paulo, ostenta uma arquitetura expressiva e bem construída, com amplos apartamentos e muitas áreas verdes. Nesse contexto, nasce o edifício Itacolomi 455 – prédio de apartamentos dúplex, um por andar. O projeto tem o desafio de reforçar o protagonismo do bairro, com soluções abertas à paisagem, permitindo que o exterior inunde os espaços internos.
À frente do projeto, o gruposp, formado pelos arquitetos Alvaro Puntoni, João Sodré, Jonathan Davies e André Nunes, expressa desde o início a preocupação em criar uma forte relação entre o edifício e o seu entorno. Por isso, logo na entrada, o amplo térreo tem pé-direito duplo e se estende por meio de uma praça até a calçada. “Esta solução permite ver a rua desde o interior. Mas se o usuário estiver na rua, sua visão alcançará toda a extensão do terreno, como se o lote fosse o fragmento da superfície da cidade”, interpreta Alvaro Puntoni.
Este térreo é um banco de concreto com colunas aparentes de concreto de um lado e do outro. Em vez de portarias ou muros há um vazio que delimita o edifício do exterior. Um pavimento abaixo do nível da rua acomoda parcialmente um jardim e a entrada é feita através de uma passarela de concreto no centro do lote.
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Sobre o térreo, com pé-direito duplo, paira um volume longitudinal revestido de madeira, que acomoda o apartamento do zelador e a sala de ginástica. No primeiro, as paredes externas são revestidas com barras de madeira, o mesmo material que recobre as varandas frontais que tomam toda a extensão do prédio.
Este edifício, genérico na sua concepção e sistêmico por sua mobilidade, é específico na inserção e metafórico na forma com que trava diálogo com a história circundante Alvaro Puntoni, João Sodré, Jonathan Davies e André Nunes
O volume central serve à circulação vertical, organizando o chão ao definir um espaço de acolhimento ligado à rua e outro mais íntimo, localizado no interior do lote. Ele recebe um mural de ladrilho hidráulico da ceramista Kimi Nii. Alvaro Puntoni interpreta a funcionalidade da obra: “Ela reflete o desvelo da relação deste espaço com a cidade e setoriza, aos fundos, uma varanda mais reservada”.
No espaço posterior, mais reservado, estão a varanda aberta de estar comum e a piscina de 25 metros de extensão, além de um jardim. Tanto as varandas da fachada frontal quanto a posterior evidenciam a relação entre o apartamento e a paisagem circundante. Com generosa metragem, esses espaços deixam ver a copa das árvores e as visuais mais alongadas. “Este edifício, genérico na sua concepção e sistêmico por sua mobilidade, é específico na inserção e metafórico na forma com que trava diálogo com a história circundante”, refletem os arquitetos.
A exemplo do térreo, os apartamentos – seis ao todo, e um a cada dois andares – exibem espaços abertos, vazios e com pé-direito duplo. Neles é possível estabelecer diversos layouts de acordo com o tamanho da família e com o modo de vida. As possibilidades de atender a públicos variados, com tamanhos e unidades residenciais distintas, deram origem a moradas dúplex, estúdios e apartamentos simples.
As áreas sociais posicionam-se à frente, enquanto as privativas estão localizadas nos fundos. As tubulações embutidas em prumadas centrais e periféricas, dispostas próximas ao núcleo de circulação vertical e às fachadas laterais, organizam as instalações. Tanto o posicionamento das janelas, quanto a existência de varandas idênticas, frontais e posteriores, como o desenho da estrutura preparada para receber a carga de pavimentos extras foram pensados para otimizar a integração com o bairro.
A estrutura principal de concreto armado é formada por uma estrutura complementar que conforma uma unidade habitacional especial, mais recuada em relação ao corpo principal. O volume transparente encontra-se livre da altura dos edifícios ao redor, por isso desfruta da paisagem circundante. Ele é protegido por um fechamento de madeira que o destaca do conjunto.
Na cobertura, há uma lâmina d’água e um observatório da cidade, da paisagem e do céu. O apartamento apresenta o volume recuado em relação ao corpo principal. O fechamento de madeira se destaca.
Pastilhas cerâmicas no revestimento das fachadas foram ordenadas em padrões gráficos nas cores branca, azul e vermelha, formando um painel decorativo de azulejos. No térreo, o painel, a vegetação e as tubulações aparentes de hidráulica destacam-se ao revelar toda a sua funcionalidade de forma despretensiosa.
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