Definido como um projeto de interesse social, o Jardim Edite, no Brooklin, em São Paulo, vai além da proposta de melhoria da condição de vida dos ex-moradores da favela que ocupava o local. Trata- O trabalho mais fundamental no projeto foi essa sobreposição de usos, dos equipamentos poderem compartilhar o mesmo lote, a mesma área com as habitações, porque a gente sabe que existe uma demanda enorme por terrenos na cidade de São Paulo. Então, sempre é uma dificuldade Marta Moreira se, também, de um projeto de integração social entre as habitações construídas e a rica vizinhança – o cruzamento das avenidas Engenheiro Luís Carlos Berrini e Jornalista Roberto Marinho, junto à ponte estaiada. Além de cartão postal da cidade, a área faz parte do novo centro financeiro e de serviços da capital paulista. “O Jardim Edite é um ensaio muito bacana, nesse sentido de colocar a habitação social no meio das áreas de uso misto e ricas que São Paulo tem”, afirma o arquiteto Milton Braga, do escritório MMBB. Assinado pelos escritórios de arquitetura MMBB e H+F, o projeto viabilizou a verticalização do programa de moradia associada a três equipamentos públicos: um restaurante-escola com 850 m², uma unidade básica de saúde com 1.300 m² e a creche com 1.400 m². Marta Moreira, também titular do escritório pontua: “O trabalho mais fundamental no projeto foi essa sobreposição de usos, dos equipamentos poderem compartilhar o mesmo lote, a mesma área com as habitações, porque a gente sabe que existe uma demanda enorme por terrenos na cidade de São Paulo. Então, sempre é uma dificuldade”. O restaurante-escola é o principal exemplo da integração do conjunto habitacional com a sociedade. Abre-se tanto à comunidade do conjunto quanto a frequentadores das grandes empresas localizadas no entorno. “Ele proporciona o encontro de diversas populações: da comunidade que está se formando e se profissionalizando com o público que utiliza esse serviço”, ressalta Marta. O mesmo acontece com os estacionamentos. Públicos, à noite eles são utilizados preferencialmente pelos moradores, mas durante o dia os visitantes podem parar o carro lá. “Essa sobreposição de usos só foi possível a partir da união entre as Secretarias de Habitação, Educação, Saúde e Abastecimento”, reforça Marta. As habitações somam 252 unidades de 50 m², compostas por dois dormitórios, sala, cozinha e área de serviço.
A concepção do Jardim Edite parte da necessidade de resolver um problema relacionado a uma questão de infraestrutura, mas na verdade o desejo dos arquitetos, desde o início, é de desenhar uma situação urbana de beleza e desfrute. “Propusemos programas que evitassem futuramente a volta da favela ou mesmo a transformação do conjunto em uma área de habitação social que as pessoas evitam frequentar”, declara Milton. A partir do desejo de tornar a arquitetura parte do panorama urbano – e não uma exceção – nasce o conjunto com uma morfologia e volumetria semelhantes aos prédios vizinhos. “Para integrá-los, reproduzimos de forma semelhante a textura/morfologia da cidade que está à sua volta. São alguns volumes verticais (torres de 17 pavimentos) e horizontais (duas lâminas com dois blocos de quatro andares, sendo o último dúplex) sem elevadores, que atendem às famílias com menor recurso, porque oferecem condomínio mais baixo.
A ótima relação com a cidade reflete-se também no generoso recuo de 20 metros, principalmente A calçada é viva, cheia de gente sempre, estabelecendo uma espécie de controle social dessas áreas, com mais segurança e tudo aquilo que qualquer cartilha de urbanismo recomenda Milton Braga entre os edifícios maiores, que nunca se abrem para um pátio fechado ou para o prédio mais próximo. Sem áreas residuais, inexistem recuos laterais, de fundo e de frente, que ficam entre a grade e o prédio, tão comum na habitação social. Essas áreas foram incorporadas ao passeio público, o que resulta em calçadas largas, dotadas de vagas de estacionamento. De uso comum, elas passaram a ser responsabilidade do poder público, que assume a manutenção da qualidade urbana do local. Com o uso público do térreo os edifícios naturalmente se abrem para a cidade. “A calçada é viva, cheia de gente sempre, estabelecendo uma espécie de controle social dessas áreas, com mais segurança e tudo aquilo que qualquer cartilha de urbanismo recomenda”, reflete o arquiteto. Fachadas aliam design e funcionalidade Embora sóbria e comedida, a arquitetura marca as fachadas com um grafismo ressaltando faixas e sombras. “A circulação atrás com aquelas janelas de grade cria uma textura gráfica bastante forte e isso se apresenta como uma espécie de matriz coletiva do conjunto, capaz de disciplinar, sem esconder a vida de cada um que está lá dentro”, comenta Milton. E não é só isso. As fachadas oferecem uma solução genuína tanto para os edifícios baixos quanto para as torres. Trata-se de uma saliência de 50 centímetros que potencialmente transforma-se em um armário com profundidade em torno de 60 centímetros no interior da residência, ou seja: um espaço extra. A saliência também cria uma condição de proteção do caixilho contra a chuva, uma vez que não existe uma empena. “Em muitas das unidades que visitei, vários moradores fecharam esses armários com portas, utilizando-os como guarda-roupa ou móvel”, revela Marta.
Todas as construções foram feitas com concreto moldado in loco, mas inicialmente houve a intenção Usar concreto aparente em toda a construção exigiria o uso de uma quantidade maior de formas, uma vez que para manter um bom acabamento é inaceitável o reaproveitamento delas. Por uma questão de custo, restringimos o concreto aparente na edificação inteira Marta Moreira de aderir a materiais pré-fabricados. A vantagem para este projeto residia no fato de poder contar com uma indústria capaz de atender a uma produção em escala maior, de forma mais ágil e com qualidade, uma vez que as peças fundamentais são produzidas fora do canteiro, com mão de obra controlada. “Isso não foi possível, no entanto, por uma questão de custo, então utilizamos o concreto moldado in loco na estrutura e nos fechamentos, todos em alvenaria revestida”, conta Marta. De forma econômica, a aplicação do concreto aparente restringe-se às lajes de cobertura dos equipamentos. Todo o resto é revestido. “Implementar esta solução em toda a construção exigiria o uso de uma quantidade maior de formas, uma vez que para manter um bom acabamento final é inaceitável o reaproveitamento delas. Por uma questão de custo, restringimos o concreto aparente na edificação inteira”, explica a arquiteta Marta.
No interior das habitações, o coeficiente de aproveitamento é em torno de três, enquanto a legislação permite quatro. Há a vista privilegiada a partir das lâminas ou das torres, a ventilação cruzada – que deixa a casa muito mais saudável, luminosa e agradável – e uma bela orientação, sempre com uma face insolada. Áreas de uso comum, como as circulações, foram planejadas para serem também de convívio. Assim, o corredor das torres é quase um avarandado, com janelas abertas ao exterior, espaço suficiente para as pessoas cultivarem algumas plantas. “Tratando-se de uma habitação social, é quase um luxo”, reflete Milton. Com um programa compartimentado, o centro de saúde com diversos consultórios apresenta certo resguardo do ponto de vista visual. A necessidade de iluminar, ventilar e garantir a privacidade ao mesmo tempo levou os arquitetos a criarem um espaço central no qual ficam os diversos consultórios abertos ao exterior, porém, protegidos por uma parede de elementos vazados. “A solução garante a iluminação e ventilação natural do interior”, pontua Marta. No espaço central, a área de acolhimento/recepção possui claraboias que iluminam, ventilam naturalmente e servem à unidade básica de saúde e ao restaurante, onde existe um jardim também compartilhado entre os espaços. A creche – salas e berçários – desenvolve-se em torno de um pátio central protegido, um lugar onde as crianças brincam e tomam sol.
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