Entre as montanhas e a Mata Atlântica, na serra de Petrópolis, Rio de Janeiro, a casa projetada pelo escritório Jacobsen Arquitetura está a apenas uma hora e meia da capital, mas parece literalmente escondida, há quilômetros da civilização. Isso porque o amplo terreno de 3 mil metros quadrados, em desnível, instigou os arquitetos Paulo e Bernardo Jacobsen a criarem uma residência fragmentada em pavilhões que se adaptam à topografia em um verdadeiro jogo de esconde-esconde. “Revitalizamos o terreno que era meio escondido, convidando-o a jogar do nosso lado”, conta Paulo Jacobsen.
O terreno expunha um relevo complicado, com muita vegetação e lama. “Era impossível ver ou andar direito por ele. As decisões de criar platôs e taludes, o que deveria ser preservado ou modificado e onde seria o lago e a entrada geraram uma discussão trazida pelo paisagista Fernando Chacel”, expõe o arquiteto Bernardo Jacobsen.
“Assim criamos um lago novo, construímos os patamares de implantação, fragmentamos o programa em pavilhões e planejamos jardins internos e externos”, complementa Paulo. Com todas essas mudanças, houve uma inversão total no projeto, e até a vista principal da casa passou a ser orientada para as montanhas, deixando a vista secundária para o lago do condomínio, já existente.
Para integrar a construção térrea totalmente ao terreno e à natureza, seus elementos se encaixam nos desníveis naturais do sítio, deixando os blocos distribuídos na superfície, independentes um do outro. “Há uma grande integração com o terreno. Exemplo disso é o pavilhão dos filhos, que desaparece debaixo da terra. Ele é todo mimetizado, sua cobertura de jardim dificulta encontrá-lo”, exemplifica Paulo Jacobsen.
A residência tem um programa voltado ao bem-estar e lazer dos moradores – um casal carioca com filhos – que gostam de passar férias e finais de semana ao lado de amigos.
Para chegar à residência, um caminho de paralelepípedos conduz ao bloco em balanço. No pórtico de chegada, é possível ver uma deslumbrante vista de uma montanha de pedra ao fundo. O centro da construção parte da casa principal com planta linear, cuja sala é um apêndice. No térreo ficam as salas de estar e jantar, o lavabo, a cozinha, a despensa, as quatro suítes de hóspedes e uma varanda voltada para a piscina e o SPA. Nos aposentos de hóspedes, o fechamento é feito com painéis ripados pivotantes. Na parte inferior organizam-se a garagem, o escritório, o lavabo, as áreas de serviço e o home theater.
Este volume principal liga-se ao SPA e piscina, à casa dos filhos, à morada dos empregados – localizados a uma certa distância – e ao pavilhão de lazer com quadra de tênis. Deste, é possível ver um muro de pedras, que tem a função de dar privacidade às áreas de apoio: cozinha gourmet, banheiro, depósito e despensa. A área gourmet é coberta por estrutura de madeira apoiada em finos pilares metálicos circulares.
Com certa independência em relação à casa principal, a casa dos filhos possui quatro quartos com banheiro integrado, uma sala central e uma cozinha gourmet.
A estrutura de concreto e as lajes jardins se ligam à topografia e destacam-se sutilmente por meio de uma malha de madeira na paisagem. “Na verdade trata-se de uma sucessão de pórticos estruturais. O sistema construtivo – concebido após um longo trabalho de pesquisa ao lado de calculistas especializados em madeira laminada –, tem o objetivo de criar uma estética nova, transferindo outras funções arquitetônicas aos elementos estruturais”, comenta Bernardo Jacobsen. Assim, as peças de madeira verticais se transformam em brises – pórticos –, que acumulam a função de proteção visual e conforto térmico. Já as peças horizontais conformam o forro da cobertura.
Os pórticos estruturais, localizados no interior da casa, são protegidos do sol e da chuva, uma vez que passa uma placa de vidro por fora desses perfis estruturais. Por fora do vidro, para fixar e amarrar toda a construção, foi usada a madeira de sacrifício. “Aquele material que realmente fica exposto ao tempo, ao sol e à chuva, tendo uma vida útil reduzida para dez anos. Já a estrutura, não. Ela está aí para durar a vida inteira”, garante Bernardo.
Trata-se de uma sucessão de pórticos estruturais. O sistema construtivo (...) tem o objetivo de criar uma estética nova, transferindo outras funções arquitetônicas aos elementos estruturais Bernardo JacobsenMúsica, cinema, vinhos e arte espalhados pela casa denunciam o gosto eclético dos donos. As preferências, como o piano de calda, a adega completa e a coleção de obras de arte, acabam fazendo parte da decoração de interiores, marcada pelo mobiliário e pelos objetos escassos, mas escolhidos com muito cuidado.
As lajes dão origem ao jardim, formando o teto de alguns pavilhões. A cobertura verde tem uma parcela de responsabilidade no conforto térmico do interior, complementado pelos jardins internos que ajudam a regular a temperatura.
A presença de grandes painéis de vidro e claraboias permite a entrada de luz natural. Dependendo da luz do ambiente, várias sensações vêm à tona. Durante o dia os pórticos criam um jogo de luz e sombra estimulante; à noite, a luz torna a construção acolhedora. Paulo arremata: “Ela não parece casa, parece uma toca, um ninho com identidade própria, sem os formalismos de uma casa. Dentro você se sente muito bem, porque é um espaço iluminado pela luz natural”.
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