Com projeto do escritório Hereñú + Ferroni Arquitetos, a história de uma escola precária, subdimensionada, insegura e mal resolvida quanto ao entorno fica para trás. As novas instalações da Escola Estadual Nova Cumbica, em Guarulhos, São Paulo, tiveram os espaços públicos adjacentes recuperados, os fluxos de usuários redirecionados e a relações visuais com o entorno tornaram-se permeáveis.
O arquiteto Pablo Hereñú conta que o acesso do novo edifício volta-se para uma faixa subutilizada próxima ao córrego, há áreas de convívio cobertas e descobertas e a instituição oferece um sistema integrado de rampas e escadas articuladas verticalmente com visuais para o bairro. “Este foi um ponto importantíssimo ajustado: a acessibilidade”.
Com uma solução verticalizada, o antigo prédio dependia de um elevador que nem sempre funcionava. O agravante era a existência de alunos cadeirantes. “Implantamos um sistema de rampas para substituir o elevador e garantir a acessibilidade para sempre, pois a nova solução nunca dependerá de qualquer tipo de manutenção ou assistência externa”, Hereñú.
A utilização do sistema permite percursos internos livres. O aluno pode começar pela rampa e terminar pela escada. “Em todos os momentos ele está livre para mudar o percurso entre um e outro, então a circulação é transformada em brincadeira. Há uma dimensão lúdica que imaginávamos que poderia acontecer e, de fato, aconteceu”, pontua o arquiteto.
Degradado, o equipamento existente era bem menor, sendo necessária a ampliação no mesmo terreno. A obra iniciou pelo bloco maior, implantado sobre a antiga quadra, e foi necessário demolir uma pequena parte da construção, sem inviabilizar o funcionamento da escola. Finalizada a obra no bloco, as atividades migraram provisoriamente para ele, começando a segunda etapa da reforma. Ao término, a capacidade da instituição aumentou, e as atividades foram redistribuídas.
As mudanças implementadas pelo projeto afetaram também o entorno. A começar pelo acesso, antes feito pela rua lateral, com intenso tráfego de caminhões e sem espaço para os alunos esperarem. A área também estava ao lado de um córrego. Para modificar o cenário, os arquitetos inverteram o acesso, conduzindo a entrada dos alunos por uma faixa subutilizada paralela ao córrego.
Agora, externamente acontece um novo desenho de fluxos dos usuários que dá sentido não só à praça existente na esquina, sem utilização, mas a toda a franja ao longo do córrego. O muro foi derrubado, substituído por gradil e recuado, com maior relação visual e segurança. No interior, o programa oferece salas de aulas e de laboratórios, espaço de recreio coberto, ambientes administrativos, refeitório e quadra coberta com toda a infraestrutura.
A construção faz parte de um programa da Fundação para o Desenvolvimento da Educação – FDE, com estrutura pré-moldada de concreto. O sistema é o pré-fabricado modular padronizado com pilares, vigas, lajes, vedação com alvenaria em bloco de concreto e sombreamento das fachadas com brises, que leva ao controle de insolação. A vantagem do sistema é a garantia da qualidade mínima estrutural.
“Nesse caso foi utilizada chapa metálica perfurada. Nos ambientes, a cobertura é de telha metálica, enquanto na quadra as telhas possuem isolamento termoacústico. Os acabamentos pedem pouca manutenção e fácil reposição, com toda a caixilharia de ferro e um sistema basculante com pequenos panos de vidro”, explica Pablo.
Estudamos um tratamento cromático capaz de dar ao edifício o caráter de exceção Pablo HereñúO uso das cores veio da relação entre os arquitetos e o bairro durante as visitas no desenvolvimento do projeto. A zona predominantemente industrial tem paisagem cinza, com exceção da comunidade em frente. O arquiteto conta que era importante que a construção se destacasse, por ela ser um dos poucos equipamentos públicos implantados no bairro. “Para isso estudamos um tratamento cromático capaz de dar ao edifício o caráter de exceção”.
O sistema de sombreamento das fachadas utiliza cores fortes contrastantes com os tons de cinza predominantes no bairro industrial, com destaque a um dos poucos equipamentos públicos disponíveis na região.
Sem ar condicionado, todos os ambientes têm ventilação cruzada, uma determinação da FDE, premissa do projeto. O controle da insolação acontece por meio de brises horizontais pré-moldados de concreto através da pele de chapa microperfurada. Consequentemente, foram alcançados também os níveis de iluminação ideais para o uso interno.
Ao redor da escola, os espaços públicos transformaram-se em uma praça pública utilizada pela comunidade e para entrar e sair da instituição. A praça na esquina, e próxima à margem do córrego, foi redesenhada com o objetivo de promover maior integração do entorno e acolher os novos percursos.
O desenho da escola e da cidade qualificam-se mutuamente e reforçam tudo o que um equipamento dessa natureza demanda. O edifício tornou-se uma referência e, agora, a chegada até a escola ocorre por espaços agradáveis, arborizados e com muita vida.
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