A reforma da loja Goiaba Urbana, localizada no bairro de Pinheiros (SP), foi assinada pelo escritório H2C Arquitetura. Inspirada na filosofia japonesa wabi-sabi – que ensina a ver beleza mesmo em algo imperfeito, impermanente e incompleto –, a repaginação da butique deixou boa parte dos materiais aparentes, chamando a atenção pela mistura de elementos destroyed, mas sem perder a feminilidade da marca.
O projeto de restauro considerou a volumetria original como ponto de partida. “A edificação faz parte de um conjunto de casinhas geminadas construídas na década de 1940. O desejo dos proprietários era manter essa originalidade, preservar a matéria-prima existente e trazer o conceito japonês”, conta a arquiteta Helena Camargo.
A loja Goiaba Urbana foi implantada em um sobrado antigo, já bastante deteriorado e com uma escada caracol que impedia a visão do jardim ao fundo, criando ambientes enclausurados e com má circulação.
Para resolver essa dificuldade e criar um programa confortável, o pé-direito da entrada principal no térreo foi elevado e a escada ganhou um desenho reto para liberar a vista. Essas alterações e a preservação de uma goiabeira existente abriram espaço para um pátio interno com muita permeabilidade, através de amplos caixilhos basculantes, para garantir ventilação cruzada e iluminação natural aos ambientes.
O projeto de paisagismo, assinado pela profissional Gabriella Ornaghi, destacou a goiabeira e, com um mural assimétrico de tijolos retirados das paredes internas, compôs com variadas plantas de espécies ornamentais uma bela parede verde, que tem papel fundamental na melhoria da eficiência acústica e sustentável da loja.
A estrutura do telhado e as telhas existentes foram reaproveitadas. Os tijolos originais, guardados durante a obra, foram reaproveitados como revestimento das áreas internas e externas.
Segundo a arquiteta, o telhado original foi mantido para não interferir na estética do conjunto geminado. “Ele apresentava muitas ondulações e pouca estanqueidade. Preservamos sua estrutura e colocamos uma manta impermeável posteriormente para melhorar o conforto térmico”, completa.
A fachada da rua se revela em dois panos distintos. Um dos lados é em vidro translúcido com permeabilidade e conexão visual com o pátio interno desde a entrada da loja. Já o outro é suave e, através de chapas de policarbonato, expõe os volumes, contornando de forma sutil a privacidade para o mezanino. Os caixilhos são todos em aço com pintura eletrostática.
A face em policarbonato permite um sistema de iluminação difuso, tanto de dia como de noite, criando uma ‘lanterna urbana’ que gentilmente ilumina o passeio público dos pedestres na calçada. Uma porta basculante de correr permite que a luz seja perceptível mesmo quando a loja está fechada.
Já a iluminação interna foi feita com eletrodutos e refletores aparentes, que permitem a transitoriedade desejada para acompanhar a flexibilidade dos expositores de produtos.
Os materiais escolhidos promovem a boa iluminação natural dos ambientes internos e criam panos diversos com maior permeabilidade visual nas vitrines e ateliês, além da discrição no mezanino.
Os desenhos do mobiliário e dos expositores são flexíveis e permitem inúmeras versões de layout no ambiente da loja, principalmente com o ‘armário-estoque-provador’ que foi inserido no vão da escada.
“O conceito wabi-sabi permitiu uma visão estética centrada na aceitação da transitoriedade e imperfeição, nos fez deixar os tijolos aparentes e o telhado original, revelando a beleza do tempo no desgaste natural da matéria-prima. Todos os novos elementos, que foram desenhados sob medida, tornou o projeto singular e único, cuidadosamente pensado em cada detalhe”, conclui a arquiteta Helena Camargo.
Por fim, a organização espacial se deu por meio da definição de circulação contínua entre escada e passarela em estrutura metálica.
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