A paisagem do munícipio de Alella, em Barcelona (Espanha), direcionou a maioria das decisões tomadas no projeto arquitetônico da Casa VN – assinado pelo escritório Guillem Carrera Arquitecte. Esta morada deixa evidente a relação com o entorno, principalmente, com o Mar Mediterrâneo e a cordilheira costeira que norteiam sua volumetria.
O desejo dos moradores era ter um lar que se integrasse e ao mesmo tempo contrastasse com o local em que foi inserido – rodeado por construções de diversas épocas. “A residência foi implantada em um terreno que está situado entre uma área consolidada com edifícios recém-construídos e outra com casas de grandes dimensões e de grandes valores arquitetônicos, paisagísticos, sociais e patrimoniais do século XX”, conta o arquiteto Guillem Carrera.
O lote da Casa VN se aproxima mais das construções históricas do que das recentes. O volume do projeto foi estabilizado de forma horizontal, mediante três muros de contenção longitudinais nos sentidos norte e sul, cada um medindo 3 metros de altura, que estruturam o solo em três terraços. Um dos destaques é que, ao lado da estrutura principal da residência, há uma antiga capela de pedra seca e uma densa vegetação de árvores já existentes.
Segundo Carrera, manter o caráter original do local foi uma das premissas para a projeção. “Conservamos a alma e a morfologia, preservando cada detalhe que a tornam única, como terraços, muros de contenção, diferentes elementos da vegetação preexistente e a capela de pedra seca”, descreve o autor.
Esses elementos foram identificados e preservados, de forma que a implantação coexistisse e estivesse espacial e funcionalmente relacionada a eles. O resultado foi um projeto atemporal e heterogêneo, que faz parte do lugar e reintegra a paisagem da capela.
O programa da Casa VN foi organizado para atender a todas as necessidades dos moradores. Os 869 m² construídos compreendem sala de estar e jantar, cozinha, dormitórios, estúdio, banheiros, espaço de cinema, área de bem-estar e lazer, garagem para veículos e armazenamento e setor de serviços e instalações.
“Devido às dimensões do programa, optamos por uma integração estratégica de implementação de forma híbrida e compreendendo dois conceitos: harmonização e monumentalização”, completa.
A harmonização foi aplicada na utilização da mesma pedra local (usada na capela), para revestir as paredes de contenção existentes e para a criação de uma nova área de plantio, feita com piso de pedra e de madeira. Já a monumentalização auxiliou na criação de uma estrutura de concreto armado monolítico, apoiado por pilares de aço e argamassa de cal – construída para relembrar o movimento do Mar Mediterrâneo, como se estivesse emergindo em um terreno natural que mantém suas raízes históricas.
Analisada a programação e o tamanho da casa, a base foi implantada por meio de dois andares em cada terraço preexistente, concentrando as volumetrias de maior dimensão nos dois terraços inferiores, para que o terraço visualmente mais exposto tenha a menor volumetria e não sobrecarregue a estrutura.
A residência está estruturada em quatro níveis diferentes: níveis 181, 184, 187 e 190. No piso do nível 181 está a garagem, o espaço de bem-estar e lazer e as áreas de armazenamento; o nível 184 recebeu as áreas sociais, destinadas ao uso do dia a dia; no nível 187 estão os dormitórios, e no nível 190 estão os telhados verdes, que trazem conforto térmico.
Todos os dormitórios foram revestidos de grandes panos de vidro e voltados para a paisagem formada pelo mar, o vale, os olivais e até um pequeno lago das redondezas.
Alguns dos muros de pedra preexistentes no terreno foram repaginados e cobertos com pedra seca da própria área – eles atravessam a casa coincidindo com os espaços mais relevantes.
Os telhados são ajardinados com vários graus de inclinação, captando visualmente a paisagem, como se fizessem parte dela, e não da casa
A própria estrutura da residência fornece soluções de arquitetura solar passiva, com pórticos de diferentes dimensões e pérgolas de vigas de madeira na fachada sul. A água da chuva é coletada no sistema de armazenamento, depósitos enterrados e reutilizada para irrigar o jardim e outros usos, como descarga.
A Casa VN tem um sistema de ar-condicionado com tecnologia aerotérmica e de ventilação de fluxo duplo, que junto com o isolamento térmico natural dos telhados, a automação residencial, o sistema de construção e o estudo dos diversos revestimentos, permitiu com que o projeto recebesse certificação energética A.
Por fim, o projeto de interiores da residência seguiu a linha minimalista, que usou o mínimo de mobiliário para que os espaços ganhassem amplitude. “A materialidade, por sua vez, cria um ambiente acolhedor, amigável e conectado com o exterior”, finaliza Carrera.
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