A paisagem de Caxias do Sul (RS) direcionou não só a escolha dos materiais como a maioria das decisões tomadas no projeto arquitetônico da Casa Pereira Narvaes, assinada pelo escritório SUCRA Arquitetura + Design.
Inserida num lote de 2.000 m², a residência tanto integra quanto contrasta com o local em que foi construída, deixando evidente a relação com o entorno, principalmente, com a montanha inclinada nos fundos que norteia a volumetria.
O desejo dos clientes era de ter uma moradia funcional e de fácil manutenção, com aparência contemporânea e urbana, apesar de estar fora da cidade. “Eles queriam que ela fosse simples, no uso dos materiais aparentes, mas ao mesmo tempo elegante e criativa nos detalhes e espaços”, esclarece Marcos Sucra, arquiteto responsável.
A premissa foi deixar os materiais expostos, sem revestimento e adequados à natureza. O volume de concreto na fachada sul destaca a Casa Pereira Narvaes na paisagem.
No bloco da área social, para evitar um ambiente muito rústico, alguns cuidados de acabamento foram tomados, mas sem afetar a decisão inicial. Por exemplo, no teto de concreto, a forma da laje foi montada com ripas de madeira pinus lixadas.
“Em geral, os construtores locais usam pinho, que acaba marcando a superfície com os nós da madeira, dando um aspecto mais irregular. Ao lixar o pinus, o teto ganhou aparência mais leve, de um plano liso, sem grandes contrastes de textura e de cor”, menciona o arquiteto.
A mesma estratégia foi usada nas paredes, com tijolos de forma e cor regulares. O rejunte foi levemente escurecido para se aproximar mais da cor do tijolo e não ficar com variação na sua altura, gerando uma parede mais homogênea e menos rústica. De uma certa distância, a parede parece uma superfície lisa e avermelhada.
Eles queriam que ela fosse simples, no uso dos materiais aparentes, mas ao mesmo tempo elegante e criativa nos detalhes e espaços Marcos SucraJá o aço pintado de preto, aplicado no guarda-corpo, foi escolhido por interferir pouco na vista e assemelhar-se visualmente com a mata nativa.
A parede do banheiro sobe e esconde a caixa d’água em um único volume e flutua na entrada da residência.
O telhado verde se funde à paisagem e não obstrui a vista dos dormitórios. A janela junto ao piso de madeira cumaru no corredor íntimo ilumina a passagem e ao mesmo tempo dá privacidade aos moradores.
Os materiais utilizados são de fácil obtenção e manuseio pela mão de obra local, além de já estarem culturalmente e tecnicamente absorvidos. Sucra explica que optou pelo uso de materiais ‘brutos’ visando obter o desenho idealizado pelos moradores. “A altura da parede de tijolo aparente na área social estava definida pela laje de cobertura. Foi feito um cálculo minucioso para que na última fiada de tijolos não houvesse corte do material”, complementa.
O ajuste foi feito através da altura do rejunte, de maneira que, além do tijolo não ser cortado, a parede transmitisse a impressão de não encostar na laje através do recuo da última linha de rejunte. Esse ponto criou uma espécie de rodaforro negativo, dando leveza ao encontro dos materiais.
A sala de estar, integrada à de jantar e à cozinha, é separada da zona da churrasqueira pelo mobiliário, evitando paredes internas que compartimentam e "engessam" os ambientes. O dormitório destinado aos hóspedes não fica na zona íntima, o que dá maior privacidade tanto aos moradores quanto aos convidados.
No projeto de interiores, feito com a colaboração dos moradores, houve uma mistura de estilos. Algumas peças antigas de família foram reformadas e misturadas às peças clássicas do design brasileiro, como a poltrona ‘Paulistano’ de Paulo Mendes da Rocha. O sofá e as mesas laterais são assinados pelo Estúdio Bola. Nas paredes, a maioria dos artistas são gaúchos, como Patrick Rigon, André Bergamin, Kátia Prates, entre outros.
“Luminárias da Diesel, a conceitual Loop, de Voon Wong, designer de Singapura, e a clássica Mico, do designer italiano Elio Martinelli se misturam a outras luminárias antigas garimpadas em antiquários. Uma estante da Zaha Hadid e uma bergere antiga dividem o ambiente com cadeiras de plástico vermelhas da Maggi”, conclui Sucra.
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