Com investimento de aproximadamente R$ 520 milhões, o Estádio José Fragelli (Arena Pantanal) traz no projeto arquitetônico um complexo multiuso com instalações esportivas, culturais, educativas e de entretenimento combinadas a um design inédito e pouco usual. O escritório GCP Arquitetos quebra a tradição dos estádios com estruturas orgânicas e inteiriças e ousa ao apresentar uma planta retangular e dividida em quatro blocos independentes.
“Cuiabá é uma cidade extremamente quente. Ao pensar em um estádio desmembrável, separado por blocos, trocamos o tradicional layout das arquibancadas ao redor do gramado, inteiriço, por uma nova configuração em quatro módulos, com esquinas abertas, favoráveis à ventilação cruzada”, explica Sergio Coelho, autor do projeto. “Privilegiamos o conceito do tripé: legado, flexibilidade e responsabilidade socioambiental”, completa.
Tudo começou nos primórdios da obra, quando toda a estrutura foi pensada para ser um estádio A primeira questão era como viabilizar um equipamento sem que ele se tornasse um elefante branco? Sergio Coelho para a cidade de Cuiabá (MT) e não apenas para atender à Copa do Mundo de 2014. “A primeira questão era como viabilizar um equipamento sem que ele se tornasse um elefante branco? O que fazer com uma megaestrutura dessas no pós-copa?”, questiona Sergio.
Projetá-lo com capacidade para receber outros eventos e áreas de apoio – restaurante, museu de esporte e marquise –, estrutura flexível e a preocupação com o meio ambiente, por meio da recuperação de uma área degradada e da criação de um parque foi a resposta dada pelos profissionais.
A revitalização contabiliza cerca de 2.500 novas árvores plantadas e a perspectiva de transformar o lugar em um novo centro e destino turístico da cidade.
A Arena Pantanal é feita sob medida para a cidade de Cuiabá, e o fato de sediar quatro jogos da Copa de 2014 é apenas um detalhe. A mega capacidade para acomodar aproximadamente 43 mil e 600 espectadores poderá ser reduzida em até 15 mil assentos após o evento, dependendo da configuração desejada – um ajuste necessário à demanda real de público para eventos esportivos, culturais e de lazer. “Sendo multiuso, é possível realizar shows e espetáculos porque a infraestrutura permite, por exemplo, a entrada de um caminhão dentro do gramado. Todas as dimensões são preparadas para que se possa montar e desmontar o palco sem problema algum”, argumenta Sergio.
A flexibilidade para reduzir a capacidade de assentos, racionalizar e baratear a construção exigiu uma planta especial dos arquitetos da GCP, com arquibancadas e cobertura – 26 mil m², apoiada por quatro pórticos que vencem, respectivamente, vãos de 96 a 136 m – divididas em quatro módulos separados e idênticos, dois a dois: leste e oeste; norte e sul. A estratégia permite desmontar parcialmente esses elementos sem comprometer a integridade estrutural do estádio.
Para isso, as arquibancadas norte e sul – localizadas atrás do gol – foram projetadas em estrutura metálica montada com perfis aparafusados, permitindo serem desmontadas, e o melhor: reutilizadas em estádios menores ou outras construções culturais. Segundo Sergio, existe uma ideia do governo do Mato Grosso de que parte da Arena Pantanal torne-se um centro de convenções, a partir das áreas subutilizadas depois da copa, como os camarotes. As demais arquibancadas ostentam estrutura de concreto pré-moldado com modulação estrutural de 8 x 8 m.
Com o layout independente, a abertura dos cantos do estádio garante a visualização da área externa, além de integrar o projeto paisagístico da Praça. O resultado são os benefícios da ventilação cruzada.
Para o fechamento lateral foram projetados estrutura metálica para fixação e apoio de brises, Ao pensar em um estádio desmembrável, separado por blocos, trocamos o tradicional layout das arquibancadas ao redor do gramado, inteiriço, por uma nova configuração em quatro módulos, com esquinas abertas, favoráveis à ventilação cruzada”, Sergio Coelho também metálicos na base, e uma membrana em PVC perfurada que circunda o esqueleto de aço – quatro coberturas independentes com feixe de telhas de aço e vidro de policarbonato – sustentadas pelos quatro pórticos. Elas favorecem a ventilação nas costas da arquibancada, o sombreamento, vista do exterior e estética, dando unidade à edificação.
Até em algumas áreas do subsolo da garagem – com taludes e vãos abertos – há ventilação. “Localizada no nível do gramado, há aproximadamente 6 metros abaixo do nível de acesso da arena, projetamos espelhos d'água em alguns locais, conseguindo modificar o ar que atravessa o subsolo. A ventilação extra fará diferença principalmente no inverno, quando a temperatura continua muito alta e o ar é seco”, revela Sergio.
A exemplo dos modernos estádios construídos recentemente, a Arena é menor em planta e maior em verticalidade. Sério Coelho revela: “Com a nova configuração, é possível ficar mais próximo do palco e otimizar a acústica de um espetáculo, pois o PA (som para o público) não sofre com a reverberação e o eco no interior do estádio. Dentro do que a Fifa preconiza, a obra respeita a norma que exige a evacuação das pessoas do edifício em no máximo oito minutos, independentemente do ponto onde se esteja”.
Desde o início, o projeto tem a preocupação de atender aos parâmetros ambientalmente corretos e normativos para a certificação do LEED (Leadership in Energy and Environmental Design). O conceito estrutural simples, calcado no concreto e no aço, permitiu que o material construtivo fosse fornecido por empresas da região. A decisão favorece a sustentabilidade, pois evita o deslocamento, a queima excessiva de combustível e prioriza a compra em empresas locais. A mesma ótica é observada em outros conceitos arquitetônicos da obra, comprometidos com a conservação dos recursos naturais, principalmente relacionados à energia e água.
A arquitetura responsável também favorece os sistemas elétricos, de ar-condicionado e luminotécnica, todos projetados com tecnologia voltada à eficiência energética e, consequentemente, redução de, no mínimo, 12% no consumo de energia, além do reúso de água, por meio da captação de água pluvial, construção de uma Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) e utilização do líquido para irrigar o campo de futebol. As medidas preveem uma redução aproximada de 40% no consumo de água. Para favorecer o conforto térmico, os arquitetos especificaram na pavimentação materiais que atenderão ao parâmetro LEED. O piso deverá ter SRI (Solar Reflectance Index) 29, de gradação mínima; e a cobertura, SRI 78. “A medida diminuirá as áreas de concentração térmica, conhecidas como ‘ilhas de calor’. Já em alguns trechos da fachada, vidros com Fator de Ganho Solar (SHGC-Solar Heat Gain Coefficient) de, no máximo, 0,48 filtram a luz externa e reduzem o calor nos ambientes internos”.
No paisagismo, a implantação de espécies nativas, oriundas da Mata do Cerrado e Amazônica – parte do bioma onde a cidade de Cuiabá está inserida – dispensará a necessidade de irrigação artificial. O projeto paisagístico é mais que um elemento estético ou bucólico, feito para o apreço visual. Ele tem a função de propiciar a ventilação e aumentar a umidade nas construções e em seu entorno.
No projeto de terraplanagem, a técnica de compensação entre corte e aterro eliminará a importação ou bota-fora de material de escavação, evitando o impacto ambiental acarretado por uma obra desse porte.
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