Quando o jovem casal de empreendedores Kike Moraes e Manu Fagundes convidou o arquiteto Fabio Marins para reinventar o BONA, em 2017, idealizou um lugar onde pudesse vivenciar sua paixão: a música. O resultado foi o projeto arquitetônico de um belíssimo restaurante, que também se tornou uma casa de shows, no bairro de Pinheiros, em São Paulo (SP).
Quem entra no BONA não sente que está num restaurante nem que está numa casa de show, sente-se realmente convidado para uma grande festa Fabio MarinsO antigo estabelecimento já funcionava como restaurante, mas apenas no período da tarde. A adaptação veio com uma extensa reforma feita por Marins, em parceria com os proprietários, que queriam de alguma forma conciliar as atividades que já eram realizadas com a oportunidade de trazer artistas legais para se apresentarem na casa.
“Desde o início da nossa conversa queríamos que o projeto fosse algo mais personalizado e pessoal, para não ficar com a cara de uma casa de show convencional”, comenta o arquiteto.
A composição dos ambientes do BONA foi delineada para que o estabelecimento parecesse uma casa, com a decoração – desde o mobiliário até a iluminação – unindo estética e técnica.
O amplo deck pode ser visto como uma varanda, o bar como a cozinha, o terraço – cheio de plantas – é um jardim, e o salão principal seria a sala de estar, onde acontecem as apresentações para até 80 pessoas. Essa área é independente dos demais ambientes. Assim, os clientes que não vão assistir ao show podem apenas tomar um drink ou jantar. De acordo com Marins, é um lugar para que as pessoas se sintam em sua sala, ouvindo boa música e comendo bem.
Todo o trabalho de design foi feito para criar um ambiente despojado e acolhedor. Além dos elementos decorativos no estilo “doméstico”, também foi criado um palco fora dos padrões convencionais para que artista e público ficassem próximos e pudessem interagir.
Os materiais utilizados são típicos de vilas de São Paulo, com um toque industrial, mas aconchegante. Já as cores remetem a um ambiente retrô, com muito off-white e toques de verde e vinho, que fazem referência à “casa de vó”.
Trouxemos o palco para o centro do salão principal, exatamente para que o artista se sentisse abrigado no espaço. A intenção é dar ao músico a sensação de estar na sua sala de estar tocando para amigos Fabio MarinsA planta geral do projeto anterior teve pequenas alterações. O espaço mais modificado foi o deck, bem em frente à fachada, que além de se tornar um ambiente externo descontraído, tem uma rampa para acessibilidade.
Por ser um imóvel antigo, o estabelecimento anterior não era de grande porte e ficava um pouco escondido, com isso, quem transitava pela rua mal o percebia. “Foi então que decidimos abrir um portão bem na frente na calçada para convidar as pessoas a entrar”, conta o arquiteto. A entrada – que antes era na lateral (onde hoje fica o deck) – foi redirecionada para a frente, marcada pela caixilharia de ferro com vidro.
A recepção e o bar também foram remodelados e receberam mesinhas do tipo “coffe-shop”, um sofá e uma janela falsa com uma foto de Pixinguinha e Louis Armstrong dando as boas-vindas aos clientes.
Um dos pontos mais importante e trabalhoso do projeto foi o palco, o queridinho do BONA, no salão principal. O maior desafio foi com a acústica e sonorização. As instalações foram um pouco difíceis devido ao porte da estrutura do telhado e a altura do pé-direito, e os proprietários e o arquiteto queriam que ficassem “invisível” para quem visitasse o local. Então, foi criado um sistema inédito para suspender toda a sonorização com cabos de aço, cobrindo todo o salão.
Assim, placas foram instaladas entre os caibros para compor o desenho das águas do telhado, e a estrutura do som foi feita especialmente para que as caixas tivessem uma projeção em quatro faces, pois, deveria ser discreta e transmitir a sensação de que o som sai do palco e não da caixa. Surgiu então a ideia de criar plataformas independentes para que cada músico ficasse em um bloco.
“Trouxemos o palco para o centro do salão principal, exatamente para que o artista se sentisse abrigado no espaço. A intenção é dar ao músico a sensação de estar na sua sala de estar tocando para amigos”, menciona Marins.
Como as caixas de baixa frequência dos graves foram colocadas debaixo do palco, a sensação para quem está assistindo ao espetáculo é de que o som vem diretamente dos instrumentos e da cantora ou do cantor.
O projeto anterior não tinha nenhum tipo de tratamento acústico, por isso, foi preciso começar do zero para deixar o restaurante confortável. Foram aplicados alguns painéis acústicos nas paredes, como se fossem esculturas, para não agredir a decoração.
O trabalho de acústica no teto influenciou o conforto térmico do ambiente. Foi criado um “colchão” entre o forro original de madeira e o ambiente interno, proporcionando boa inércia térmica interna.
Por fim, o projeto luminotécnico também foi importante para ajudar na ambientação. Todos os refletores foram dispostos no alto do salão, e em alguns espaços, a iluminação ficou por conta de abajures ou pendentes, que deixam o ambiente mais intimista.
“Quem entra no BONA não sente que está num restaurante nem que está numa casa de show, sente-se realmente convidado para uma grande festa”, conclui o arquiteto.
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