Situada em meio às árvores do bairro Alto da Lapa, em São Paulo, a Casa Azul transmite leveza e aconchego. Construída em 1960, ela foi reformada recentemente pelo Estúdio Lava, que, sem perder de vista as características originais e as demandas da moradora, priorizou volumes simples e econômicos.
A premissa foi valorizar o exterior e ampliar as áreas de convivência, mas sem perder a privacidade. “Procuramos reorganizar o layout da casa principal e da edícula [aos fundos], redimensionando seus espaços, aliado a um desenho que demarca os eixos que estruturam a morada e demonstram os novos setores”, conta o arquiteto Lucas Bueno.
O projeto foi organizado num terreno de 560 m² e estruturado em dois eixos perpendiculares que orientam o espaço e demarcam as intervenções, que foram feitas a partir de dois armários e duas pérgolas conjugadas que tocam ambas as construções, criando uma relação harmonizada entre os ambientes abertos e fechados.
A simplicidade da Casa Azul pode ser vista por todos os cantos, mas o destaque vai para a fachada preexistente. Seu desenho harmônico foi mantido para valorizar a arquitetura da década de 60, trazendo também um ar contemporâneo, e seus caixilhos foram restaurados. A cor azul – que deu nome ao lar – foi escolhida para renovar a aparência e contrastar com a coloração do piso (cinzae vermelho) e dos armários (vermelho).
Já para a edícula, que foi totalmente reformada, foi pensada uma fachada de linhas simples que utiliza caixilhos de ferro e vidro.
O arquiteto conta que o projeto possui desenho e estrutura funcional clara, eliminando “puxadinhos” e aproveitando todo o espaço do terreno. “Buscamos valorizar a residência existente, separando a edícula, que funciona como um pano de fundo do lote”, completa.
Embora considerado uma dificuldade do projeto, o budget limitado foi um ponto importante para a repaginação. Como a moradora procurava algo que resolvesse todos os problemas técnicos e espaciais da ampla residência com um custo acessível, a solução foi usar materiais de baixo custo, como piso em cimento queimado, tijolo de demolição da área externa, reutilização de madeiras de demolição e estrutura mista de concreto e metal.
Os materiais existentes criaram um valor histórico agregado ao projeto e maior economia e sustentabilidade de recursos. Os armários que conectam os ambientes, além de serem funcionais, dão leveza e identidade ao local. Outro ponto interessante é o dormitório expansível da edícula, que confere maior versatilidade à casa. Com a incorporação da circulação, ele pode passar de 6 m² a uma suíte com 15 m².
Essa versatilidade espacial e a valorização dos espaços de convivência é um dos destaques da Casa Azul. Criou-se uma série de novos bancos em concreto e espaços para o convívio, como é o caso do deck na cobertura da edícula e da área para fogueira no jardim frontal.
Os dois eixos perpendiculares foram pensados para orientar espaços e demarcar intervenções. O eixo longitudinal sinaliza a relação do jardim frontal com a casa, começando pela integração da sala de estar com a cozinha num mesmo ambiente, chegando à varanda, que leva até o bar e a edícula.
Bueno revela que a principal intervenção do projeto foi a demolição parcial da edícula, de maneira que ela se soltasse da casa, valorizando espacialmente os dois elementos. “Além disso, aproveitamos as madeiras da estrutura do telhado existente na edícula para a construção das duas pérgolas que fazem a transição entre as áreas externas e internas”, comenta.
Já o eixo transversal conecta a estrutura da casa e da edícula no terreno, amplia o vazio entre as duas, como se ficassem soltas, valorizando o corpo da residência, e redesenhando a edícula de forma linear, de modo a ocupar todo o fundo do lote.
As reformas efetuadas ao longo do tempo deixaram a área externa compartimentada e sem charme. O jardim frontal estava abandonado e a área de churrasqueira comprimia a passagem para a edícula.
“O paisagismo foi projetado de forma econômica. Junto ao escritório Seiva Arquitetura e Paisagismo, optamos por espécies de plantas que necessitassem de pouca manutenção e que se desenvolvessem ‘sozinhas’. O segundo objetivo foi criar duas linguagens que conversassem bem: o jardim frontal mais seco e na lateral da casa um mais tropical”, conta o arquiteto.
Para o processo paisagístico, o paisagista utilizou uma estrutura vegetal de biomas nativos brasileiros, assemelhando-se às restingas. Também foram usadas espécies nativas como Clúsia, Bromélia Porto Seguro, Bromélia Imperial e outras predominantes no Cerrado e Mata Atlântica.
O jardim lateral recebeu algumas espécies nativas de Mata Atlântica, o Guaimbê e outras da Amazônia – Ciclanto e a Maranta Charuto. Foram utilizadas também duas plantas exóticas muito bem adaptadas ao clima regional e que funcionam perfeitamente na plantação: a Costela de Adão e a Liriópe Verde.
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