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Complexo Fecomércio Sesc/Senac

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A necessidade de proteção contra um terreno com riscos de alagamento levou à construção repleta de soluções sustentáveis, dentre elas a criação de um relevo que dá origem a um edifício garagem com teto verde. Imagens: Divulgação Estúdio 41
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Relevo fortificado

Texto: Tais Mello

Uma série de características peculiares, a começar pela solução estrutural ousada que prevê uma grande marquise de acesso sob um balanço de 25 metros e vãos de 30 metros de extensão faz parte do projeto da sede da Fecomércio/ Sesc/ Senac, na cidade de Porto Alegre (RS). Desenvolvida para um concurso nacional de arquitetura em parceria com o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), a obra rendeu o prêmio de 1º lugar à equipe de arquitetos do Estúdio 41.

Tudo começou quando eles encararam o desafio de organizar e distribuir itens do extenso e variado programa do complexo em cerca de 150.000 m² de área construída. Além de vencer a grande dimensão da área, eles precisaram criar uma nova topografia – um relevo – em um terreno ambientalmente frágil e sensível, por causa da proximidade de ecossistemas como a bacia hidrográfica, sujeita a alagamentos, decorrentes dos problemas de drenagem da região.

“Propusemos áreas de permanência de usuários, colaboradores e comunidade local protegidos em uma cota elevada e segura, mesmo habitando um terreno frágil”, esclarece o arquiteto João Gabriel Cordeiro. Também era necessário executar a obra em etapas, com o mínimo impacto nos edifícios existentes e sem perder a unidade e a clareza do conjunto. Os espaços são livres para o uso das pessoas que ali trabalham, convivem e também para a comunidade local.

A solução inicial passou pela elaboração de um protótipo. “No Estúdio 41 é comum produzirmos maquetes físicas e modelos em 3D na fase de concepção do partido arquitetônico. Como o trabalho é realizado em equipe, essas ferramentas permitem a todos visualizar e entender melhor a complexidade do programa, do sítio e as diferentes soluções que essa relação pode gerar”, explica João Gabriel.

Edifício garagem

Propusemos áreas de permanência de usuários, colaboradores e comunidade local protegidos em uma cota elevada e segura, mesmo habitando um terreno frágilJoão Gabriel Cordeiro

O edifício garagem é horizontalizado e conformado como um podium e sobre ele se apoiam os edifícios principais. A cobertura dessa construção recebe tratamento paisagístico, prolongando-se até o parque proposto na porção leste do terreno. A solução dada à garagem prevê um grande plano verde integrado ao terreno. Ele oculta e diminui o impacto visual causado por um estacionamento com 2.900 vagas para veículos e 300 para bicicletas.

O telhado verde, rodeado de taludes no perímetro, parte da construção onde o estacionamento ficaria locado. “Os taludes e a grande laje verde nascem da tentativa de criar uma elevação do terreno. A técnica utilizada para conformar o teto verde é uma laje alveolar modular simples, formada por bandejas para retenção da água, substrato e plantio de grama na superfície”, explica o arquiteto João Gabriel.

No térreo do complexo estão localizados os compartimentos de serviços e das áreas técnicas. São geradores, casa de bombas, reservatórios, depósitos, terceirizados, doca, entre outros cujo trabalho caracteriza-se pelos usos de longa permanência e desfrutam da generosa paisagem da região e dos espaços abertos propostos.

Sustentabilidade

Outro importante ponto oferecido pelo partido é a sustentabilidade socioambiental do edifício, dotado de soluções em conformidade com a certificação AQUA, um selo concedido pela Fundação Vanzolini a empreendimentos com alta qualidade ambiental, com base em auditorias presenciais independentes.

Segundo João Gabriel, dentre as soluções sustentáveis e inerentes ao projeto, destacam-se: a orientação solar correta, possibilidade de ventilação cruzada, luz natural abundante e proteção de fachadas contra incidência solar. Também não podem ficar de fora a automação do sistema de climatização e iluminação, medidas essenciais que evitam desperdício e, consequentemente, o uso de recursos naturais de maneira irresponsável.

“Todos são itens básicos para um bom projeto”, reforça o arquiteto. “Acreditamos também que alguns recursos oferecidos pelo mercado são necessários e reforçam o caráter ‘sustentável’ do edifício. É o caso das placas de aquecimento solar, utilizadas nesse caso específico para aquecimento da água dos chuveiros”, conclui. Os taludes e a grande laje verde nascem da tentativa de criar uma elevação do terreno. A técnica utilizada para conformar o teto verde é uma laje alveolar modular simples, formada por bandejas para retenção da água, substrato e plantio de grama na superfícieJoão Gabriel Cordeiro

Sistemas pré-fabricados

João Gabriel relembra que na época do concurso eles abriram mão de uma solução com estrutura metálica. “Uma série de motivos pesou na decisão: desde o projeto do sistema estrutural que previa grandes vãos e balanços; a necessidade de pré-fabricação, por causa do prazo exíguo para execução e, por fim, a possibilidade de reciclagem das peças em caso de desmonte do edifício”, resume.

Em busca de uma arquitetura com clareza técnica e de forma, inserida respeitosa e harmoniosamente no contexto, chegou-se a uma solução simples para um programa complexo. Optou-se por sistemas pré-fabricados na estrutura, nas fachadas e nas divisórias. O objetivo é minimizar o tempo da construção, o desperdício de recursos e o impacto gerado pelo canteiro de obra. Já a escolha dos materiais buscou soluções alinhadas às necessidades, como a boa procedência, a durabilidade e a fácil manutenção.

As fachadas são em sua maioria peles de vidro. Dependendo da orientação, algumas são protegidas por brises (norte horizontais); outras por chapa de aço expandida (leste/oeste verticais) e as demais pediram um plano mais opaco que, além de proteger contra a incidência rigorosa do sol nessas faces (leste/oeste), ajuda a imprimir peso e volumetria à proposta.

Paisagismo

Dada a extensão da gleba, o projeto de paisagismo toma a proporção de parque. “Buscamos trabalhar conexões com a rua e a setorização de faixas temáticas que acompanham o desenho dos edifícios e remetem às frequentes plantações de arroz na região”, explica João Gabriel. Nessas faixas a intenção é acomodar áreas de recreação e descanso, recompor vegetação nativa, bosques com espécies nativas de maior porte e áreas alagáveis, que ajudam no amortecimento da drenagem das águas pluviais. A linha diagonal serve de caminho, quebrando a rigidez do desenho ao mesmo tempo em que cria uma nova possibilidade de trajeto, mais direta e espontânea.

Iluminação

Para o projeto de iluminação foram realizadas simulações em quase todos os ambientes. O objetivo era minimizar a ocorrência de espaços excessivamente iluminados ou escuros demais. Lâmpadas e luminárias foram escolhidas para atender a cada necessidade específica. Nos locais onde é imprescindível a boa reprodução de cores sem a necessidade de precisão e rendimento optou-se por lâmpadas halógenas. “Nas áreas de trabalho e circulações utilizamos fluorescentes tubulares e compactas, mais econômicas e com alto rendimento”, esclarece o arquiteto.

Escritório

  • Local: RS, Brasil
  • Início do projeto: 2013
  • Conclusão da obra: 2014
  • Área do terreno: 190.000 m²
  • Área construída: 150.000 m²

Ficha Técnica

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