Texto: Naíza Ximenes
Em uma das ruas mais badaladas da capital paulista, a Oscar Freire, em São Paulo, o outrora restaurante Chez Oscar — que parou de receber visitantes após a pandemia e cedeu o imóvel ao escritório BETC Havas — deu lugar ao BETC Havas Café, uma mistura de livraria, café e agência de publicidade.
A estrutura principal do prédio foi idealizada pelo escritório de arquitetura Triptyque, que dividiu o edifício em quatro andares. No entanto, após os anos de pandemia, o espaço precisou de um retrofit para voltar à ativa. Quem comandou a restauração foi a dupla de escritórios Galeria Arquitetos e Terra Capobianco.
“O BETC Havas é um cliente do escritório já há algum tempo”, conta Fernanda Neiva, do Galeria Arquitetos. “E o Erh Ray [CEO, sócio e fundador do BETC], um homem superlegal e visionário, me procurou com essa ideia de fazer um escritório que não tivesse um ambiente tão tradicional corporativo — uma proposta que já vinha sendo implantada na filial de Paris.”
Ela continua. “Conversando com o Ray, entendemos que o intuito do projeto era trazer as pessoas para trabalhar em um lugar que elas tivessem vontade de frequentar, sem aquela mesa enorme em que os funcionários se sentam na cadeira de rodinha em frente a um computador, principalmente nesse pós-pandemia. Ele disse ‘eu quero que as pessoas tenham o desejo de vir para o escritório, mas pensando muito mais nos encontros e nas relações interpessoais’.”
Assim, duas necessidades ficaram claras: primeiro, a construção de um café aberto ao público, junto à agência. Segundo, a escolha por um imóvel que fosse, sobretudo, de fácil acesso. “O que a gente precisava fazer era uma agência de publicidade que não tivesse cara de agência de publicidade. Montar um programa tão interessante ao ponto de as pessoas voltarem a ter vontade de trabalhar fora de casa”, completa a arquiteta Ana Terra, do Terra Capobianco.
Ao descrever as primeiras impressões do imóvel, as arquitetas contam que já existia uma livraria, a Princess Book, que ocupava o mezanino do edifício. A ideia de incorporá-la ao projeto surgiu quase que instantaneamente. Ao invés de retirar toda essa riqueza cultural do edifício, as arquitetas optaram por levar a livraria para o térreo, onde ficaria o café, e deixar todos os outros andares para o escritório, com controle de acesso.
O projeto de retrofit foi guiado por alguns conceitos básicos: integração entre os espaços, aconchego e funcionalidade. Eles também foram os responsáveis pelo nome de cada andar: São Paulo, para o térreo e mezanino; Xangai, para o primeiro pavimento; Paris, para o segundo; e Londres, para o terceiro e último.
O café e a livraria são abertos ao público. O espaço ganhou piso de basalto; paredes cobertas por estantes; madeira tanto no forro, quanto nas estantes; e vidro e elementos metálicos em vários locais, que dão um aspecto mais moderno ao espaço. Além disso, os dois últimos revestimentos também garantem uma das premissas do projeto: a permeabilidade visual.
Nas escadas que conectam o térreo ao mezanino, há, ainda, outro destaque: os cinco primeiros degraus são do mesmo material que reveste o piso. A estratégia permite que eles se estendam horizontalmente e formem a estrutura do balcão no café, logo atrás. A outra metade da escada segue mesclando três materiais: o metal vazado, a madeira e o vidro. O teto, por sua vez, é formado por uma grande claraboia com vários pontos de iluminação, que garante a entrada de luz natural durante o dia.
Espaço de trabalho no andar São Paulo, no BETC Havas Café. É onde fica a agência de publicidade
Partindo para o mezanino, o pavimento foi dividido em duas áreas: uma aberta ao público e outra exclusiva aos colaboradores da agência. O piso passa a ser de madeira e as paredes ganharam revestimentos diferentes de acordo com o uso.
Na porção do andar onde ficam as mesas para os clientes, os tijolinhos brancos que pertenciam ao Restaurante Chez foram mantidos. Atrás das mesas, as paredes são formadas por uma telha metálica preta, de um lado, e espelhos, do outro.
O espaço de uso comum entre público e restrito é formado por um grande bar, também equipado com cozinha. Uma grande porta de vidro com acesso controlado leva o visitante à agência, formada por um grande lounge. A área de trabalho possui vários sofás — ora modernos, ora no modelo Chesterfield — e mesas pequenas, também de madeira.
Na extremidade do andar, o espaço ao ar livre também foi recuperado. Um deck de madeira foi reinstalado na varanda, acompanhado de pequenas mesas e um grande jardim nas laterais, que se estende para a área interna. A iluminação é feita pelo mesmo grid com lâmpadas do teto no térreo.
No primeiro andar, o Xangai, a sofisticação continua e a despretensão vai embora. Adaptado para atuar como um espaço voltado a reuniões e com uma pegada mais séria, o pavimento ganhou uma grande mesa de madeira, com 14 lugares, que ocupa uma metade da sala. Do outro lado, dois sofás de tamanhos generosos e duas poltronas completam o mobiliário.
As paredes possuem o mesmo ripado de madeira dos outros ambientes, complementados pela telha metálica preta no entorno do elevador e banheiro. A estrutura de iluminação também permanece aparente, em uma proposta mais industrial. A sala ainda pode ser dividida por portas de vidro de correr, bem no centro.
Pocket shows, jantares, festas exclusivas... o andar Paris, no segundo pavimento, foi pensado para receber eventos dos mais variados tipos.
A primeira visão do local é completamente diferente dos outros andares: o piso é de pastilha hexagonal verde, o teto é de espelho, e toda a estética segue um estilo mais retrô.
Ao contrário do Xangai, as duas paredes são de vidro transparente. Encostado em uma delas, fica um sofá de ponta a ponta — também no modelo Chesterfield, de veludo verde — com várias mesas de madeira em frente e cadeiras no lado oposto. Cada mesa possui sua própria luminária em cobre, desenvolvida exclusivamente para o BETC Havas Café, em parceria com a Liz Iluminação.
O andar Paris tem estética retrô
Encostado na outra parede de vidro, por sua vez, há um bar (também revestido por ripados de madeira na meia parede) com banquetas verdes espalhadas pela extensão. As luminárias e o suporte para taças de vidro são de cobre, assim como todos os outros elementos metálicos do andar. No fim do balcão, uma porta de vidro conduz o visitante à varanda na área externa, que ganhou um grande banco de madeira, mais banquetas verdes. O piso de pastilha verde permanece o mesmo.
O quarto e último andar, o Londres, também tem um clima mais despojado. Três materiais são encontrados nas paredes: o ripado de madeira, a telha metálica preta e o vidro (que preenche do chão ao teto). Novamente, o andar é dividido ao meio. De um lado, quatro duplas de sofás, um de frente para o outro, preenchem a extensão do pavimento. Do outro, um bar sofisticado, com elementos modernos em madeira, vidro e metal, completam o espaço.
“Vale ressaltar que todos os andares contam com sofás e poltronas de designers brasileiros — entre elas, a poltrona ‘Paulistano’, desenhada por Paulo Mendes da Rocha, um dos grandes símbolos da arquitetura do país”, completam as arquitetas.
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Casa TD, por Patricia Bergantin Arquitetura e interiores
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