Texto: Naíza Ximenes
Impossibilitado de viajar devido ao período de pandemia, um grupo de amigos ciclistas decidiu construir uma pista para uso próprio. O resultado foi tão impressionante que até as pessoas que passavam pelo local queriam conhecer e usufruir do espaço. As interações foram crescendo, os visitantes aumentando... e eles perceberam a necessidade de expandir a ideia. Assim nasceu o Mobai Bike Land, em São José dos Campos, projetado pelo escritório de arquitetura DSIGN/SA.
Um dos integrantes do grupo de ciclistas era um cliente antigo do escritório e ele foi o responsável pelo contato inicial com os arquitetos. Inicialmente, o projeto não tinha nome, identidade visual ou um programa de necessidades definido. Mas, logo na primeira visita da equipe ao terreno, o Mobai se revelou.
Devido ao crescimento no número de acessos e pessoas utilizando as pistas, o grupo de amigos entendeu que haveria a necessidade de um vestiário e de uma área de apoio. E se chovesse? Precisariam de uma área coberta. E se alguém quisesse saber mais sobre o local? Onde perguntariam? Daí a necessidade de uma recepção. Assim surgiu a proposta de criar um parque de acesso público, transformando o projeto inicial em algo muito maior.
Depois de definir o programa de necessidades, a equipe de arquitetos conta que todo o processo de criação da identidade visual do parque foi colaborativo e orgânico, com contribuições de diversas partes, incluindo construtores de pistas e os próprios ciclistas.
Nós gostamos de brincar um pouco em relação ao processo de criação do projeto... Costumamos dizer que o Mobai é como um passeio de bike. Você sai e não sabe exatamente para onde vai, mas, ao percorrer os caminhos e descobrir os olhares, os pontos interessantes, é impossível não se surpreenderIvo Sakamoto, arquiteto na DSIGN/SA.
Segundo Ivo Sakamoto, sócio-fundador e arquiteto na DSIGN/SA, o terreno onde fica o Mobai Bike Land é acidentado — ideal para trilhas de mountain bike, que necessitam dos altos e baixos. Além disso, o local oferece uma vista deslumbrante do pôr do sol.
Com a pista definida, o primeiro desafio foi encontrar pontos estratégicos para construir o centro de apoio e garantir que todas as áreas tivessem vistas privilegiadas não só do horizonte, bem como das próprias pistas.
A infraestrutura do parque, por sua vez, foi desenvolvida de maneira integrada, envolvendo design de marca, identidade visual, arquitetura e paisagismo. Concreto e metal são os principais materiais utilizados.
Ao chegar ao parque, os visitantes são recebidos por uma identificação de concreto, refletindo a estética rústica do lugar. Já a recepção e os outros espaços de apoio foram criados a partir de containers modulares, posicionados de forma a aproveitar ao máximo as vistas e a ventilação natural.
Um destaque do projeto é o deck panorâmico com uma grande cobertura para proteção solar, onde se encontra um bar — um espaço de descontração ideal para eventos e happy hours. O espaço tem vista garantida da natureza no horizonte, de um lado, e das pistas de ciclismo, do outro.
Além das pistas, feitas de asfalto, há outras vias marcadas com concreto intertravado e mosaico português, criando um ambiente visualmente interessante e funcional.
Em entrevista à Galeria da Arquitetura, Sakamoto conta que o Mobai Bike Land não é apenas um espaço para ciclistas, e sim um ambiente para toda a família e para aqueles que apreciam a natureza e atividades ao ar livre.
Foi pensando na pluralidade dos visitantes que a equipe incluiu vestiários, uma recepção e um bar com marquise ao projeto — estratégias que proporcionam um local confortável para relaxar e apreciar a vista.
A iluminação do parque foi cuidadosamente planejada para permitir o uso noturno das pistas, com postes de iluminação ao longo do pump track e outras áreas específicas. Eventos noturnos, como corridas de luzes, criam um espetáculo visual único para espectadores e participantes.
Um dos aspectos mais apreciados do projeto é a integração harmoniosa entre a natureza e as construções, proporcionando uma experiência imersiva e única. A recepção foi especialmente projetada com uma arquitetura paramétrica, utilizando madeiras cortadas para representar a topografia do local de forma artística e orgânica. Sobre um dos containers, há, ainda, um rooftop que homenageia a semântica do nome Mobai: onde o sol se põe.
Além disso, o parque oferece uma loja de bicicletas com serviço de aluguel, permitindo que visitantes sem bike própria possam desfrutar das pistas. A estrutura do Mobai Bike Land ainda conta com um restaurante e estacionamento com 250 vagas, além de um terraço de 380 metros quadrados para eventos.
“A rosa dos ventos foi uma parte muito legal nesse projeto”, conta Sakamoto. “Nós achamos esse espaço quando estávamos em cima do container e pensamos: ‘Acho que ficaria legal fazer uma roda dos ventos bem grande aqui’. Na hora, nós marcamos para ver como ficaria e rascunhamos um diâmetro de dez metros. Seria como o coração do Mobai, que liga as pistas com o centro de apoio. Aí já combinamos que não construiríamos nada no local, que não haveria obstáculo do visual no entorno... e, no fim, a rosa dos ventos foi construída em mosaico português, seguindo toda a identidade do parque”, conclui.
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