O gosto único, a delicadeza e a simplicidade tão próprios do produto artesanal mudaram a face de Era fundamental criar um edifício com muito caráter e simples beleza. Então, já na entrada, conseguimos deixar tudo mais verde e leve Lívia Fonseca uma antiga casa localizada no bairro residencial Auxiliadora, em Porto Alegre. O imóvel, antes residencial, foi totalmente reformado e agora abriga a Padarie, uma padaria artesanal que explora todo o charme do projeto arquitetônico idealizado pelos jovens arquitetos Bernardo de Magalhães e Lívia Fonseca, da Crio Arquiteturas.
Tudo começou com o sonho de realizar o próprio negócio. Os donos, um casal também jovem, queriam um espaço que reunisse pedacinhos dos lugares especiais visitados em viagens pelo mundo. “Era preciso encontrar algo único no meio da cidade tão cheia das mesmas ideias”, reflete Bernardo. Assim, todas as necessidades e os estudos de layout, associados à busca por uma imagem forte e um conceito bem amarrado, foram determinantes para a definição do partido.
O ambiente exibe materiais comuns, formas simples e cores. Leve e confortável, é marcado por um design limpo que nasce da admiração pelo desenho escandinavo e japonês. “Eles ajudaram na construção da imagem da Padarie – a primeira loja da cidade –, mas muitas outras influências e o amor por cafés resultaram na construção da identidade”, confessa o arquiteto.
A fachada se encarrega de completar e traduzir a alma do local. Destacada, a única face existente recebeu na parte superior uma máscara especial formada por um conjunto de brises coloridos, confeccionados em chapas metálicas, com acabamento de pintura automotiva em diferentes cores. As chapas fazem uma releitura das espigas de trigo, em alusão à principal matéria-prima do pão.
Além de decorar, esse mosaico mantém a privacidade no depósito e na administração – situados no primeiro andar –, e, ao mesmo tempo, permite a entrada de luz natural. A estrutura inspirada no trigo também comporta a entrada e saída de equipamentos.
No térreo, o pergolado de madeira promove o fechamento da lateral vizinha, oferece mais privacidade e ainda demarca a área externa das mesas. A arquiteta Lívia Fonseca declara que isso deu mais vida à fachada e ao acesso da padaria. Junto ao pergolado, um canteiro acomoda mais plantas.
O piso do recuo de jardim absorve a água por meio dos concregramas – blocos de concreto perfurados que permitem o cultivo de leivas de grama em seu miolo. “Era fundamental criar um edifício com muito caráter e simples beleza. Então, já na entrada, conseguimos deixar tudo mais verde e leve”, completa a arquiteta.
Minúcias fazem a diferença por todos os lados: as paredes desnudam o tijolo maciço, deixando-o à mostra; a madeira pinus clara reveste os pilares; e o piso de tecnocimento mesclado à espinha de peixe converte-se em elemento-surpresa.
No projeto luminotécnico, luminárias de braços e trilhos com spots conferem mais personalidade à padaria.
Na reforma do imóvel de dois pavimentos as ideias fluíram a partir de três premissas: ordem, zoneamento e fluxos inteligentes. O térreo abrigou o setor de atendimento e apoio. Nele encontram-se salão de chá, loja, caixa, balcão de atendimento, sanitários de clientes e funcionários, cozinha de apoio, pátio, depósito e vestiários. O primeiro pavimento comporta administração, depósito, padaria, confeitaria e câmara fria.
Para incorporar e resolver o programa em apenas 258,80 m² – pensar os fluxos, a entrada, a chegada, o salão de chá e a comunicação entre a produção e o atendimento –, os profissionais começaram invertendo o sentido da escada existente.
A estratégia dinamizou a comunicação entre os dois pavimentos e tornou a circulação mais eficiente. Toda a parte inferior da escada foi aproveitada como depósito e apoio, enquanto a bancada de atendimento cresceu até os pilares do térreo, demarcando a zona de venda de produtos.
O salão de chá tem um grande painel ao fundo que delimita as áreas de bancos, a mesa grande de brunch e as mesas pequenas. O caixa fica próximo à lojinha e aos banheiros, já a cozinha de apoio do térreo está conectada à circulação de serviço e ao pátio, onde encontram-se os banheiros O novo programa de necessidades definiu a instalação de vigas metálicas para reforçar e suportar a carga do segundo pavimento que comporta todos os fornos. Também priorizamos o uso de materiais acessíveis Bernardo de Magalhães /vestiários dos funcionários e o depósito de lixo.
A produção é integrada e, a partir dela, chega-se ao depósito, à confeitaria e à câmara fria. No segundo pavimento, logo avista-se a entrada do escritório/administração. Com atendimento diferenciado, as bancadas receberam uma placa cerâmica de design limpo e forte identidade. A venda de pães é feita em uma grande bancada, que tem a cafeteira como protagonista.
Com o desafio de reduzir custos, a construção precisou adaptar-se ao programa estabelecido com muito dinamismo na planta. Anteriormente, o imóvel locado havia passado por uma reforma que alterou o desenho interno, pois muitas das paredes foram removidas, resultando em uma planta livre com pequenas salas ao fundo.
“O novo programa de necessidades definiu a instalação de vigas metálicas para reforçar e suportar a carga do segundo pavimento que comporta todos os fornos. Também priorizamos o uso de materiais acessíveis”, explica o arquiteto Bernardo.
A escolha por produtos como a madeira pinus, o piso de tecnocimento e as placas cerâmicas Liverpool – uma releitura contemporânea de cerâmica do azulejo retangular que revestiu, no século 19, o The Tube, como é conhecido o metrô de Londres – ajudou a diminuir custos. “Também evitamos ter muitas áreas de demolição, e reaproveitamos esquadrias e janelas”, conta Bernardo.
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