Esta poderia ser uma daquelas histórias com final feliz, que começa assim: em uma vila tranquila, no agitado bairro do Itaim Bibi, em São Paulo, nasce uma Casa de Vila especial, que mais parece um oásis. A visão da rua é de uma fachada resguardada por um painel ripado de madeira que oferece três acessos independentes. Um para o escritório, um ateliê de flores; outro para a área social; e o terceiro, para o setor de serviço; tudo meio camuflado. A casa vai se abrindo a cada passo. E realiza o sonho da moradora reunindo um lugar para morar, trabalhar e receber os amigos.
O processo porém, não foi tão simples. Nesse terreno havia uma casa que as arquitetas Clara Reynaldo e Cecilia Reichstul, do escritório CR2 Arquitetura logo perceberam que não seria possível reformar. “Tudo o que a proprietária sonhava para o seu lar não cabia na construção existente naquele lote. Ela queria poder contar com uma boa logística, chegar com o carro e já descarregar, sem ter de atravessar a casa inteira”, declara Cecilia. Dona de dois cachorros, a futura moradora precisava que a pessoa que passeia com eles conseguisse pegá-los sem entrar na casa. “Era imprescindível ter privacidade, pois ali também funcionaria um ambiente de trabalho; e por fim, a residência deveria estar apta a receber convidados”, pontua Clara.
Era necessária uma residência com esses três usos bem demarcados, e, ao mesmo tempo, permeável e fluida. Então, as arquitetas propuseram uma nova construção – personalizada e adequada a cada um desses usos.
No projeto, o terreno de 400 m² teve apenas 265 m² construídos, reservando uma boa área para jardim e pátios. A implantação dos três blocos interligados por um deck buscou insolação, ventilação e permeabilidade do solo. “E ela se apaixonou”, relata Cecilia.
A casa é formada por três blocos paralelos à rua. O frontal, mais fechado, abriga o estúdio de flores da moradora, com acesso independente e uma ligação direta para a casa. O bloco do meio, o único com dois pavimentos, é a residência em si, com uma cozinha aberta para a sala, o escritório reversível, lavabo e área de serviço no pavimento inferior.
As duas suítes ficam no pavimento superior, dividindo um closet em comum. É um espaço aberto, do tamanho de um quarto, entre os dormitórios da mãe e da filha. “Elas dividem tudo, e o mais interessante é que projetamos um tubo que liga o closet à área de serviço, sendo possível jogar a roupa suja direto na lavanderia”, revela Cecilia.
Nos fundos, o bloco do lazer é uma edícula e oferece churrasqueira e sala de televisão. Essas construções são separadas por jardins e interligadas por um deck, que atravessa o lote, da calçada até a edícula, permeando as partes internas e externas e definindo o eixo de circulação horizontal. “O primeiro jardim é mais de passagem, porque faz a divisão entre o escritório e a casa. As aberturas que dão para essa área são mais discretas. No último bloco, o jardim é maior, com um vasto gramado unindo a casa principal à edícula”, explica Cecilia. No programa, a entrada de serviço dá acesso ao pátio interno e à lavanderia, assim, quando desejado, os cachorros da casa ficam isolados.
Além de estar dentro de uma vila fechada e mista – com residências e escritórios –, a casa encontra-se cercada de prédios. Clara Reynaldo alerta que nesta situação, por um lado há bastante liberdade para os moradores, pois não existem muros, portão. “Por outro lado é impossível abrir toda a sua vida, por isso a construção exigia privacidade”.
O uso de estrutura metálica e paredes em drywall permitiu uma construção rápida, racional e limpa, com menos resíduos. “Lembro de que em duas semanas o esqueleto inteiro com a laje já estava montado. Com esse tipo de estrutura é só fazer os montantes, passar toda a tubulação e depois aplicar as chapas cimentícias ou de gesso. Sua manutenção também é bem prática”, revela Clara. A escada tem degraus engastados na viga, que somem na parede, parecendo voar.
Cecilia conta que a solução da estrutura metálica resulta em grandes vãos sem pilares. “Isso fica bem nítido na parte da casa que é maior, sem um pilar sequer interrompendo. Dá a sensação de amplitude.” Grandes caixilhos fazem o fechamento entre a residência e a edícula, permitindo, quando desejada, a interligação entre os blocos. Entre estúdio e cozinha as aberturas são mais discretas, garantindo a privacidade necessária.
O segundo pavimento é formado por duas grandes caixas suspensas, uma revestida de madeira, que é o quarto da mãe, e a outra, em pintura cinza, que é o quarto da filha. Esse mesmo revestimento inclui as portas camarão da varanda. Da sala, com pé-direito duplo, é possível ver as caixas “voando”. No térreo, o piso usado é o PU, revestimento monolítico, ideal para áreas recortadas, pois são isentos de juntas e favorecem uma unidade maior. Já o deck que interliga os blocos é de madeira.
Os dois blocos com pavimento interligado possuem um telhado verde com dupla função: amenizar a temperatura e proporcionar uma bela vista para o bairro. A iluminação é generosa, pois grandes aberturas tomam a frente e os fundos da construção. Como a casa é encostada nas laterais, as aberturas são fundamentais para permitir a ventilação e a insolação.
Para proteger os quartos do sol, as arquitetas investiram em portas-camarão. Fechadas, elas vedam totalmente a caixa. Abertas, oferecem ao quarto uma agradável varanda. Diante de um programa fácil e de materiais e soluções inteligentes, o projeto oferece espaços grandes e gostosos. “Tudo isso faz parte do sonho da moradora, que resolveu morar de forma mais simples. Ela tem um jeito de viver e se relacionar com a casa ímpar, sem hierarquia, sem grandes divisões”, comenta Cecilia.
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