Por entre as ripas de madeira, que vestem completamente as paredes do Teatro Iguatemi Campinas, a iluminação cênica por si só enseja um cenário para ser contemplado. Assinado pelo escritório URDI Arquitetura, o projeto arquitetônico utiliza soluções e materiais que, primordialmente, atendem às exigências acústicas e cênicas.
Segundo o arquiteto Alexandre Liba, o espaço, situado no Shopping Iguatemi Campinas, estava inutilizado há algum tempo, e a ideia dos proprietários era transformá-lo em um teatro de alto padrão, com estruturas que comportassem as demandas pertinentes a esse tipo de empreendimento.
“O uso do Teatro Iguatemi Campinas é bem especifico, pois deve ter um palco que atenda ao mascaramento e às mudanças de cenários, além de um sistema de iluminação diferenciado. Isso tudo tem que estar compatibilizado, senão o espaço acaba se tornando apenas um auditório”, comenta Liba sobre o principal desafio do projeto arquitetônico. “Além disso, tínhamos que englobar todas essas necessidades dentro de uma área já pré-determinada como a do shopping. Esse embate definiu 90% das decisões”, complementa o arquiteto Alberto Barbour.
Dentro da área de aproximadamente 1,5 mil m², a sala foi tratada arquitetonicamente a partir de uma visão poética do espaço público, para se consagrar como um dos lugares de passagem da rua para o estabelecimento.
“A intenção foi criar diversas gradações dessa transição. Por isso, concebemos o acesso à bilheteria e à cafeteria através de um foyer integrado à área de circulação do shopping e, definitivamente, marcamos o interior do teatro”, expõe Alberto Barbour, referindo-se à presença impactante do ripado de madeira que, além de envolver completamente o espaço, recebe iluminação indireta por trás das réguas, causando um efeito interessante. “Nós gostamos muito dessa ideia, pois, ainda que momentaneamente, as frestas eliminam a impressão de um lugar hermeticamente fechado”, afirma Barbour.
Tal como uma luminária, as luzes da plateia vão se apagando paulatinamente a cada sinal que indica o início do espetáculo, enquanto a iluminação do palco ganha corpo até o último aviso engendrar a escuridão total.
Com capacidade para receber 514 pessoas, o Teatro Iguatemi Campinas investiu em infraestrutura acústica, cenotécnica e audiovisual completas.
Elas parecem ter um desenho aleatório, mas cada uma possui um ângulo definido para distribuir o som corretamente, sobretudo para quem está nas últimas fileiras Alberto BarbourA princípio, os arquitetos planejaram a topografia do espaço para garantir a visibilidade de todos os espectadores. Dessa forma, além dos corredores laterais – que são acessados no nível intermediário à plateia –, foram projetadas diferentes alturas de patamar, as quais determinaram a inclinação desse trecho.
Outro ponto relevante no projeto consistia em oferecer qualidade acústica ao teatro. Entra em cena, então, o revestimento acústico, instalado atrás do ripado de madeira, que assegura a absorção do som – necessária por causa do eco –, enquanto no teto há placas acústicas cuja função é propagar as ondas sonoras para dentro da sala. “Elas parecem ter um desenho aleatório, mas cada uma possui um ângulo definido para distribuir o som corretamente, sobretudo para quem está nas últimas fileiras”, explica Alberto Barbour, citando também outros materiais que contribuem para a eficiência acústica, como o carpete e o tecido que revestem o piso da sala e os assentos, respectivamente.
Quanto à iluminação do Teatro Iguatemi Campinas, além da ‘grande luminária’ característica da zona da plateia, foram dispostas diversas varas que fazem a composição da luz de frente, fundo e lateral.
Para a estrutura cênica, os arquitetos organizaram o espaço para as coxias – alas laterais posicionadas ao lado do palco e utilizados pelos atores como uma espécie de bastidores –, e também destinaram as áreas dos camarins e das salas técnicas, que servem para armazenar os equipamentos. Além disso, foi preciso estabelecer um espaço para a caixa de urdimento, cuja armação de vigas metálicas, instaladas ao longo do teto, permitem o funcionamento das máquinas e dos dispositivos cênicos durante o espetáculo. “É nesse ambiente que a grande mágica acontece. Através do sistema de polias, alteram-se os cenários, inserem-se os efeitos luminotécnicos e, eventualmente, viabiliza o desce-sobe de objetos e até mesmo de pessoas”, conta Barbour.
Outra preocupação dos arquitetos foi com o condicionamento dos ambientes do Teatro Iguatemi Campinas. “Tínhamos de lidar com essa situação inescapável de reunir muitas pessoas dentro de uma sala fechada, o que, a princípio, não é uma sensação muito agradável, mas com a integração entre a arquitetura, os efeitos luminotécnicos e o sistema de climatização conseguimos reverter isso”, concluíram Barbour e Liba.
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