Texto: Naíza Ximenes
O conceito de simplicidade nunca esteve tão em alta. Quem nunca ouviu falar no lema “menos é mais”, do arquiteto alemão Ludwig Mies van der Rohe? E na tendência minimalista da arquitetura contemporânea? Paulo Mendes da Rocha, um dos maiores apoiadores do movimento no Brasil, já dizia: “A arquitetura não é feita para ser histriônica. [...] É uma virtude mostrar a simplicidade”.
Mas engana-se quem acredita que o minimalismo é, puramente, um movimento estético. A concepção que busca pela simplicidade e essência das formas também é filosófica, moral. Ela enfatiza a funcionalidade, a valorização da qualidade sobre a quantidade e a atenção aos detalhes, em contrapartida aos excessos ornamentais do movimento barroco. “Subtrair o óbvio e adicionar o significativo”, nas palavras do designer John Maeda.
E foi assim — subtraindo o óbvio e adicionando significado — que o escritório de arquitetura Obra Arquitetos projetou a Casa Suki, em São José dos Campos (SP).
Marcada pela valorização da funcionalidade e da intimidade, a Casa Suki evidencia um elemento importante de toda a estrutura logo na área externa: a horizontalidade. Em um terreno de 515 metros quadrados, a entrada da casa é dividida entre acesso à garagem, à esquerda, e acesso à casa, à direita — ambos cobertos por um telhado ora de aço, na cor preta, ora com sheds (um dispositivo cujas aberturas permitem a entrada de iluminação e ventilação natural nos ambientes internos).
Ainda na garagem, notam-se elementos em concreto, aço e madeira, que flertam com um estilo industrial. As paredes são pretas, em contraste com o interior da casa, e os guarda-corpos entre os pavimentos são de aço, na mesma cor.
É neste espaço, também, que a terraplanagem no interior da Casa Suki fica clara. As vagas para os veículos ficam no mesmo nível da rua, e, somente ao entrar na residência, notam-se os acessos inferiores. No fundo, o pátio central fica evidente ao ganhar pé-direito considerável.
A entrada social da casa segue o mesmo preceito, em uma divisão ainda mais clara, já que a fachada é dividida em dois materiais. Em cima, ou seja, na porção visível pelos pedestres, o revestimento escolhido foi o vidro aramado (permitindo a entrada de luz natural sem possibilitar visibilidade do interior), e embaixo, no espaço que não é de fácil visualização, o vidro transparente revela a amplitude espacial interna.
Ao entrar na residência, há um elemento de transição característico da arquitetura tradicional japonesa: o genkan. Comumente localizado na entrada principal de uma casa, o genkan é um espaço onde os moradores podem remover seus calçados antes que adentrem a morada.
Ele fica abaixo do nível da sala de estar e possui marcenaria desenhada para armazenar calçados e pendurar casacos ou guarda-chuvas. A prática é comum na etiqueta japonesa e previne que as pessoas levem impurezas para o interior da casa.
O genkan, no nível inferior à sala de estar
Subindo as escadas, no nível intermediário, a sala de estar é marcada pelo ápice da simplicidade. A decoração é formada por duas cadeiras, um tronco de madeira que atua como um grande banco, mesa de centro e uma estante de livros, na parede.
Na parte superior ficam a área de serviço e a cozinha. Esta, além de acesso direto à garagem, ganhou uma varanda com churrasqueira e abertura para o pátio central. No pavimento inferior, por sua vez, estão os três quartos, banheiros e escritórios.
Veja outros projetos na Galeria da Arquitetura:
Haras Larissa, por Gui Mattos
Casa Luar, por Felipe Caboclo Arquitetura
NY, 205, por Hype Studio Arquitetura
Escritório
Termos mais buscados