Coube à equipe da CoDA arquitetos a tarefa de conceber o projeto arquitetônico da segunda sede da Fabrika Filmes – produtora de vídeos, que tem outras duas unidades também implantadas na cidade de Brasília (DF). Os idealizadores Pedro Grilo, Gabriel Nogueira e Guilherme Araujo desenvolveram um edifício que atende às necessidades técnicas da empresa sem abandonar seu caráter social, reforçado pelo átrio central e pelas amplas varandas que estimulam o convívio.
Essa distribuição integralmente vazada de cima a baixo proporciona maior conexão visual entre as diversas áreas do prédio e possibilita uma quantidade maior de encontros, o que reforça o caráter social da Fabrika Pedro GriloEm 2008, quando o projeto começou a ser desenhado, os arquitetos encontraram o primeiro desafio. O terreno escolhido para inserir o novo prédio da produtora estava situado no trecho 17 do SIA (Setor de Indústrias e Abastecimento de Brasília) – gleba que até então era pouco definida em relação ao contexto urbano.
De acordo com Grilo, essa área foi projetada a partir de um programa de incentivo, estabelecido pelo governo do distrito, que construiu a maior parte dos edifícios sem antes ter traçado um plano urbanístico. Sem um elemento de diálogo que servisse como base para as primeiras decisões arquitetônicas, o escritório CoDA procurou criar um prédio que desse o ponta-pé inicial para a valorização da região.
Já na face frontal, a Fabrika Filmes diz a que veio: à frente das chapas de alumínio adesivados em diversos tons de amarelo, um painel de lona translúcida recebe grafites em branco e preto. A figura que se forma (de um cameraman manuseando o aparelho) sintetiza as atividades da empresa.
Abaixo dali, observa-se um elemento de concreto revestido de fulget preto, que se prolonga até a fachada lateral leste. Com esse mesmo acabamento surge a marquise, instalada logo na entrada do edifício para proteger o acesso dos pedestres ao longo do percurso. Ao lado dessa estrutura, o verde das plantas, que enfeita o pátio do restaurante, complementa a composição contrastante da face frontal da edificação.
Na fachada que recebe maior insolação (leste), foram dispostas as varandas num balanço de 1,8 metros, com guarda-corpos de 1,20 metros de altura fabricados em chapas metálicas perfuradas na cor branca. Interrompendo a estrutura de aço, uma faixa vertical de vidro percorre os segundo e terceiro pisos, indicando, pelo lado de fora, o vazio do átrio. Tais ambientes se voltam para uma área onde agora funciona o estacionamento, mas que, futuramente, servirá para expansões.
Como escreve Grilo, essas medidas deram algumas vantagens ao prédio, como a abundância de luz natural e ventilação cruzada, o que minimiza, na maioria das vezes, o uso de recursos artificiais de iluminação e circulação de ar.
Sem terraços, a fachada correspondente à lateral oeste possui janelas menores, mas também segue protegida por brises metálicos. Enquanto a face leste é destinada aos pedestres, esta conduz os veículos que se direcionam ao estúdio, localizado no subsolo.
Outro trunfo do projeto da Fabrika Filmes foi o posicionamento do estúdio de filmagens, que requeria, assim como as salas de edição, maiores cuidados acústicos, de ventilação e iluminação. Num primeiro momento, a ideia foi colocá-lo no fundo lote, mas isso implicava diretamente no fluxo de circulação das áreas comuns do térreo, que ficariam dispostas ao seu redor. Optou-se, então, por manter essa configuração, no entanto, utilizando o subsolo exclusivamente para as atividades mais técnicas da empresa.
Semienterrado, o estúdio tem acesso pelo pavimento inferior e foi disposto na parte posterior do subsolo, enquanto segue envolvido pelas áreas anexas, como a sala de computação gráfica e as ilhas de edição.
Segundo Grilo, o fato de a construção ocupar cerca de 80% da área do subsolo exigia atenção especial quanto à ventilação e à iluminação. Para resolver isso, foram estabelecidas saídas de ar quente e entrada de luz. Mesmo com as restrições de iluminação, outras aberturas garantem a conexão deste andar com o exterior, como o jardim vertical que aponta desde o térreo a partir de um rasgo no terreno. “Essa enorme parede verde sinaliza a presença de vida no subsolo. Afinal, é nesse núcleo que as pessoas passam a maior parte do tempo trabalhando, muitas vezes madrugada adentro. Nesses momentos torna-se fundamental a distinção entre o dia e a noite”, comenta.
Ao acomodar o estúdio na parte posterior do lote, os arquitetos decidiram alocar a entrada principal da Fabrika Filmes na lateral do edifício, enquanto a circulação vertical acontece na área central. Conforme explica Grilo, essa configuração divide os andares superiores em duas partes e origina o átrio vazado, com pé-direito de 10,8 metros de altura.
Nesse ambiente é possível observar o trânsito das pessoas por conta das escadas vazadas, das passarelas com guarda-corpos de vidro e do elevador hidráulico, que também possui fechamento transparente. “Essa distribuição integralmente vazada de cima a baixo proporciona maior conexão visual entre as diversas áreas do prédio e possibilita uma quantidade maior de encontros, o que reforça o caráter social da Fabrika”, complementa o arquiteto.
Ainda ali, os arquitetos encontraram mais uma maneira de fugir do habitual. Contrastando com o formato do piso do átrio e da cobertura (um quadrado perfeito), as passarelas ganharam angulações diferentes, que criam um vazio cujo desenho lembra um cubo torcido. “Além disso, esse efeito é reforçado pela paginação de madeira, que reveste tanto os forros quanto os pisos das passarelas”, expõe Grilo.
Em contraponto à certa irregularidade, o piso do átrio – formado por 16 placas cimentícias de 120 cm x 120 cm – espelha a modulação da cobertura.
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