Texto: Naíza Ximenes
“É sempre um grande desafio e uma honra trabalhar a memória e conectá-la de maneira inovadora com os tempos atuais, vislumbrando o futuro. Esse foi o grande motivador para o projeto do Paysandu 23, o antigo Hotel Paysandu”, conta o arquiteto Fernando Costa, sócio da Cité Arquitetura. Responsável pela revitalização do antigo empreendimento, o escritório transformou o imóvel tombado em um edifício residencial com 50 apartamentos.
O projeto de retrofit aconteceu no Rio de Janeiro, no bairro do Flamengo. O prédio, que se tornou propriedade da construtora Pimo Empreendimentos, é marcado pela fachada no estilo Art Déco — um movimento conhecido pela exaltação do luxo e da utilização de materiais nobres, combinando nuances modernistas com o uso de formas geométricas, simetria, equilíbrio, elementos exóticos e glamour.
Projetado pelo arquiteto e engenheiro Francisco Joaquim Bethencourt da Silva, o Hotel Paysandu foi inaugurado em 1907, representando, na época, uma das acomodações mais luxuosas na cidade. Além de um marco arquitetônico, o prédio teve um papel muito importante na consolidação da capital carioca como um grande centro turístico e cultural — o que justifica o tombamento do prédio, em 2001, como um patrimônio histórico.
Renomeado como Paysandu 23, o projeto ganhou novos apartamentos — com unidades de 31, 34 e 42 metros quadrados, unidades de duas suítes e 46 metros quadrados, e unidades de dois quartos e 52 metros quadrados —, além de novos espaços coletivos, área de lazer com piscina no rooftop, lavanderia, máquinas de venda automática e espaços de coworking.
Apesar das novidades, manter os elementos que definem a arquitetura pré-existente era uma necessidade primordial no projeto. Isso porque, segundo a legislação, imóveis tombados podem até ser vendidos, alugados ou herdados, mas jamais podem ser descaracterizados. Além disso, nenhuma reforma ou projeto de retrofit pode comprometer a historicidade e o valor artístico do edifício — fazendo necessária a autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para intervenções em obras do tipo.
Apesar de estarem impossibilitados de realizar qualquer alteração na fachada do prédio, os arquitetos da Cité Arquitetura investiram em um processo completo de recuperação e resgate do brilho da fachada do Paysandu 23.
Com projeto de iluminação do escritório Maneco Quinderé, as reentrâncias entre as janelas e beirais, que marcam todos os andares, ganharam luzes de led discretas, todas em tons quentes. Ainda que simples, a estratégia cria um destaque sutil para o hotel — em especial, durante à noite.
No ambiente à frente da área de acesso, o paisagismo, do escritório Burle Marx, é o protagonista. Ele se mescla ao mosaico português do piso, proporcionando um aspecto convidativo à entrada do hotel, e preenche o vão entre as duas portas de acesso, evitando espaços vazios no local.
A porta principal do prédio — de material metálico marrom e com muitas ornamentações em arabescos — também segue um estilo Art Déco, bem como todo o hall de entrada. O ambiente onde fica a recepção é marcado por um porcelanato rajado cinza que reveste tanto as paredes, quanto o piso do local. O mesmo tom de cor é refletido na parede que ganhou boiserie em toda a sua extensão (um elemento característico do movimento arquitetônico, principalmente pela sua associação à elegância em um design), que foi harmoniosamente combinado com espelhos.
A paleta de cores acinzentada do hall é equilibrada pelo toque de cor do mobiliário: verde no sofá e dourado e roxo na poltrona, além dos pendentes de luz redondos. As luminárias de chão, atrás do sofá, também fazem alusão aos anos 1920, quando o movimento Art Déco surgiu.
No fundo da recepção, há um corredor que leva à área gourmet do edifício, com uma pequena cozinha, bancada contornada por poltronas de couro, cadeiras de palha indiana e um sofá de couro na extremidade oposta à cozinha. Logo à frente, ficam os elevadores de acesso aos outros andares, e, no fundo, os apartamentos do pavimento térreo.
Os ambientes no entorno do prédio também ganharam um extenso projeto de paisagismo, marcado pela vegetação, que cria passagens por toda a área ao ar livre. Diferente do ambiente externo, as amenidades do interior do prédio ganharam bancadas ora pretas, ora de porcelanato cinza, presentes na lavanderia e no coworking.
No terraço, onde estão concentradas as áreas de lazer do edifício, os materiais predominantes são a madeira (no mobiliário e no pergolado sobre a área do churrasco) e o revestimento de pedra levemente acinzentado, no chão e na meia parede. Guarda-corpos de vidro garantem visualização total do entorno da cidade maravilhosa.
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