Assimetria, fachadas translúcidas, projeto luminotécnico sob medida e construção sustentável dão o tom da ousadia arquitetônica no empreendimento de grande porte da Tishman Speyer, o Rochaverá Corporate Towers. O complexo de escritórios com quatro torres – duas delas já implantadas na marginal Pinheiros da capital paulista – foi projetado pelo escritório Aflalo & Gasperini Arquitetos em torno de uma praça central e exibe desafiantes ângulos não ortogonais, onde as laterais das torres A e B têm inclinação de 9º.A solução consome menos ar-condicionado e, consequentemente, proporciona a redução no consumo de energia elétrica Roberto Aflalo
Translúcidas, as fachadas combinam elementos pré-moldados de concreto revestidos por placas de granito polido e uma estrutura de alumínio e fechamento de vidro. As placas especiais de vidro de alta eficiência energética cobrem 41% da superfície e criam uma barreira ao calor. “A solução exige menor utilização do ar-condicionado e, consequentemente, a redução no consumo de energia elétrica”, expõe Roberto Aflalo.
As primeiras torres concluídas – A e B – são gêmeas, com basicamente o mesmo projeto: 16 pavimentos-tipo, fachadas inclinadas e lajes maiores nos andares superiores. Roberto Aflalo explica que a principal diferença entre elas está nas plantas, que são espelhadas. “A torre D é a menor das quatro e a C será a maior de todas, com um edifício-garagem”, complementa.
O conjunto de edifícios foi implantado em um terreno com três frentes: avenidas Chucri Zaidan e das Nações Unidas e Rua do Estacionamento com acesso direto a dois dos principais centros comerciais de São Paulo, além de fácil conexão com todas as regiões da cidade – de carro, trem e metrô. A excelente situação evidencia também a presença marcante do conjunto na região.
O Rochaverá é o primeiro ícone de um trecho comercial planejado para ser tomado por outros grandes empreendimentos, tais como o Morumbi Corporate – da Multiplan – e o Parque da Cidade, em construção, que conta com cinco torres de escritórios, uma de hotel, uma de salas comerciais e outras duas residenciais, além de um centro comercial que atua como uma âncora no lado oposto aos shoppings existentes.
Para Aflalo, o aglomerado tem proporções relevantes ao considerar a quantidade de pessoas que circulam nessa região. “São aproximadamente 600 mil m² que receberão cerca de 50 a 60 mil pessoas diariamente, ou seja, em uma única quadra concentra-se um volume maior do que muitas cidades brasileiras”.
O paisagismo favorece 30 mil metros quadrados de terreno, com projeto elaborado pelo escritório californiano de Pamela Burton e colaboração e seleção arbórea desenvolvida em conjunto com o arquiteto e paisagista Sérgio Santana, que tropicalizou o jardim.
O objetivo principal foi privilegiar a circulação de pedestres com caminhos sinuosos e recantos acolhedores. À margem das vias de acesso, o empreendimento preservou árvores de grande porte que configuram um ‘rio’ ao permear as torres, criando uma praça central, ambiente de estar e relaxamento para os usuários.
Acessos de veículos são restritos à entrada do prédio. Na área frontal do paisagismo, dois espelhos com queda d’água criam uma atmosfera refrescante. Durante a noite o projeto de iluminação realizado pelo light designer Guinter Parshalk, do Studio IX, evidencia ainda mais o paisagismo e a arquitetura.
Não se trata apenas de lâmpadas e reatores. Trata-se do projeto e do uso de luminárias e soluções óticas mais eficientes Guinter Parschalk
Nas áreas externas, o projeto de iluminação desenvolvido acompanha as premissas sutentáveis de todo o edifício, com mínimo de impacto à natureza e máximo favorecimento estético à construção. “Sem dúvida, os pontos de maior destaque no paisagismo são o espelho d’água, as paredes de pedra e a iluminação pendente, formando focos próximos às árvores”, afirma Parshalk.
Ao utilizar postes de vapor metálico e luminárias pendentes LED penduradas nas árvores, o luminotécnico minimizou o consumo energético e a poluição luminosa. Apenas duas paredes de pedra ostentam a solução uplight. Iluminadas de baixo para cima, com luminárias especiais assimétricas e lâmpadas fluorescentes T5, às quais enfatizam sua textura por meio de luz e sombra. No espelho d’água, linhas LED azul pontuam os nichos formados por cada degrau e seus desníveis.
Antes de cumprir apenas um requisito estético, a iluminação do complexo Rochaverá cumpre seus objetivos funcionais, estéticos e normativos. “Porém, com uma economia direta e indireta de energia no ciclo de uso do empreendimento, bem como um baixo impacto ambiental no descarte do material quando de sua manutenção e substituição”, explica Parshalk.
Na ponta do lápis, segundo a Osran, foram utilizadas nos edifícios mais de 20 mil lâmpadas fluorescentes, 10 mil e 400 reatores eletrônicos e quase 2 mil lâmpadas, que contribuem para a economia de energia no projeto. “Mas não se trata apenas de lâmpadas e reatores. Trata-se do projeto e do uso de luminárias e soluções óticas mais eficientes”, esclarece Parshalk.
“Apenas no quesito de tecnologia das lâmpadas, das tradicionais T8 de 32W para as T5 de 28W, são 12,5% de economia, porém o LEED tem como normativa – para que a certificação seja recebida – atingir um LPD (Light Power Density) 20% ou mais abaixo da ASHRAE, norma americana para estandardização de consumo de energia”, completa o light designer.
Responsáveis pela primeira impressão em qualquer empreendimento, os lobbys com quase 7 m de pé-direito demonstram a total integração entre arquitetura, paisagismo e iluminação. Projetados com arcadas, fechamento com vidro estrutural e ausência de pilares metálicos para a sustentação, a cobertura tradicional de acesso ao edifício foi eliminada, o que proporciona a sensação de integração à praça, abundante luz natural. Para quem chega ao edifício fica a agradável sensação de continuar ao ar livre.
Nas arcadas centrais, internas, o piso de mármore branco e um detalhado trabalho de marcenaria combina-se à quase invisível fachada de vidro. O forro exibe planos de gesso branco em forma de ‘L’, dispostos com leve inclinação frontal abaixo de um fundo negro. O artifício os fazem parecer estar flutuando no espaço.
A iluminação precisou homogeneizar esses elementos flutuantes, para criar uma visualização de figura e fundo e enfatizar a percepção 3D do espaço. “Sem dúvida a ilumiminação geral do lobby foi a mais complexa. Nele, os grandes planos de gesso no teto são iluminados, sem se saber de onde vem a luz”, explica Parshalk.
A mágica foi realizada com iluminação indireta, por reflexão, feita com luminárias assimétricas flexíveis montadas dentro de um nicho/ sanca de madeira especialmente criado para abrigar a iluminação, que pode ser ajustada para se tornar mais homogênea possível. Para cumprir as questões de segurança e eficiência energética, utilizou-se uma combinação de projetores e luminárias assimétricas com vapor metálico e fluorescentes T5. O resultado é um teto branco luminoso e claro, sem a presença física de luminárias.
A edificação é referência sustentável no país, e as duas primeiras torres acabam de ser certificadas pelo GBC – Green Building Council – com o LEED na categoria “Gold”.
Para obter a certificação, o complexo de torres empresariais atendeu a quatro critérios: redução do consumo de energia e dos custos operacionais e de manutenção; diminuição do uso de recursos ambientais não renováveis; melhora da qualidade do ar interno do edifício; melhora da qualidade de vida e da saúde dos usuários, otimizando a qualidade do ambiente construído.
O prédio elenca a automação de vários itens como iluminação, elevadores e ar-condicionado. O resultado é uma economia de 10,5% de energia elétrica em relação ao edifício padrão da norma técnica internacional ASHLEY. “Pelo padrão brasileiro, um prédio como esse consome 40,96 kWh/m²”, explica o diretor da Tishman Speyer, Luiz Henrique Ceotto. A perspectiva é cair para 22,40 6 kWh/m², “o que representa quase 50% de economia”, comemora o engenheiro.
Soluções como o tratamento das águas de chuva, da cinza – de lavatório – e da água de condensação das torres de resfriamento, encaminhada para as torres de resfriamento e irrigação de jardins, também otimizam o funcionamento do edifício. “O uso e a conservação de água otimizados resultaram na redução de 50% do consumo”, revela Ceotto. Na prática, isso representa o consumo de 122 L/m², quando em um edifício de porte semelhante, a média anual consumida é de 197 L/m². Luiz Henrique Ceotto revela que a Tishman estuda a possibilidade de implantação de ETE – Estação de Tratamento de Água de Esgoto. “Com a ação, o consumo total cairia para 57 L/m²”, calcula o engenheiro.
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