A Casa Hangar reflete o universo de um casal entusiasta da aviação, cujo desejo era usufruir de uma edificação que incorporasse dois usos distintos: a morada de campo e o abrigo para guardar aviões. A partir dessa premissa, os arquitetos Chantal e Tito Ficarelli, irmãos associados do escritório ARKTITO, criaram um espaço de estilo industrial, porém delicado.
A Casa Hangar mexe com a imaginação das pessoas, pela sensação de estar dentro do seu domicílio, escutando o roncar dos motores dos aviões que estão no telhado Tito FicarelliPara desenvolver o projeto arquitetônico da Casa Hangar, os profissionais sobrevoaram o universo da aviação, baseando-se em estudos sobre a atividade e os equipamentos pertinentes a ela. A partir disso, puderam compreender a necessidade dos clientes que, além de pilotarem, cultivavam o hobby de comprar e reparar aeronaves antigas, mas, devido à falta de um local adequado para guardá-las, utilizavam um hangar alugado.
Durante a procura por um terreno que pudesse abrigar os usos pretendidos, os moradores encontraram um espaço próximo à cidade de Sorocaba (SP), dentro de um condomínio cujas práticas eram voltadas aos apaixonados pela aviação. “Esse lugar possui uma pista de pouso central, de onde saem pistas menores que desembocam nos hangares. Avaliamos a construção e concluímos que haveria metragem suficiente para acomodar as máquinas e para criar os ambientes de um lar”, conta Tito Ficarelli.
Os lotes do condomínio dispõem de duas frentes. A primeira direciona-se para o nível da pista de pouso, enquanto a segunda fica no patamar da rua, excepcionalmente destinada ao trânsito de veículos terrestres. Assim, ao contrário da parcela de cima do terreno – utilizada para o abrigo dos aviões –, a zona de baixo era um vazio sem uso, apenas preenchido pela estrutura de pilotis. Por conta disso, esse espaço foi reaproveitado como moradia.
“Esse é o ponto mais interessante do projeto: utilizar um lugar preexistente e adaptá-lo ao nosso desafio de montar uma casa”, sinaliza Tito. “A Casa Hangar mexe com a imaginação das pessoas, pela sensação de estar dentro do seu domicílio, escutando o roncar dos motores dos aviões que estão no telhado”, se entusiasma.
O conjunto desses materiais e da estrutura metálica remete à aparência de um galpão industrial Chantal FicarelliForam realizadas algumas intervenções com o objetivo de unir o galpão à residência. Uma delas consistiu em criar uma passagem dentro do imóvel – definida pela escada metálica –, que é responsável pela transição entre os pavimentos.
Outro elemento metálico também inserido no projeto arquitetônico é a passarela externa. Instalada na fachada em formato de “L”, ela permite o acesso aos aquecedores de água e serve de observatório para quem está no hangar e pretende analisar o clima, por exemplo.
“No final, essa estrutura resultou em um desenho estético específico, que confere modernidade à casa”, expõe Tito Ficarelli, informando que ainda incorporaram uma varanda com estrutura em concreto aparente. “Esse espaço criou pequenas marquises na frente das janelas dos quartos e da sala, as quais protegem os caixilhos”, acrescenta.
Apesar de formarem um bloco único, a residência e o hangar diferenciam-se pelos materiais de acabamento adotados, de tal modo que, a partir deles, é possível estabelecer o contraste entre o novo e o velho. Por conta disso, o andar que abriga os aviões foi pintado com uma cor neutra – tendo em vista a chamativa pintura eletrostática do telhado verde –, ao passo que o pavimento de baixo é completamente revestido de tijolos. “O material aparece até no interior da residência, como se a fachada dobrasse para dentro em algumas partes do projeto”, adiciona Chantal Ficarelli.
Segundo os arquitetos, o interior da Casa Hangar mantém a neutralidade dos ambientes por meio de pisos de porcelanato com aspecto de cimento queimado e de paredes claras, até porque o espaço tenderia a ficar muito escuro em função da caixilharia preta e do concreto. “O conjunto desses materiais e da estrutura metálica remete à aparência de um galpão industrial”, define Chantal, enquanto Tito destaca a composição do mobiliário, com alguns detalhes de cores naturais, como um sofá da cor da grama, outro na cor do céu, além das cadeiras em vermelho e os balcões de madeira conversando com o tijolo.
Como o terreno é extremamente extenso – possui cerca de 2,5 mil m² –, os caminhos normalmente são realizados com carros. Então, para não desgastar o gramado, foram aplicadas tampas de fossa séptica que, com diferentes tamanhos, criam um jogo de desenhos a partir do formato redondo, além de combinar com a meia-esfera do telhado.
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