A identidade das obras de Oscar Niemeyer com os inconfundíveis pilares que tomam as fachadas e criam uma grande varanda nos Palácios do Planalto, da Justiça, do Itamaraty e da Alvorada serviram de inspiração para o Estádio Nacional de Brasília, popularmente conhecido como Mané Garrincha.
Mais do que o valor estético, a “floresta de pilares” – como bem define o arquiteto Eduardo de Castro Mello – compõe a estrutura do estádio projetado para sediar a Copa do Mundo de 2014. “O projeto mantém a mesma intenção arquitetônica revelada nas obras icônicas da cidade e foge um pouco daquele modelo de estádio marcante com as arquibancadas saindo do partido. Então surgiram esses 288 pilares de concreto com 1,20 m de diâmetro que são utilizados para dar sustentação a um grande anel de compressão, de onde partem os cabos de aço e uma nova estrutura que recebe a cobertura propriamente dita para cobrir um vão de 60 m”, conta.
A estrutura metálica com os cabos recebe uma membrana de PTFE – fibra de vidro e teflon – amparada pelo anel já citado com 22 m de largura e 1 km de extensão.
“Essa ‘autopista’ serve para a colocação de mais de 9,5 mil painéis fotovoltaicos que tomam 13,5 mil m². Este mecanismo captará a energia solar abundante da região e de graça, transformando-a em energia elétrica. Poderá gerar até 2.5 mil WH de energia, o que é muito superior ao necessário para o funcionamento do estádio”, afirma.
Ainda de acordo com o arquiteto, “a cobertura funciona como um grande ‘chapéu’ – um sombreiro mexicano, que projeta a sombra e confere conforto para as pessoas que estarão no interior do estádio. Essa cobertura é propositalmente posicionada acima do último degrau da arquibancada, possibilitando a passagem do vento constante”.
Vale ressaltar que a parte central da cobertura – que chega a 83 m de diâmetro – posteriormente receberá um sistema retrátil (de abrir e fechar) apoiado na parte fixa da estrutura, com cabos de aço fixos e deslizantes. O material escolhido para este trecho será em membrana flexível de alta resistência e durabilidade, composta por malha de fibra de vidro recoberta com vinil de elevado desempenho.
O projeto contém outras soluções que atendem as exigências do USGBC – U.S. Green Building Council –, com real possibilidade de alcançar a certificação Gold.
Essa ‘autopista’ serve para a colocação de mais de 9,5 mil painéis fotovoltaicos que tomam 13,5 mil m². Este mecanismo captará a energia solar abundante da região e de graça, transformando-a em energia elétrica. Poderá gerar até 2.5 mil WH de energia, o que é muito superior ao necessário para o funcionamento do estádio Eduardo de Castro Mello“Essas questões abrangem ventilação natural – proporcionada pelas aberturas estrategicamente criadas entre os níveis de arquibancada –, consumo reduzido de energia e captação de água pluvial, que ocorre na cobertura e nas áreas do estacionamento ao redor do estádio com pisos drenantes e biovaletas. A água é direcionada para cinco cisternas e será utilizada para lavagem de pisos, bacia sanitária, mictórios, irrigação do campo e outras aplicações que visam evitar o gasto com água potável”.
Para viabilizar essa nova estrutura marcada pela cobertura e pela repetição de pilares, o antigo estádio foi totalmente remodelado. A pista de atletismo que permeava o gramado foi eliminada, e o campo rebaixado a um nível de 4,8 m. Com o objetivo de atender os itens de visibilidade, as arquibancadas superiores e intermediárias foram substituídas por outra proposta arquitetônica.
Criou-se uma nova arquibancada inferior – esta mais próxima ao campo de jogo e com o dobro de capacidade existente –, e mais três níveis que fecham totalmente o anel em torno do campo. A cota de soleira foi deslocada em 1,8 m. “Na realidade são quatro níveis de arquibancada, sendo uma na parte inferior e outra no pavimento térreo. Dessa forma, impedimos a existência de ‘assentos mortos’, como são chamadas as áreas com visibilidade restrita”, explica.
Eduardo conta que “a arquibancada superior é atingida por rampas tangenciais e que estão colocadas entre os pilares – todas com declividade calculada para atender pessoas com mobilidade reduzida. Assim, há acessibilidade total para o estádio. Há, inclusive, a opção de um cadeirante assistir o jogo pela arquibancada superior”.
Dessa maneira, o projeto contempla a acessibilidade total em todas as suas dependências atendendo às exigências da ABNT NBR 9050.
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