A Carbondale – escritório de arquitetura dirigido pelo arquiteto Eric Carlson – foi convidada pela grife italiana Dolce & Gabbana para projetar três lojas, cada uma em uma cidade diferente: Montecarlo, Pequim e Veneza. Este último destino foi o primeiro a inaugurar a nova boutique da marca, no primeiro semestre de 2017. Seu projeto evidencia uma arquitetura contemporânea personalizada que se funde ao artesanato local para dar luz a ambientes distintos, com muitas cores e revestimentos.
Segundo Carlson, a ideia principal para a loja da Dolce & Gabbana Veneza foi criar uma experiência de varejo diferente, personalizando e reforçando os valores culturais da Itália que são compartilhados tanto pela marca quanto pela cidade.
Para isso, era fundamental entender Veneza como um destino cultural, onde acontecem grandes eventos artísticos, como o Festival Internacional de Cinema, a Bienal de Arte e Arquitetura e, claro, o Carnaval. Isso sem contar os marcos arquitetônicos, o urbanismo singular de uma cidade construída sobre as águas e o artesanato de tradicionais famílias venezianas.
Esse compromisso com o patrimônio artístico tornou-se, portanto, a gênese do design arquitetônico da loja de Veneza. O desafio teve a contribuição das associações Save Venice INC e Venetian Heritage – organizações criadas nos Estados Unidos que dão suporte e preservam a herança artística e cultural da cidade.
Ao longo da Via XXII Marzo, a loja Dolce & Gabbana Veneza ocupa os três andares do histórico edifício Palazzo Torres. Com estilo renascentista neoveneziano, o prédio – que antes abrigava um banco – foi construído em 1880 e projetado pelo arquiteto e escultor Giuseppe Torres.
Sem destoar das demais edificações que ocupam a via, a fachada de pedra simétrica foi cuidadosamente restaurada pela Carbondale. O térreo segue marcado pelas modernas vitrines, enquanto os últimos dois pisos mantêm as aberturas arqueadas, voltadas tanto para varandas quanto para janelas.
O programa da loja Dolce & Gabbana Veneza evoca, conscientemente, a configuração da cidade ao ser distribuído com inúmeras salas, tal como um palácio. Ao passar pela entrada, os visitantes são recepcionados por uma ampla “sala de boas-vindas”. Neste espaço suntuoso, paredes e tetos esculpidos em madeira foram restaurados com marchetaria incrustada; no piso, o mármore policromático cria um mosaico.
Em seguida, um átrio central direciona o fluxo para a joalheira (aos fundos), bem como para as salas dedicadas ao vestuário/calçado feminino (à esquerda) e masculino (à direita). Nesse corredor, uma parede de 20 x 4,5 metros faz o suporte para 45 prateleiras suspensas de latão que exibem as últimas bolsas e acessórios da Dolce & Gabbana.
Como acrescenta Carlson, a parede do átrio ainda se destaca pelo revestimento em vidro dourado de 24 quilates. A arte, cujo desenho também originou um mosaico, foi feita à mão pelos tradicionais artesãos Orsoni e Friul.
A sala destinada à moda feminina diferencia-se pela cor vermelha, presente nas paredes revestidas com mármores rosso levanto e no piso feito em mosaico de pedra. Já na ala masculina, que tem piso de mármore, predomina o verde com paredes ora revelando mármores irlandeses, ora cobertas por sedas adamascadas.
Nos fundos da loja fica a joalheria, caracterizada pela tonalidade azul. Algumas paredes ganham mármores italianos azuis boquira; e outras recebem revestimento de vidro pontuado por estrelas – feitas com o mesmo material, porém, de matiz dourado. De acordo com Carlson, elas foram inspiradas no pórtico da Basílica de São Marcos, uma das igrejas mais famosas de Veneza.
As duas áreas (azul e verde) são embaladas em damascos de seda, que foram produzidos por tradicionais tecelãs venezianas, como de Luigi Bevilacqua e Rubelli Venezia.
Outro resgate à cultura da cidade diz respeito à fabricação de maçanetas das portas, ganchos de roupa, expositores e espelhos. Todas as peças foram sopradas a mão no vidro murano pela família Família Seguso.
No segundo andar da Dolce & Gabbana Veneza encontram-se as salas reservadas ao traje de gala feminino, as quais também adotam o dourado. Surgem pisos incrustados de madeira, bem como paredes às vezes revestidas em damasco brilhante, às vezes feitas de mármore giallo siena.
Voltadas para a rua, três salas acomodam duas coleções especiais da marca: “Alta Sartoria” para homens e “Serra” para mulhares. Por ali espalha-se um mobiliário específico, que foi desenhado pela Carbondale para acomodar as peças.
Outros móveis que chamam atenção em todos os ambientes da loja são as cadeiras, cujos assentos foram inspirados pela "alma couturier" dos estilistas fundadores da marca, Domenico Dolce e Stefano Gabbana. Cobertos por luxuosos veludos coloridos, eles possuem grande semelhança com as almofadas de alfinetes (instrumento indispensável dos alfaiates).
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