Um casal que vive de sua criatividade – ela design de moda e ele tatuador e ilustrador – convidou o escritório Bloco Z Arquitetura para projetar e decorar seu novo imóvel – um apartamento de 70 m² com a planta totalmente livre, ou seja, sem nenhuma segmentação dos cômodos.
Com algumas diretrizes na mão, que incluíam valorizar essa integração entre os ambientes para dar espaço à proliferação de ideias dos moradores, as arquitetas Taís Nicolacópulos e Débora Feistauer deram início ao Apartamento FRV.
“Temos uma metodologia própria que explora muito a personalidade e as vivências dos clientes. Isso nos dá a possibilidade desenhar um conceito mais certeiro para cada projeto”, comenta Taís, uma das sócias-fundadoras do escritório.
Com esses clientes que ‘pintam e bordam’, era impossível projetarmos um apartamento sóbrio Débora FeistauerA planta livre do imóvel foi encarada pelas arquitetas como uma tela em branco, permitindo ousadias. “Com esses clientes que ‘pintam e bordam’, era impossível projetarmos um apartamento sóbrio”, brinca Débora.
Para ‘construir os cômodos’ de maneira criativa e sem deixar de lado a fluidez do espaço, as arquitetas optaram, num primeiro momento, por um painel de serralheria móvel, que de um lado abriga bolsas (compostas de 70% de tecido proveniente de garrafas PET) com vegetações – criando uma espécie de jardim vertical desconstruído – e do outro serve como suporte para as peças de artes dos clientes.
Localizado na frente da bancada do ateliê, onde a moradora desenvolve seu trabalho no dia a dia, ele é responsável por criar uma camada de proteção visual entre esse espaço e a sala de estar.
Para povoar o jardim foram escolhidas três espécies que vivem bem em ambientes internos. A samambaia, muito utilizada na decoração, exige poucos cuidados e é bastante resistente. A jiboia, que é ideal para o cultivo em apartamentos, visto que é uma planta de meia luz e não precisa receber sol diretamente – inclusive se adapta muito bem em ambientes com uso frequente de ar-condicionado. Por último, aparecem as peperômias, famosas por seus galhos pendentes e escolhas certeiras para vasos e jardineiras suspensas.
Outro ambiente que ganhou privacidade foi um dos dormitórios, graças à instalação de uma porta de correr de madeira piso-teto que, quando fechada, veda completamente o espaço e o separa do ateliê logo à frente.
Os dois recursos utilizados para compor os ambientes possibilitam quatro configurações diferentes para a planta do apartamento. “É possível que o casal compartilhe os espaços do quarto e ateliê, sala e ateliê, dividam os três cômodos ou circulem por todo o apartamento sem fazer distinção entre eles”, explica Taís.
O resultado do projeto passa longe do óbvio, deixando a sobriedade de lado para impressionar quem entra no apartamento, e encher a cabeça de seus moradores de ideias Taís NicolacópulosAlém disso, foram feitas outras mudanças no layout original. “A planta original era com uma cozinha integrada com a lavanderia, dois banheiros e uma planta livre que possibilitava a formação de uma sala e dois dormitórios. Com o uso de divisórias, foi possível dividir a cozinha da lavanderia e criar uma suíte, que, quando aberta, fica totalmente integrada com as salas e o home office”, completa.
“Neste apartamento foi explorado um conceito muito urbano na maneira de viver, tanto no layout como nos materiais utilizados”, comenta Débora sobre a escolha dos revestimentos. “Tivemos que selecionar as principais ideias entre tantas que surgiram e organizar a paleta de cores, que é uma coisa de que eles gostam muito”, complementa.
Tendo o cinza como a cor base, foi possível explorar cores no mobiliário, nos revestimentos, nos objetos, na vegetação e nas próprias artes pessoais dos clientes. “Exemplos disso são os móveis da cozinha e o ousado banheiro bicolor. O preto também imprime sua forte marca no banheiro de visitas”, completa a arquiteta. Para o chão, foi escolhido um revestimento de porcelanato na cor areia que unifica todos os ambientes.
O estilo industrial do projeto levou à decisão de não instalar forro de gesso no apartamento, permitindo que a laje ficasse aparente e a iluminação fosse distribuída através dos eletrodutos metálicos. A transição de tonalidades nos eletrodutos cria uma certa hierarquia nos ambientes – na sala eles foram pintados de verde água e aos poucos vão ficando na sua cor original metálica.
“O resultado do projeto passa longe do óbvio, deixando a sobriedade de lado para impressionar quem entra no apartamento, e encher a cabeça de seus moradores de ideias”, filosofa Taís, claramente feliz com o resultado desse desafio.
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