Muito além de um projeto residencial, a Casa Palicourea é um espaço de contemplação do Cerrado e propõe uma nova forma de habitar a região considerando suas especificidades, preservação e possibilidades de convivência equilibrada entre homem e natureza. Ela está localizada em uma área rural da cidade de São Jorge, em frente ao Vale do Segredo, próximo aos limites do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO).
De acordo com Daniel Mangabeira, do BLOCO Arquitetos, escritório que assina o projeto arquitetônico, a paisagem faz parte da morada. “Há uma simbiose entre seus espaços e a contemplação da natureza”, afirma o arquiteto.
Propriedade da arquiteta paisagista Mariana Siqueira, que trabalha com espécies nativas do Cerrado e com a preservação e a recuperação de espécies do bioma da região, a Casa Palicourea é composta por duas edificações ‘irmãs’: uma casa, que fica na parte descendente do lote, e um pequeno ateliê, que fica na porção ascendente. Este último funcionará como seu escritório e abrigará atividades artísticas e educacionais.
Apesar da acentuada inclinação do terreno e da implantação em quatro níveis diferentes, a residência é acessível através de rampas – a circulação lateral, inclusive, contorna toda a propriedade.
Há uma simbiose entre seus espaços e a contemplação da natureza Daniel Mangabeira
O sistema estrutural de ambas as edificações é composto de duas partes que funcionam em conjunto, mas que foram construídas de forma independente uma da outra. Uma é o sistema pré-fabricado, que é de madeira laminada colada (MLC), feito pela ITA Construtora, em São Paulo. E o outro utilizou mão de obra local, na construção de um processo totalmente tradicional de concreto e tijolinho aparente.
O objetivo foi combinar a qualificação e a contratação de mão de obra local e materiais tradicionais de construção a uma grande estrutura leve e pré-fabricada remotamente em MLC e montada no local.
Enquanto o núcleo em concreto e tijolo contém variações de dimensões internas para a distribuição do programa e agrega à sua própria estrutura partes do mobiliário fixo (como as estantes e os armários do ateliê e cozinha, churrasqueira e bancos da casa), a cobertura de madeira possui vãos regulares em cada uma das edificações.
“Como a casa foi implantada de maneira escalonada seguindo a inclinação do terreno, precisávamos fazer com que a cobertura abraçasse todas essas áreas em diferentes níveis”, conta Daniel Mangabeira. Segundo ele, a estrutura da cobertura fica solta do núcleo, criando-se um colchão de ar que minimiza a incidência do calor.
Também visando conforto térmico e redução da iluminação artificial durante o dia, toda a parte de circulação recebeu tijolinhos vazados. “A noite é um outro festival, porque a gente iluminou a cobertura e a impressão que dá é que ela flutua sobre a casa”, menciona o arquiteto.
A casa tem um sistema de energia solar que mistura o fornecimento da rede com a produção de energia local através de placas fotovoltaicas. Além disso, há coleta de água pluvial nas duas edificações, a qual é feita através de calhas lineares.
“Toda a coleta de água cinza (de vaso sanitário e pia) vai para uma ecofossa, é tratada e depois vai para uma caixa de infiltração no solo. Então, a intervenção do uso da casa no meio ambiente é quase mínima”, conclui Mangabeira.
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