A não presença dele na paisagem da cidade é seu diferencial Thiago Bernardes
O edifício reformado em uma área mista – com construções comerciais e residenciais – no bairro de Ipanema, no RJ, é uma construção silenciosa. “Essa definição resume tudo o que realmente queríamos projetar. A não presença dele na paisagem da cidade é seu diferencial”, conta o arquiteto Thiago Bernardes, sócio do escritório Bernardes Arquitetura.
A frente do Edifício Aníbal representou um desafio. “Ela não poderia se perder em meio à confusão visual do entorno, por isso decidimos investir em uma frente muito neutra, que quase passasse despercebida, aproveitando o desejo dos proprietários por uma construção discreta”, conta.
A fachada, feita com painéis metálicos verticais e perfurados, lembra cobogós de alumínio dispostos na diagonal. São quadrados de 15 x 15 cm, com profundidade de 15 centímetros.
De fora para dentro, fica a impressão de um partido resguardado, fechado. A malha de alumínio recobre a edificação e dificulta a visualização do interior em favor da privacidade sem, contudo, barrar a entrada da luz natural pela face frontal – leste. Mas, de dentro para fora, a visão é incrível. No primeiro plano, vê-se um jardim interno com floreiras lineares, alinhadas às janelas, entre a malha de cogobós e a fachada de vidro. Ao fundo, fragmentos da rua.
“O programa era simples, mas precisávamos aproveitar a ocupação máxima do lote.” No embasamento encontram-se garagem, acesso e hall de entrada. Os três pavimentos superiores foram ocupados por três empresas diferentes: uma produtora de cinema, uma editora e um escritório. E na cobertura, os arquitetos organizaram as áreas técnicas – nos fundos – e de convívio, com estar e cozinha, na parte frontal.
Feito com ripas, o nicho de acesso de pedestres se destaca na fachada. Já o portão do estacionamento mantém uma amistosa relação com a rua ao se manter recuado em relação à entrada de pedestres. Ele amplia o espaço da calçada, oferecendo mais conforto aos usuários e transeuntes.
Simples, a estrutura em concreto foi projetada para vencer o vão total do terreno, de maneira a aproveitar ao máximo a espacialidade. Os materiais escolhidos privilegiam a facilidade de manutenção. Tanto a chapa de alumínio da fachada de cobogós quanto a jardineira, também em chapas, e o pano de vidro instalado do piso ao teto, atrás da primeira fachada, têm fácil limpeza.
No interior do edifício, o uso do vidro é intenso. Passarelas com paredes, piso e teto envidraçados interligam visualmente cada um dos andares. Elas também dão acesso à biblioteca instalada nos três andares corporativos. A luz natural entra por este volume e ilumina todos os pavimentos.
Sem divisórias, os andares possuem áreas livres e pé-direito baixo. “Em função da legislação, tínhamos um teto limite de 11 m de altura para o edifício. Outra particularidade é que, para otimizar o espaço, usamos a escada de incêndio existente como escada principal”, revela Thiago. Para adaptá-la à área social, os arquitetos revestiram o acesso de granito em todos os andares. Já o guarda-corpo de vidro recebeu um design diferente, próprio.
A decoração comandada pela arquiteta Cláudia Moreira Salles reflete a arquitetura do prédio, limpa e funcional. Todos os pisos são de madeira e os móveis foram desenhados pela profissional.
Para otimizar o espaço, usamos a escada de incêndio existente como escada principal Thiago BernardesEmbora aparentemente fechado, o prédio tem ventilação cruzada propiciada pelas esquadrias existentes nas fachadas frontais e pelos vazios verticais localizados nos fundos da edificação. “Ao abrir as janelas, o interior da edificação passa a se beneficiar da ventilação natural. Na maior parte do dia, o Edifício Aníbal prescinde do uso de ar-condicionado e de iluminação artificial embutida – há apenas luminárias pendentes. Há uma linguagem arquitetônica extremamente funcional, tanto em seu exterior quanto no interior”, finaliza o arquiteto Thiago Bernardes.
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