A Casa 1 faz parte de um projeto-piloto do Movimento Terras que engloba um conjunto de oito residências localizado na cidade de Pedro do Rio, no Rio de Janeiro. Focado na sustentabilidade, o projeto é reconhecido como pioneiro. “Ele representa a primeira vila ecológica implantada em uma região de loteamentos com infraestrutura e licenciamentos, dotada de parâmetros ambientais compatíveis com a realidade atual”, explica o arquiteto Sérgio Conde Caldas, titular do escritório Sérgio Conde Caldas Arquitetura.
Sendo a primeira construção na vila que busca a excelência em sustentabilidade – BREeam (Building Research Establishment Environmental Assessment Method) –, a Casa 1 é sustentável não apenas ecologicamente, mas também por iniciar um movimentode melhorias para a região. O arquiteto conta que a partir dessa iniciativa, a região poderá começar a ser vista como um local receptivo a outros projetos ambientalmente corretos. “Outro fator importante é o fato de a iniciativa também envolver trabalhadores locais na construção. Engajados socialmente, eles receberam treinamento e aprenderam novas técnicas construtivas, o que é muito positivo”, complementa Sérgio Conde Caldas.
Cientes da importância da ‘ideologia difusora’ inerente ao projeto, os autores condicionaram a proposta à propagação da metodologia de trabalho implementada e dos conhecimentos técnicos com ela adquiridos. Assim, a construção vai além de uma ‘casa verde’, com design e eficiência energética. “Ela propõe um novo método de projetar e construir, que leva o arquiteto a utilizar ferramentas para promover a responsabilidade social”, reflete o arquiteto.
Adaptada ao terreno, a morada com estrutura metálica alia a estética tradicional a um desenho mais arrojado do telhado de duas águas em madeira, que cobre a ala social e de serviços. A beleza da estrutura se opõe de forma harmoniosa à praticidade e ao conforto oferecidos pela laje plana que fecha a área íntima. Esta cobertura com telhado verde, além de enriquecer a estética da fachada, contribui para o conforto térmico no interior da residência.
Outro atributo é o spa que, mesmo semienterrado em uma construção anexa, mantém o comprometimento do partido, favorecendo os fluxos, as vistas e a dualidade entre o intimismo e a amplitude transmitida no projeto desde o seu primeiro traço. O elo entre as diversas ambiências geradas se encontra em um espaço simultaneamente externo e interno, que representa o coração tanto da casa quanto do terreno. “Mas não é por acaso que isso acontece. A contraposição de conceitos existentes no projeto resultou em uma construção capaz de articular a arquitetura às distintas necessidades emocionais e de programa”, lembra Sérgio Conde Caldas.
Os requisitos sustentáveis da Casa 1 começam desde a construção, com vigas e pilares moldados com aço especial, feito com 82% de sucata do metal. Os tijolos que compõem as paredes são feitos de barro prensado, com blocos produzidos sem queima. Sérgio Conde explica que, por não irem ao forno, eles estão livres da emissão de dióxido de carbono no meio ambiente. “Já o assentamento, por meio de encaixe, contribui para uma obra limpa.”
A madeira maciça é certificada pelo IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. O aço das esquadrias é fruto de reuso e não enferruja. Além da preocupação com a escolha dos materiais, que deveriam ter origem sustentável, houve também o cuidado com a escolha da mão de obra, que é local e recebeu capacitação.
Os revestimentos utilizados no interior da casa foram produzidos utilizando 25% de material reaproveitado. Exemplo disso são as pastilhas (3 x 3 cm) dos banheiros íntimos, que possuem em sua composição estilhaços de lâmpadas fluorescentes. E, para auxiliar no funcionamento da residência, a chuva é captada e reaproveitada para regar as plantas. Já os dejetos são recolhidos na fossa séptica capaz de tratar até 90% da água, que, limpa, volta ao meio ambiente.
A garantia do conforto térmico começa pela escolha do telhado de duas águas desencontradas. Elas apresentam uma diferença de 1 metro entre elas, o que exigiu a projeção de brises que permitem a saída do ar quente. A cobertura verde da casa – logo acima da área onde estão localizados os quartos –, também permite a temperatura estável nesta área. Para instalar o teto verde os materiais foram dispostos em quatro camadas: impermeabilizante, material têxtil geossintético antirraiz, areia e, por fim, argila expandida. Alguns trechos têm grama plantada.
Há, ainda, grandes vãos e farta iluminação natural na residência – elementos que reduzem a quantidade de luzes acesas durante o dia. Além disso, todas as lâmpadas são de LED, que tem consumo de energia cinco vezes menor.
O beiral maior, com 1,50 metro oferece a vantagem de proteger a fachada contra a incidência direta do sol. As chapas laminadas Light Blue 52 deixam a luz entrar plenamente, mas barram 48% do calor, por isso colaboram para manter a temperatura interior agradável. “A escolha dispensou o ar-condicionado”, conta Sérgio Conde Caldas.
Ainda inédito no Brasil, o selo BREeam, é a mais antiga certificação de sustentabilidade e a mais disseminada no mundo. Ao buscar esse selo, a Casa 1 se posiciona como uma construção energeticamente eficiente. “E não é só isso”, comenta Sérgio. “Esta obra segue rigorosos padrões em técnicas que viabilizam o baixo consumo de água e de energia elétrica, tratamento de esgoto, conceitos de conforto ambiental, reflorestamento e aproveitamento de materiais reciclados ou de baixo impacto na fabricação”, finaliza.
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