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Hotel Mirante do Gavião

Hotel Mirante do Gavião
O Mirante do Gavião Amazon Lodge possui um projeto que repousa sobre o terreno, integrando arquitetura, paisagem e sociedade. Imagens: Luciano Spinelli
Hotel Mirante do Gavião
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Arquitetura a serviço da natureza

Desenvolvemos diversos estudos climáticos de insolação e ventilação de modo a obter o melhor resultado energético com estratégias passivas e ativas, como análises de índices pluviométricos e umidade relativa do ar, energia solar elétrica e água quente, tratamento de efluentes, inclusão social e materiais naturais Patricia O'Reilly

Texto: Gabrielle Victoriano

Chegar ao Hotel Mirante do Gavião, inaugurado em agosto de 2014, constitui uma aventura para os olhos, além de um despertar natural à consciência ecológica. Distante 200 km de Manaus, capital da Amazônia, a construção localiza-se no município de Novo Airão, no coração do Rio Negro. O acesso por barcos, através do píer, leva seus hóspedes a viajarem por um dos biomas mais ricos do mundo e, ao desembarcarem no hotel, verem-se frente ao Parque Nacional de Anavilhanas, o segundo maior arquipélago fluvial do mundo.

Com tanta riqueza em volta, não poderia ser diferente: o partido arquitetônico nasceu da necessidade de criar uma pousada totalmente integrada ao entorno, com o objetivo de estabelecer uma interligação entre as navegações no Rio Negro – pelos barcos que fazem as expedições – e as chegadas e saídas em terra. A estruturação do projeto do Hotel Mirante do Gavião parte de um planejamento sustentável que prevê o aproveitamento do clima, dos materiais e das tecnologias construtivas locais

A comunidade ribeirinha há anos constrói barcos em madeira através de uma tecnologia passada de pai para filho. Além de aproveitar a mão de obra local, fomenta o aprendizado desta técnica entre a própria população. Por isso a estrutura de madeira do hotel foi feita com o desenho de um barco invertido – permitindo que o conhecimento do povo ribeirinho fosse aplicado na obra.

Sustentabilidade

O projeto, desenvolvido pela equipe do escritório de arquitetura Atelier O’Reilly Architecture & Partners Sustainable Strategies, tem como arquitetos autores Patricia O’Reilly e Armando Prieto, além do coautor Jean Dallazem. O design primou pela integração com a paisagem com o objetivo de buscar conforto térmico, renovação de ar com ventilação cruzada, iluminação natural e acessibilidade.

“Desenvolvemos diversos estudos climáticos de insolação e ventilação de modo a obter o melhor resultado energético com estratégias passivas e ativas, como análises de índices pluviométricos e umidade relativa do ar, energia solar elétrica e água quente, madeira de reflorestamento, horta orgânica, compostagem, tratamento de efluentes, treinamento de mão de obra, inclusão social, materiais naturais e utilização de águas pluviais”, enumera Patricia O' Reilly.

A qualificação das pessoas ribeirinhas é entendida como uma possibilidade de inclusão social que atende um dos tripés da sustentabilidade Foto: Thais Antunes

Benefícios sociais

Duas etapas de formação de mão de obra desenvolveram-se durante a construção do Mirante do Gavião. Na primeira, foram empregadas 60 pessoas da comunidade por dois anos, treinadas pelo mestre da região na construção de barcos feitos com madeira de reflorestamento. Para atender esta equipe de membros da comunidade, uma carpintaria foi montada na obra, formando a mão de obra de moradores.

Na segunda etapa, durante o funcionamento do hotel, 20 pessoas locais treinadas atendem ao público visitante no restaurante Camu Camu, do hotel, nos apartamentos e nas áreas sociais. “É uma qualificação entendida como uma possibilidade de inclusão social que atende a um dos tripés da sustentabilidade”, explica Patricia O’Reilly.

Flora recuperada

A proposta do partido envolve palafitas conectadas por decks, onde prevalece uma ventilação inferior que reduz a temperatura interna. “O Mirante do Gavião Amazon Lodge possui uma arquitetura que repousa sobre o terreno, mas claramente não tem impacto sobre ele, integrando arquitetura, paisagem e sociedade”, defende Armando Prieto.

Dentro desta linha sustentável, vários cuidados foram tomados para revitalizar e evitar a interferência no meio natural. “A construção do hotel está inserida em área urbana antes degradada, com grande impacto negativo no local. Com o objetivo de maximizar o impacto positivo, o lugar está sendo regenerado com espécies nativas, favorecendo o bioma local”, contam os arquitetos.

As construções são relacionadas entre si por sistemas de circulação elevados e decks Armando Prieto

Programa amplo e design natural

As acomodações amplas, rústicas e artesanais refletem a própria floresta tropical Amazônica. “A empresa Expedição Katerre nos pediu uma pousada que tivesse a cara do lugar, para abrigar o público das Expedições existentes. Era preciso proporcionar uma experiência de embarque e desembarque própria e ainda oferecer a opção de descanso antes de seguirem ao aeroporto. Já as pessoas que não fazem parte das expedições de navegação têm a opção de dormir em terra e no hotel descobrir a floresta amazônica”, contam os arquitetos.

O programa inclui unidades habitacionais, áreas operacionais, áreas de serviços e de recreação, entre outros usos, projetados para interagir com a paisagem natural. Os chalés, elevados sobre pilotis, permitem à natureza seguir sem barreiras, de forma natural sem impermeabilizar o solo. Patricia O'Reilly explica que isso acontece porque as palafitas altas permitem a circulação da ventilação inferior, que reduz a umidade e baixa a temperatura interna. “Estas construções são relacionadas entre si por sistemas de circulação elevados e decks”.

Escritório

  • Local: AM, Brasil
  • Início do projeto: 2014
  • Conclusão da obra: 2015
  • Área do terreno: 27.000 m²
  • Área construída: 1.678 m²

Ficha Técnica

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