A Exposição Universal, que está sendo realizada em Milão, Itália, este ano, entre o dia primeiro de maio e outubro, exigiu dos arquitetos a projeção de um pavilhão que deveria refletir os anseios de um país: o Brasil.
O Studio Arthur Casas e o Atelier Marko Brajovic – comissionados pela Agência Brasileira de Exportação e Investimento (APEX) – foram instigados a criar um espaço a partir do tema “Brasil: alimentando o mundo com soluções”. A experiência idealizada pelos arquitetos de ambos escritórios, em colaboração com os curadores Eduardo Biz e Rony Rodrigues, e com o escritório italiano Mosae, transmite os valores brasileiros e as aspirações de setores de agricultura e pecuária. Surge então a ideia de uma rede flexível, fluída e descentralizada que permeia todo o edifício construído e representa a pluralidade do Brasil.
Nosso pavilhão representa um respiro em meio às construções de mais de 130 países. Trata-se de uma praça que convida ao encontro e à descoberta Arthur CasasA rede estendida sobre uma estrutura – e tensionada – cria inusitados locais de descanso e lazer. Ela gera sons de acordo com a quantidade de visitantes e de seus movimentos, como se fosse um grande instrumento musical, com direito à trilha sonora do músico Livio Tragtenberg. Para completar, generosas rampas reforçam a fluidez entre os espaços, a exemplo da arquitetura modernista dos pavilhões nacionais existentes ao longo da história. “Nosso pavilhão representa um respiro em meio às construções de mais de 130 países. Trata-se de uma praça que convida ao encontro e à descoberta”, interpreta o arquiteto Arthur Casas.
O grande volume aberto oferece a permeabilidade da própria cultura brasileira ao acolher os visitantes durante o percurso por entre as mais variadas espécies aqui cultivadas. A brasilidade é clara, também, nas tonalidades terrosas da estrutura de ferro. A ausência de limites entre interior e exterior – há uma transição gradual entre eles – dilui naturalmente a linha que separa a arquitetura e a cenografia. Vale ressaltar que o Expo Milão 2015, por meio do tema Alimentar o planeta, energia para a vida, envolve e estimula a criatividade de cada nação envolvida no evento com o objetivo de promover a inovação para um futuro sustentável.
Assim, todo o projeto brasileiro foi alicerçado pelo desenvolvimento sustentável, mesclando edifício e conteúdo em experiência imersiva única. “Encaramos o desafio de combinar arquitetura e cenografia. Para isso houve uma sinergia entre profissionais de diversas áreas. Juntos, criamos uma proposta capaz de transcender as barreiras entre arquitetura, expografia, evento e conteúdo para transmitir a imagem contemporânea do país”, explica o arquiteto Arthur Casas.
A experiência vivenciada no pavilhão demonstra um Brasil que busca a excelência em uma das áreas cruciais para a humanidade: a alimentação. Nela, a Apex-Brasil propõe a abordagem inovadora correspondente à visão do país como líder na produção agropecuária. Uma nação em permanente movimento de criação, com novos paradigmas no relacionamento da sua sociedade com a natureza, em simbiose transformadora e capaz de traçar novas estratégias.
Fruto de um concurso nacional realizado em 2014, o pavilhão brasileiro se alicerça a partir do tema principal em quatro subtemas: Império das Cores, existente nas diversas espécies tropicais e culturas do Brasil; Fusão Criativa, união entre alta tecnologia, produtividade e ocupação responsável do território; Sabedoria Natural, a coexistência milenar com biodiversidade exuberante; e Poder Humano, resultado do manejo sustentável e da agricultura familiar.
O partido arquitetônico prova ser possível gerar significado e conteúdo com poucos recursos e reduzido impacto ambiental Arthur CasasOs subtemas contemplam a percepção de outros países – Inglaterra, Alemanha, França, China, Índia, Colômbia e Nova Zelândia – sobre o Brasil, sob o ponto de vista das mais variadas culturas. “Amplas, as temáticas evocam as infinitas possibilidades de relação entre homem e natureza, além de indicarem os possíveis caminhos para o entendimento de valores que forjam a brasilidade”, comenta Arthur Casas. Entre as muitas referências que moldaram o pavilhão em Milão estão a alegria e autenticidade; experimentação e liberdade criativa; o conhecimento da biodiversidade e herança cultural milenar; a inclusão social e as relações humanas.
O pavilhão é formado por três elementos básicos: uma praça protegida, uma grande rede de formato orgânico e um edifício polivalente. Entrelaçados, eles não possuem limites claros entre si, formando um percurso holístico capaz de promover diversas possibilidades aos visitantes.
A rede foi inspirada na 13ª Triennale, também realizada em Milão há cinquenta e um anos, quando Lúcio Costa conclamou os italianos a seu “Riposatevi”. Eles lançaram redes que convidavam o povo a relaxar e aproveitar o tempo livre. Arthur Casas arremata: “Hoje, outra rede faz o mesmo pedido e almeja apresentar o Brasil do século 21”.
Esta rede se estende do solo até o segundo pavimento e é capaz de acomodar até mil pessoas ao mesmo tempo. O desenho simples esconde complexos cálculos estruturais e adaptações à restrita legislação de incêndio italiana. Na lateral, rampas conectam os três pavimentos e instigam os visitantes a percorrer o pavilhão livremente. Simbolicamente, ela retrata situações diversas como o encontro dos povos e a interdependência entre ecossistemas.
O edifício polivalente tem revestimento em cortiça e remete aos tons da terra. Com várias funções, integra interior e exterior através de rampas. No térreo, foi criado um grande espaço multiuso, com um auditório de pé-direito duplo separado do foyer por uma grande estante curva de madeira. Este espaço expõe a obra dos irmãos Campana. O segundo andar abriga a galeria interativa, banhada pela luz natural da parede curva feita em material translúcido. A instalação do artista Laerte Ramos, composta por suas ‘casamatas’ de cerâmica, flutua suspensa por cabos e questiona o modo humano de ocupar o espaço e a relação com a natureza.
A grande estrutura metálica de tons terrosos remete ao solo ferroso brasileiro. Concebida em módulos metálicos, apresenta um sistema eficiente com elementos pré-fabricados modulares de fácil montagem e desmontagem, podendo ser reutilizada. A doação para a cidade de Milão será feita em conjunto com o mobiliário após o evento.
Os materiais são certificados e recicláveis, e a construção ainda conta com captação e reciclagem de água, além de otimização da energia, que permitem o racionamento dos gastos nos seis meses do evento. Arthur Casas chama a atenção para a racionalidade do partido arquitetônico. “Ele prova ser possível gerar significado e conteúdo com poucos recursos e reduzido impacto ambiental”.
No térreo do pavilhão, caixas com plantas foram organizadas na trama ortogonal, dando origem a um percurso sinuoso, inspirado no desenho do Amazonas. A galeria na lateral do terreno é revestida em cortiça e destaca-se pelo grande átrio que traz luz natural. Nela estão integrados vários espaços expositivos: auditório, pop-up store, café, lounge para eventos, restaurante e administração. Artistas e designers brasileiros expõem peças ao lado de instalações interativas que narram a revolução em curso na agricultura e pecuária brasileira, baseadas em pesquisas de empresas como a EMBRAPA.
O restaurante exibe a gastronomia brasileira e um pouco do design nacional. Há uma grande mesa comunitária modular com 40 cadeiras de diversos designers brasileiros, desde os renomados Joaquim Tenreiro e Sérgio Rodrigues, a nomes emergentes. Acima das mesas, uma luminária colorida com miçanga, feita pela tribo Yawanawá tem o desenho inspirado em jiboias. Neste espaço, em colaboração com a marca italiana Poliform, o Studio Arthur Casas desenhou o par de cadeiras Lampião e Maria Bonita e as mesas do restaurante e foyer principal.
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