Construída em apenas quatro meses e com conceito invertido, que começou pela instalação da cobertura, a residência Arca foi projetada com a premissa de se integrar totalmente ao entorno. Seu nome foi dado pelos moradores da região, que relacionaram sua forma a de um navio.
“Gosto muito de um arquiteto caribenho que sempre fala que, na arquitetura tropical, primeiro se faz o teto, depois se constrói embaixo. Por isso, a cobertura curvada e que se autossustenta foi instalada antes”, explica Marko Brajovic, responsável pelo projeto arquitetônico. “Eu também tinha uma vontade muito grande de juntar uma alta tecnologia em contraste visual com a natureza, com tensão muito sinergética em nível estrutural. Uma harmonia dinâmica e orgânica”, completa o arquiteto.
A casa Arca conta com uma cozinha, um banheiro, um quarto e uma área aberta para convívio, que pode funcionar tanto como sala quanto como espaço para encontros. O mobiliário desses ambientes é funcional: as camas podem se transformar em sofás e os quartos em salas de produção.
A casa é como um organismo. Parece que ele aterrissou lá no meio e que pode ir embora a qualquer momento Marko BrajovicO arquiteto conta que a residência foi idealizada para ocupar um espaço de seu grande terreno – localizado na área da mata secundária (antiga plantação de banana) e com uma cachoeira no entorno, a 10 km da cidade histórica de Paraty (RJ) – e servir de sede para reuniões e workshops do byNature, grupo que trata questões relacionadas à biomimética como estratégia de projeto.
A não intervenção na topografia do terreno e o efeito de baixo impacto serviram de ponto de partida. “A gente olha para a arquitetura como um espaço de experiência, leve, efêmero... E começa a pensar qual é esta tipologia de arquitetura que melhor se relaciona ao meio ambiente natural, que melhor seleciona nossas exigências. Por isso, o primeiro conceito da Arca foi fazer uma tipologia vertical e não horizontal da casa, porque quando pensamos na mata atlântica, temos essa visão da paisagem vertical e potente da natureza”, explica Brajovic.
O projeto de baixo custo implantou primeiramente os dois pilotis, que servem de base às duas grandes vigas laterais. Depois, a grande estrutura curva da cobertura, feita em aço galvalume, foi parafusada e instalada em apenas sete dias. Ela permite possíveis montagens, desmontagens e múltiplos usos do programa.
Toda a estrutura interna da Arca é feita de madeira – eucalipto tratado e autoclavado –, e as duas faces principais são fechadas em vidro, com esquadrias em alumínio. As paredes internas foram estruturadas em madeira armada nos dois pontos, com 3 cm de espessura e reforçadas por barras de aço. Junto com marceneiros artesãos da região, os fechamentos laterais dos quartos também foram feitos do mesmo material. "Eles parecem ‘costelas’ de barco”, destaca o arquiteto.
Leve e fácil de montar, a estrutura industrial e pré-fabricada atendeu a todas as necessidades do projeto arquitetônico. De acordo com o arquiteto, além do baixo custo, ela garantiu muita praticidade, pois toda a casa chegou em uma picape e nenhum caminhão foi utilizado para transporte de materiais.
O material estrutural oferece isolamento térmico e também acústico, graças a um sistema vertebrado que diminui o barulho da chuva caindo no metal. Além disso, as árvores representam o melhor isolamento térmico da casa Arca no verão. “A ventilação é cruzada porque nas duas faces de vidro as janelas maxim-ar se abrem, podendo permanecer assim durante a noite”.
Outra solução aplicada foi a rede metálica que se encontra nos vãos entre o deck e a estrutura ondulada. Por meio dela, o ar passa e sobe nas laterais, esfriando a construção. No topo, a estrutura tem dois exaustores passivos que giram o tempo todo, porque o ar quente está subindo.
Marko Brajovic destaca a leveza do projeto como diferencial. “A casa é como um organismo. Parece que ele aterrissou lá no meio e que pode ir embora a qualquer momento. Ela não modificou o perfil natural do terreno e nem fez nenhuma movimentação. Eu acho gentil essa relação com a natureza do entorno; esse conceito de nomadismo próprio da nossa geração, que permite montar, desmontar, poder mudar de lugar”, conclui.
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