Ao implantar o Edifício 1232 em um estreito lote de Curitiba (PR), o escritório Arquea Arquitetura analisou como poderia relacionar o espaço público com o particular sem tirar a privacidade interna dos moradores. Para isso, criou uma fachada aberta em camadas, que transmite uma rica relação entre ambos os espaços.
Os arquitetos Bernardo Richter, Fernando Caldeira de Lacerda e Pedro Amin Tavares, responsáveis pelo projeto arquitetônico, desenvolveram um prédio de apartamentos de apenas três pavimentos, que embeleza a região com sua proporcionalidade reduzida e simplicidade estrutural.
O programa de três pavimentos do edifício residencial conta com quatro apartamentos de um dormitório cada. Levando em consideração o lote enxuto, decidiu-se por aproveitar o térreo e transformá-lo em garagem, para que os proprietários não perdessem espaço interno. “Fazer um subsolo apenas para abrigar os carros ficaria muito caro. Metade do terreno seria uma rampa, então optamos como partido de projeto liberar o térreo”, explica o arquiteto Pedro Amin Tavares.
Para deixar a superfície livre e o estacionamento amplo, foram dispostos pilotis que liberaram o piso, onde o único elemento de concreto que se sobressai é a escada interna. “Esse espaço ficou muito bonito por ser superpermeável. As pessoas que passam na rua enxergam até a última planta do lote, até o final dele”, observa o sócio Fernando Caldeira sobre a visão ampla e descomprometida do local
Os outros dois pavimentos foram destinados aos apartamentos. O layout ficou divido em duas residências por andar – uma está localizada na fachada frontal e o outra, na posterior –, cada uma com cerca de 50 m².
Toda a divisão estrutural do Edifício 1232 é feita pelo átrio central, que organiza tanto a circulação vertical, onde está a escada e a passarela, como também ventila a área de serviço dos lofts. “Foi uma maneira de abrir, de ventilar e de iluminar, mas garantindo um pouco de privacidade dentro do miolo do prédio”, esclarece Caldeira
Para o arquiteto Tavares, o brise-soleil de madeira do átrio cria um jogo de luz e de sombra diferencial. “É superbacana: ele separa bem as áreas de serviço dos apartamentos das pessoas que estão passando pela área de circulação, ou que estão entrando por lá”, menciona.
O uso de brises também favorece a entrada de luz natural no edifício. “De dia, você não precisa acender a luz e, à noite, a iluminação é bem cênica”, frisa, ainda, o arquiteto.
Sobre os brises do fundo da edificação, Caldeira revela que só há um no dormitório, na parte mais próxima de onde pode ficar a cabaceira de cama, de modo a criar mais um filtro de luz. “Ali não tem tanta necessidade de privacidade, porque o fundo é bem mais privativo”, complementa.
O Edifício 1232 conecta-se sutilmente com a capital paranaense. Sua fachada, que fica voltada para a rua, é revestida em vidro e com brises móveis de madeira e cortinas, que permitem o contato dos moradores com o exterior sem tirar a privacidade interna, além de deixar a entrada mais leve e convidativa. Se preferir um estilo mais reservado, o morador pode fechar o brise e também a cortina, mas, dessa forma, pode acabar perdendo a relação de cidade-pessoa que o projeto tanto valoriza.
O edifício possui estrutura de concreto e alvenaria, com ênfase para o concreto, que foi utilizado na laje painel, que funciona bem para vãos grandes. “A laje foi construída de modo a ficar aparente, dispensando acabamentos, o que facilitou bastante o trabalho”, conta Caldeira.
É superbacana: ele [brise] separa bem as áreas de serviço dos apartamentos das pessoas que estão passando pela área de circulação, ou que estão entrando por lá Pedro Amin TavaresO arquiteto destaca, ainda, outra característica da laje: ela funciona como um meio plano e maciço. Para isso, os profissionais precisaram fazer uma viga de borda, tanto na fachada frontal como na posterior, dos fundos. “Isso deixou o edifício mais transparente. O projeto tem uma leveza maior nas fachadas, pois as vigas que travam ficam concentradas no pátio central”, completa.
Tavares explica que as plantas dos apartamentos são iguais, mas que possuem pés-direitos diferentes. “Isso é legal, porque são quatro apartamentos, e os quatro são diferentes um do outro”, ressalta.
Todas as divisórias internas são móveis ou feitas com drywall, garantindo flexibilidade para futuras mudanças que possam vir a acontecer no prédio, tornando-o, assim, uma arquitetura mais perene.
“Tentamos deixar a arquitetura como um pano de fundo, valorizando mais a transparência, a vegetação e o que as pessoas de fato usarão em seu dia a dia”, conclui o arquiteto Caldeira.
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