A estrutura arquitetônica da antiga residência mantém-se viva mesmo após a reforma que transformou o imóvel em ambiente comercial. As abóbodas na fachada, o contraste entre o tijolo e o concreto e até mesmo as alvenarias internas permanecem intactas. Esses traçados nortearam o restauro da nova clínica hospitalar.
"Não havia como negligenciar a arquitetura da casa, bastante arrojada para uma construção originária dos anos 1970. Portanto, partimos dessa identidade extremamente marcante para criar toda a contextualização dos demais elementos. Tivemos de reavaliar alguns trechos e, cuidadosamente, prever adaptações, mas basicamente toda a estrutura foi preservada", afirma o arquiteto Marco Donini.
O desafio, portanto, estava em reavaliar todos os aspectos práticos do programa, uma vez que a lógica residencial não sobreviveria ao novo uso, apenas suas características arquitetônicas.
A reforma englobou diversos aspectos: espaços amplos de trabalho, diversidade na circulação, proteções visuais, fluxos paralelos de veículos e funcionários, acessibilidade, iluminação adequada, revestimentos especiais, entre outros aspectos.
"A maior preocupação, com certeza, foi a mobilidade, pelo fato de se tornar um espaço 'público' e, também exigir uma rota de emergência entre a sala de procedimentos cirúrgicos e o pátio de estacionamento de ambulância. Além disso, existia o cuidado para localização e dimensionamento dos compartimentos envolvidos na atividade, como expurgo, esterilização de materiais, lixo hospitalar, etc", explica Francisco Zelesnikar, arquiteto.
A nova configuração ganhou forma. A maioria dos consultórios ocupou os antigos quartos, apropriando-se do avanço dos terraços. Já as salas de atendimentos com aparelhos tomaram os banheiros. Outro ponto levado em conta foram as aberturas limitadas oferecidas por esses espaços, o que era perfeito para esse tipo de atividade. Já a antiga sala de estar transformou-se na recepção e sala de espera. Por fim, as atividades mais técnicas e de serviço ficaram no subsolo.
"Apesar de a casa original ser repleta de escadas, foi necessário criar uma circulação vertical para ligar as áreas de serviço – instaladas no pavimento intermediário e subsolo – aos consultórios no último andar", complementa Francisco.
Outra condicionante do projeto estava em criar não apenas um espaço meramente hospitalar, mas atenuá-lo com paginações e decorações que instigassem a questão lúdica e aberta para o entorno, considerando que o local agrupa atividades distintas e recebe público diverso.
Como define Francisco, “A clínica lida com saúde e estética de ponta. Dessa forma, a escolha dos materiais deveria comunicar certo requinte, mas sem cair no óbvio, utilizando artigos dispendiosos para associar com luxo. Optamos por usar elementos que evidenciassem a criatividade e o desenho, através da articulação equilibrada entre tonalidades sutis, cores mais fortes, texturas naturais e, principalmente paginação inusitada. A soma de tudo isso fez do lugar um espaço incomum, gerando surpresa aos que visitam e amenizando o cotidiano dos que trabalham”.
Para sanar as necessidades térmicas e de iluminação, o projeto tirou proveito de brises de alumínio, quebrando, quando necessário, a incidência forte do sol no período da tarde. Marco afirma que se trata de um material leve, que acrescenta um elemento metálico ao conjunto constituído por tijolo e concreto. Ele fechou os antigos terraços, incorporando a proposta ao sistema tubular de aço corten.
“Os brises garantiram mais privacidade às salas de consultas e procedimentos. Por serem inevitáveis, unimos o útil ao agradável, escolhendo o que nos pareceu mais harmonioso e facilmente identificável externamente, pois sabíamos que seria o novo marco visual do imóvel”, conclui.
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