Instalada em um terreno de vegetação vasta e virgem, com um lago e árvores altivas – localizado na cidade serrana de Campos do Jordão (SP) – a Casa Campos se ergue, através dos grandes panos de vidro, de maneira a emoldurar esse entorno tão rico. “A morada mexe muito com a emoção das pessoas. Tem cara de momentos felizes”, define a arquiteta autora do projeto arquitetônico, Chantal Ficarelli, do escritório Arkitito.
O lote abrigava algumas construções, como um pequeno chalé anteriormente restaurado, a casa do caseiro e a casa maior – que foi demolida para dar lugar a outra totalmente nova. O partido inicial do projeto consistiu em setorizar uma ampla residência de 500 m² em um só bloco, em uma área com declive de aproximadamente cinco metros na direção do lago.
A morada mexe muito com a emoção das pessoas. Tem cara de momentos felizes Chantal FicarelliA premissa era implantar um programa que abrigasse e atendesse às necessidades do casal proprietário da Casa Campos em todas as épocas do ano – levando em consideração, sobretudo, que faz bastante frio na região. De acordo com Tito Ficarelli, arquiteto e também autor do projeto, a opção foi instalar uma área que oferecesse lazer à frente da casa. “Ela é uma continuação do lago e se volta totalmente para ele, constituindo o primeiro nível. Envolta por vidro, concentra uma piscina aquecida com 10 m de comprimento, um spa, uma churrasqueira e uma adega, porque os moradores são apreciadores de vinho”, explica.
O térreo da Casa Campos abriga o programa básico, com sala, cozinha e quartos, enquanto o mezanino tem um escritório, um pequeno salão com mesa de bilhar e um quarto de hóspedes – espaço que comporta também mais convidados informalmente. Um elevador, escondido no meia da geometria da morada, une os andares.
O arquiteto conta que foi preciso construir um muro de arrimo, para aproveitar o próprio desnível do terreno e não cavar a piscina. Dessa forma, junto com a caixa de vidro, o pé-direito alto de 6 m e o telhado inclinado de duas águas, as áreas da residência se comunicam pela frente que dá vista para o lago o tempo todo. “Ao mesmo tempo, cada volume tem a sua abertura, então é possível ter visuais específicos de cada andar”.
A Casa Campos parece um chalé, mas por dentro é uma construção moderna. De acordo com Tito, sua estrutura é toda metálica. “Seus 12 m de largura permitem que ela tenha esses vãos e esse tamanho de telhado. Tudo é bem plano e fino, e a estrutura ora é aparente, ora não. Em alguns momentos, a cobrimos com caixas de tijolo aparente para encobrir instalações hidráulicas e elétricas”, explica.
Chantal conta que a união das características do local com os materiais fez com que a morada ganhasse a linguagem que os clientes queriam, de rusticidade e aconchego. “Usamos muitos materiais na versão crua, desde a estrutura metálica – uma solução de rapidez e de esbeltez e que proporcionou a visão aberta, sem obstáculos como pilotis –, que foi pintada de uma cor meio oxidada para ficar com cara de metal, até os painéis de araucária, o tijolo sem acabamento e pintura, e as pedras naturais”, comenta.
Ela tem um quê de casa europeia e antiga, que conserva calor. Além disso, conta com duas lareiras que ajudam a aquecer os ambientes Tito FicarelliAlém disso, a madeira também tem força na residência. Pode ser vista em alguns caixilhos e na escada principal que desce do térreo para a área de lazer. Já o piso foi todo revestido em porcelanato com aparência oxidada, por ser um acabamento de alta durabilidade e fácil manutenção.
A transparência da residência destaca o vidro como o material predominante do projeto. A caixa de vidro que envolve a casa é praticamente toda fechada, apenas com saídas pelas laterais. “O vidro em si é fechado porque a casa encontra-se em uma região fria. Por isso ele tem sistema de calefação, que evita que o vidro não fique esfumaçado, mesmo sem abri-lo e fechá-lo. Dessa forma, os ambientes internos podem ter uma temperatura controlada”, detalha Tito.
A fachada de vidro da piscina tem a face voltada para o norte, por isso no inverno ela recebe mais insolação, esquenta e funciona quase como uma estufa. O telhado também recebeu mantas térmicas para segurar o calor e não desperdiçar energia. “Ela tem um quê de casa europeia e antiga, que conserva calor. Além disso, conta com duas lareiras que ajudam a aquecer os ambientes”, complementa.
O desenho do caixilho, delicado e reto, dispensa a mecânica de caixilhos convencionais, justamente para se impor como um quadro que emoldura a paisagem do entorno.
Instalada na parte mais enterrada da casa, a adega é um dos destaques do projeto. Ela fica próxima ao muro de arrimo por ser a área do lote mais fresca e úmida, ideal para a conservação dos vinhos.
Já a cozinha complementa a linguagem dos outros espaços, mas com o diferencial de ter o azul em sua composição. “O tom foi escolhido pela cliente, por remeter a lugares que ela conheceu no interior da França. Nessas regiões, eles usam muitos tons de verdes e azuis, com traços mais clássicos ou provençais”, conta Chantal.
Como a proprietária também é decoradora, uma grande coleção de objetos de arte de diferentes partes do mundo compõe o décor. “Em algumas paredes fizemos estantes para colocar os objetos. Para combinar, desenhamos um mobiliário exclusivo para cada espaço, mas que não aparenta ser ultraprojetado. Isso porque usamos linguagens diferentes para momentos diferentes”, complementa Tito.
Ambos os arquitetos acham a casa muito mais bonita ao vivo. “A sensação interna dela é muito melhor do que a fotografia pode mostrar”, ressalta o arquiteto. “Por ter um diálogo fluido com o terreno e ser gostosa e aconchegante, a residência tornou-se um lugar mágico, que conquista a todos”, conclui Chantal.
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