O projeto Atelier Aberto nasce de um pedido de uma artista plástica aos profissionais do escritório AR Arquitetos. Ela já possuía um ateliê, mas comprou um terreno para fazer um novo espaço localizado dentro de uma vila estreita, com construções comerciais e residenciais, e convivência simpática entre os moradores. “A ideia era tentar alargar essa rua, criando uma praça de entrada que proporcionasse uma visão do atelier desde a chegada na vila”, comenta a arquiteta Marina Acayaba.
Outro aspecto fundamental, que norteou a obra, foi a busca do mundo interior da artista, “representado por meio do microclima interno existente na construção, formado pelos pátios conectados através dos vidros internos”, afirma o arquiteto Juan Pablo Rosenberg. A partir desses critérios, há um exercício intenso na relação interior/ exterior e a sua materialização.
Questões como os limites (massa/opacidade) e a continuidade (abertura/transparência) foram exercitadas com a criação da praça semipública no recuo frontal do lote, que invade o ateliê como uma rua entre os edifícios e abre-se em uma ‘praça interna’, espaço para pintar.
Foram erguidos três volumes puros em concreto, que abrigam todo o programa funcional do ateliê – escritório, acervo, sala de preparo, serviço, copa, depósito e um mezanino de estar. Como a legislação da prefeitura determinava a ocupação do lote em 70%, por ser um uso misto, os arquitetos tiveram a ideia de, em vez de condensar esses 70% em um único volume, dispersá-los em três volumes, intercalados com pátios.
“São volumes fechados, caixas de concreto com brises de concreto muito herméticos, muito duros e primários. As formas geométricas estabelecem um limite quase impenetrável entre os blocos”, define Rosenberg. Cada um dos edifícios delimita a rua e a praça, criada como se fosse um galpão com cobertura leve (sanduíche), local onde a artista pinta. As paredes – quando abertas e transparentes – também exercem a função integradora. “Elas se abrem para pátios e jardins internos, desfazendo a fronteira entre interior e exterior, entre construção e sítio”, conta Marina.
Cada volume está atrelado a um programa. Um deles é o escritório da artista. O outro foi construído para a proprietária alugar, e o terceiro, é o de serviço. Em volta do atelier da artista há uma casca de estrutura metálica, que o distingue dos demais. “Esta maneira fragmentada de projetar reproduz a ideia da cidade dentro do lote”, brinca Rosenberg. “Então a cidade entra no espaço aberto e cada programa é um pequeno edifício que junta-se à praça”.
Já os pátios inseridos funcionam como paisagens, como momentos de descompressão. Longe de serem apenas espaços livres e simplesmente vazios, eles configuram salas a céu aberto. “Em todos os nossos projetos, inserimos esse pátio, que é uma sala externa que olha o céu e faz o recorte dele”, conta Marina. A ideia também complementa uma necessidade da própria metrópole onde o atelier está inserido, uma vez que em São Paulo o horizonte e a natureza são escassos.
Em um dos pátios com um jardim vertical um banco atravessa os volumes, percorrendo toda a extensão do lote. Primeiro ele marca a dimensão do local, depois colabora na fusão dos limites entre exterior/interior. “Ou seja, ele nasce dentro do ateliê, atravessa o pátio e morre dentro do outro ateliê”, conclui Marina.
Mas em cada lugar o banco assume um caráter diferente. “No escritório acaba virando um canto para colocar livro; no pátio é assento, e no ateliê, acomoda o quadro, a pintura ou mesmo o tanque de lavagem”.
A necessidade de ter uma luz natural tênue para pintar levou os arquitetos a projetarem a grande fachada olhando para o sul, cuja insolação oferece menos luz, criando uma iluminação suave para a artista pintar na parede oposta.
Nos momentos que não são da pintura, a construção também dispõe de uma luz difusa, mas através de um outro recurso um pouco mais teatral, que é a luz zenital. “Na escada há aquela luz que desce e lava a parede até se perder embaixo. De cima para baixo, a luz é muito bonita e enche o espaço de forma dramática”, descreve Marina. Como os volumes são soltos, cada um deles possui três faces, criando uma ventilação cruzada eficiente, que dispensa o uso do ar-condicionado.
O uso de materiais simples está evidente desde a fachada com porta de pé-direito duplo de ferro. Marina reforça que basicamente trabalhou-se o concreto, o vidro, o ferro, a vegetação, o seixo rolado na área externa e o paralelepípedo na entrada. Uma maneira de reforçar a busca constante da relação entre homem e natureza.
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